Autor: Rogério Miguez
Quando estamos nos sentindo mal, cabeça pesada, nada dá certo, desânimo e apreensões à nossa volta, é muito comum nos apontarem a razão clássica para estes incertos momentos: deve haver algum “encosto” conosco, e a solução segue rápida e “infalível” – tomar passes!
Entre tantos ótimos conselhos, boas sugestões e pertinentes orientações possíveis, esta parece ser a fórmula mágica para solucionar qualquer problema, seja de qual ordem for. As muitas possibilidades apresentadas pela Doutrina para nos renovarmos, melhorarmos e evoluirmos ficam reduzidas a uma conduta ancestral presente desde nossas primeiras encarnações; é lei de Deus, não há dúvida, qual seja, a transferência de energias, uma inquestionável medida, mesmo que apenas provisoriamente tranquilizadora.
Entretanto, raros se lembram nestas horas, e podemos afirmar que a maioria desconhece, da existência de outra proposta espírita, muito mais eficaz, atingindo a raiz dos problemas. Referimo-nos a uma prática ao alcance de todos: a conversa direta com o nosso espírito protetor.
Invariavelmente temos ao seu lado, desde o momento da reencarnação e mesmo antes desse retorno, um Espírito designado por Deus para nos acompanhar em nosso processo evolutivo, entidade esta de maior envergadura moral, ética e intelectual, que, não fosse assim, não poderia ser nosso guia espiritual.
Quis a Divindade fôssemos e continuássemos a ser acompanhados por um Espírito previamente escolhido visando a ajudar-nos na conquista da melhora moral e intelectual ao longo de nossas existências.
Esta entidade está à nossa disposição e não nos perde de vista. Todavia, diminuta quantidade de espíritas lembramo-nos dela nos momentos de aflição e dúvida, quando os problemas parecem amontoar-se sobre nossas cabeças impedindo o continuar de nossa esperada caminhada rumo a Deus.
Não somos todos médiuns videntes, portanto, não vemos estes dedicados e valorosos Espíritos acompanhando-nos. Aliás, mesmo se fôssemos, raríssimos são aqueles a percebê-los ao lado; o fato, contudo, é que, mesmo não os enxergando, podemos registrar-lhes a presença ao serem chamados.
Há uma conduta muito simples, outro mecanismo divino, que permite entrar em contato mais direto com o nosso protetor: basta fazermos uma oração, no silêncio do nosso íntimo, sem necessidade de pronunciar palavras em alto e bom som, pois tais abnegados trabalhadores abraçaram a tarefa de nos ajudar e pelo pensamento respondem imediatamente, isto se antes já não estavam ao nosso lado, pacientes e solícitos escutando os diversos e aparentemente infindáveis reclamos.
Feita a oração, nascida de nossos corações, tomemos um livro de mensagens espíritas, desses com diversas abordagens de autoria de Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângelis, dentre tantos outros, e fixemos nossa atenção pensando detidamente no que está incomodando. Em seguida, “ao acaso”, com fé, abramos o livro.
É impressionante a quantidade de mensagens que se apresentam “ao acaso”, abordando diretamente a nossa particular questão. Muitas possuem, já no título, o tema em exame por nossas consciências. Geralmente, o texto, de imediato, é profundamente elucidativo, tratando com exatidão do que se passa conosco e propondo ações, providências, para fazer ou para deixar de fazer.
Nesta hora, precisamos ter o cuidado de ler com bastante atenção, pois o conteúdo é sempre muito útil, mesmo não que não percebamos de pronto sua aplicação em nosso particular momento. Sendo assim, perguntamos: Como se dá esta “coincidência” entre o que pensamos e o que surge como orientação e esclarecimento? Simples, o guia espiritual toma sutilmente de nossa mão, orienta-nos a escolher – se houver vários livros à disposição – um particular, fazendo-nos abrir na página necessária; ou então, pelo pensamento, repercute em nossa mente o momento de parar de folhear o livro e abrir nesta e não naquela outra mensagem. O protetor tem vários recursos para nos induzir a tomar o livro certo e abri-lo na parte mais apropriada. Concluímos desta forma não existir o acaso.
Ocorre, às vezes, que a mensagem não “diz” exatamente aquilo por nós desejado. Por exemplo, se estamos doentes, e sofrendo muito, gostaríamos de receber um texto passando a mão em nossas cabeças, apoiando-nos como se fôssemos injustiçados pela ordem divina, “reconhecendo” que, pobrezinhos de nós, talvez sejamos o último dos últimos, certamente não merecedores de tanto sofrimento. A mensagem, bem ao contrário, surge desafiadora, mostrando-nos ser a doença agora enfrentada o resultado de condutas distanciadas das leis de Deus, vivenciadas durante largo tempo, nesta, ou em outras vidas. Uma decepção, segundo o nosso acanhado e obtuso entendimento da mecânica da vida.
Nesta hora, é preciso ter muita firmeza para aceitar o “puxão de orelhas”, ponderando que somos sempre os artífices de nossas próprias mazelas. Será preciso reconhecer os erros cometidos, levantar os joelhos desconjuntados e retomar a marcha sempre avante em busca da perfeição.
Há também as mensagens vistas como enigmáticas, aquelas que, na aparência, não contém nenhuma menção sobre a nossa dúvida. Tais orientações não são raras e nos instigam a procurar seu significado ao que tudo indica oculto, mas que, quando esclarecido, se revela de um modo diverso daquele que imaginávamos. Nestes casos, é interessante voltar ao mesmo texto, meditando ao longo dos dias. Diz a prática que muito em breve reconheceremos a propriedade daquelas palavras, descobrindo então como o guia espiritual acertou ao sugerir-nos a ação a ser tomada, mesmo que diversa da nossa expectativa.
É nosso costume, quando em oração, formular o pedido, já pensando na resposta mais agradável. Isto ocorre devido a nossa óptica imediatista e limitada, pois não nos lembramos do passado e das promessas da erraticidade1, nada obstante, o protetor tem todas essas informações, por isso faz um ajuizamento mais apropriado que aquele que costumamos fazer, mostrando a realidade da vida, aquilo que de fato devemos atentar.
Fica assim a despretensiosa sugestão: oremos e escutemos através das mensagens o que os Espíritos protetores têm a dizer. Não nos preocupemos que os estejamos fatigando, pois eles estão hoje ao nosso lado e aí permanecerão até que aprendamos a andar pelas nossas próprias pernas, ou seja, através do uso consciente de nosso livre-arbítrio. Se os escutarmos, tanto melhor para nós.
1 Erraticidade: estado dos espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de suas diversas existências corpóreas (Allan Kardec no livro Instruções Práticas sobre as manifestações espíritas. Vocabulário espírita).