Autora: Cristina Sarraf
Surpresas da vida, ganhei da amiga H. Pires, o livro Arte de recomeçar, ditado por Léon Tolstoi para Cirinéia I. Maffei, cuja capa não me atraiu. Lembrou-me aqueles textos chorosos e endeusantes de Jesus.
Até por sugestão da amiga, veremos se há possibilidade do texto ser desse grande escritor…
Antes de dormir, comecei a ler e realmente havia o texto choroso, detalhista na dor do personagem, quase no estilo da menina dos fósforos, alguém em absoluto sofrimento e os demais vivendo felizes. Claro que não gostei, porque a Vida não é assim, mas prossegui.
Bom… até que Tolstoi escreveria assim…
Vencida essa dramática fase da história, a parte final foi brilhante e me agradou inteiramente: a situação dolorosa não precisaria ser como era; poderia ser melhorada, suavizada… porque o importante para resolvê-la não era o aspecto externo e disfuncional do personagem, e sim uma renovação nas atitudes e condutas.
Que coisa linda!
As demais histórias, todas nesse enfoque, foram desfilando personagens cheios de conceitos equivocados sobre a vida, o que lhes granjeou atos infelizes. Mas a cada um, direta ou indiretamente, Jesus ajudou a viverem em paz, sempre apoiados por pessoas valorosas, bastando apenas a renovação de algumas ideias e por consequência, a motivação de atos de melhor qualidade.
Que bela contribuição!
Com tanta gente fazendo de Jesus um chicote, com a exigência de tantas regras para a pessoa ser considerada de melhor qualidade, vem um livro mostrar que os entendimentos podem ser mudados, porque a dramaticidade de ter que nascer com defeitos físicos ou ser infeliz e desgraçado, porque cometeu erros, é apenas um ponto de vista, havendo outros. Porque a solução não é a autopunição e nem na punição divina, que não existe, mas sim o entendimento de que a justiça está em respeitar, invariavelmente, os direitos de cada um e sustentar-se nos seus deveres.
Como agradeço esse presente, hoje muito mais valioso, além de edificante e oportuno!
O estilo e a grandeza das ideias são de Tolstoi…
Dificuldades, dores, impedimentos e desgostos, como natural consequência do abuso e das viciações comportamentais, é o modo de funcionamento das leis da Vida. Sofrimento é a reação humana ao que desagrada e machuca. O que não faz de quem esteja nessa situação, um monstro, um condenado, para quem nada possa ir bem; e muito menos que não seja amparado pelas forças do Bem, em forma de pessoas amorosas e Espíritos amigos.
A visão dualista – só bom ou só ruim – e condenatória, não faz parte dos Princípios do Espiritismo, mas sim de filosofia religiosas, que a meu ver, visam com essa postura, ter e manter o domínio sobre as pessoas – os fiéis – jamais libertando-os consciencialmente. Senão, poderão encontrar o caminho do equilíbrio moral de forma diferente da que apontam…
Imaginar que alguém que nos traiu, ludibriou e prejudicou possa receber amparo e não precisa sofrer muito, sendo até ajudado por Jesus, deverá ser normal e até desejável, num futuro próximo… se nos dedicarmos a entender as leis da Vida!!!
Que o primeiro passo seja então, já que consideramos Jesus como modelo de conduta humana, entendermos mais profundamente suas lições. E isso se faz estudando os Princípios do Espiritismo, sem pôr nos textos de Kardec a nossa interpretação, mas aceitando-os como são.
A renovação de ideias que pode ter início, mudando conceitos arraigados, condicionamentos rígidos e um senso moral religioso, nos libertará dessas amarras e poderemos ver-nos, aos outros e a Vida, de forma mais amena, justa e construtiva.
O Bem e o Mal, ou seja, o Bem e a ausência total ou parcial do Bem, não dividem o mundo e as pessoas/Espíritos, em duas partes, como querem que seja, porque tanto um quanto outro estão em cada um de nós, sem exceção! Basta haver um bom motivo e já sobe aquele nosso “lado B”…. Depois, boas desculpas justificam tudo e continua-se arvorando em pessoas melhores, com direito de apontar o dedo para os piores…
Até quando? Até quando a imaturidade, os preconceitos e a prepotência ocuparem os melhores lugares dentro do coração. Ou até que a dor e o sofrimento cansem tanto que se resolva admitir que pode haver outro caminho, outro entendimento, outra forma de ser e outra solução.
Livre arbítrio, consequências naturais e agir com os outros como queremos que ajam conosco…
Do Espiritismo recebemos as melhores luzes. Seria bom que nos deixássemos iluminar primeiro, para depois cobrar a luz alheia.