Autor: Rogério Miguez
A percepção intuitiva de que os falecidos continuam vivos é de tempos muito recuados. Além disso, a possibilidade de percepções do Plano Espiritual sempre foi oferecida à Humanidade, assim, muitos conseguiam vislumbrar, não só por se encontrarem temporariamente médiuns, mas também com os olhos da alma pelos fenômenos da dupla vista. Diante de tais visões, a certeza de que algo restava após a morte foi se fortalecendo em todas as culturas; tome-se como exemplo, os pagãos, com os seus rituais dedicados aos mortos. Afinal, faz sentido homenagear ou se reunir em memória de um ente querido, se houver a possibilidade de que ele continua, de alguma forma vivo.
Após séculos de rituais envolvendo os ainda vivos a relembrarem ou a homenagearem seus mortos, finalmente a bondade de Deus permitiu que esta Humanidade recebesse informações detalhadas sobre a realidade do mundo dos falecidos, e muito mais ainda, sabemos disto.
Esta revelação, ou consolidação do sentimento que tínhamos, embora intuitivo, se tornou realidade por meio da formalização do entendimento e da prática de como interagir com os mortos.
Tudo foi apresentado como resultado do esforço de um Espírito, francês de nascimento, que no século XIX, após alguns anos de estudos, observações e registros, consolidou o material aprendido, estruturando-o em uma obra de referência sobre os médiuns e a mediunidade: O livro dos médiuns.
A partir da publicação deste compêndio, a Humanidade adquiriu a condição de interagir com os mortos, diretamente e com segurança, sem qualquer subterfúgio, por meio de práticas simples à disposição de todos.
É de se notar que, antes do início das publicações dos livros compondo a Doutrina espírita, incluindo O livro dos médiuns, houve um extraordinário fenômeno que permitiu, embora de forma bastante rudimentar e cansativa, estabelecer conversações com as almas do outro mundo, utilizando, para tanto, pesadas mesas, muitas de boa madeira de lei, por meio de pancadas produzidas pelos seus pés obedecendo um código primário. Contudo, logo se concluiu que este método era improdutivo, principalmente quando se desejava estabelecer longos discursos.
Após algumas tentativas e adaptações para melhorar este incipiente meio de comunicação, chegou-se à conclusão de que a melhor forma de dialogar com estas entidades era incentivando-as a escreverem diretamente pelas próprias mãos daqueles que possuíam a capacidade de estabelecer estes contatos, os médiuns.
Mensagens e relatos fluíram, a partir de então, em um turbilhão de informações ditadas por aqueles que se supunham mortos.
As práticas espíritas, permitiram e permitem que conversemos com os finados em reuniões organizadas especificamente com este propósito, em instituições cujo objetivo maior é o de divulgar o Espiritismo.
Entretanto, nem todos têm acesso aos poucos grupos mediúnicos espalhados pelo mundo, considerando a totalidade da população mundial e o reduzido número de espíritas, para solicitar ao vivo e a cores testemunhos de seus entes queridos, pois é preciso ter se preparado com muito cuidado por meio do estudo e aquisição de conhecimentos específicos sobre a atividade mediúnica.
Então como fazer!? Há outras formas para estabelecer estes contatos?
Felizmente sim, senão, colóquios com os mortos só poderiam ocorrer em salas mediúnicas.
Um outra opção seria desenvolvendo o sentido íntimo.
Infelizmente, a maioria esmagadora ainda não despertou as potências da alma, e precisariam conhecer obras de Léon Denis quando afirma:
Já dissemos que muitas pessoas têm, sem o saberem, a possibilidade de comunicar com seus amigos do espaço por intermédio do sentido íntimo. Nesse grupo estão as almas verdadeiramente religiosas, isto é, idealizadas, em que as provações, os sofrimentos e uma longa preparação moral apuraram os sentidos sutis, tornando-os mais sensíveis às vibrações dos pensamentos externos. […]1 (Grifo nosso).
Interessante destacar que o filósofo do Espiritismo, um dos veros continuadores da obra espírita em conjunto com Gabriel Delanne, exatamente por ser conhecido como um “Homem de Bem”, viveu a experiência de receber pedidos de aflitos de toda a ordem, de modo a ajudá-los na obtenção de revelações ou mensagens do Além. Diante destas solicitações, sugeria esta sábia recomendação, que, por experiência própria já sabia funcionar:
[…] Concentrai-vos – dizia-lhes eu – em retiro e no silêncio; elevai os pensamentos para Deus; chamai o vosso Espírito protetor, o guia tutelar, que Deus nos dá para a viagem da vida. Interrogai-o sobre as questões que vos preocupam, desde que sejam dignas dele, livres de todo o interesse vil; depois, esperai! Escutai em vós mesmos, atentamente, e, ao cabo de um instante, ouvireis nas profundezas de vossa consciência como que o eco enfraquecido de uma voz longínqua ou, antes, percebereis as vibrações de um pensamento misterioso que expulsará vossas dúvidas, dissipará vossas angústias, embalar-vos-á e consolará.2
Como não somos todos médiuns videntes, ou possuímos a vista da alma de modo generalizado, não vemos propriamente dito estes dedicados e valorosos Espíritos acompanhando-nos, ao nosso lado. Aliás, mesmo se possuíssemos faculdades mediúnicas acentuadas, definição apropriada do médium, raríssimos são aqueles a percebê-los ao seu lado; o fato, contudo, é que, mesmo não os enxergando, podemos registrar-lhes a presença ao serem chamados, escutando-os, através do desenvolvimento de nossa capacidade de melhor captar as suas muitas intuições, pelo exercício continuado do recolhimento íntimo.
Esta recomendação de Léon Denis foi feita no sentido de conversar com o Espírito protetor, também Espírito de um morto. Sendo assim, percebem-se duas possibilidades aplicadas ao nosso caso em estudo:
- Podemos entrar em contato com o Espírito protetor e indagar sobre os particulares mortos de nosso interesse; ou
- Podemos tentar estabelecer comunicação direta com os mortos, sem intermediários, contudo, deve-se atentar para o fato de que os Espíritos só comparecem se estiverem em plenas condições para tanto; em outras palavras, não poderemos estabelecer comunicação mental com os mortos pelo simples desejo de fazê-lo.
Por outro lado, como nos emancipamos durante todas as noites, e sempre que dormimos – é Lei de Deus -, enquanto o corpo descansa, podemos solicitar aos protetores para, se for útil para ambos os lados, providenciar um encontro, mesmo breve, entre o nosso querido e afeiçoado falecido, e nós mesmos.
Para tanto, também é preciso certo recolhimento íntimo, uma preparação continuada no cotidiano, de preferência com atividades nobres de ajuda ao próximo, leituras, estudos, condutas éticas e moralizadas, mantendo a mente sintonizada com os protetores. E, por qual razão se sugere estas atitudes, por conta de outra Lei Divina que é a do merecimento.
Sempre que pedirmos algo para Deus, a rogativa deve ser fundamentada para realizar tal pedido e esta base é construída pelo bem proceder, quanto mais fizermos pelo próximo, mais consistente é a nossa súplica, esta é uma lei geral.
Assim, à noite, quando estivermos nos preparando para dormir, oremos com fé e sinceridade e nesta oração peçamos ao nosso anjo da guarda ou diretamente a Deus para, se possível, nos permitir entrar em contato com o nosso ente querido, seja um familiar ou não. É preciso também ter bom senso no sentido de que não será através de um simples pedido que esta graça poderá ser concedida. Devemos orar com continuidade, e aguardar com muita fé.
Relatos dos que conseguiram entrar em contato com entes queridos mortos, afirmam que guardaram reminiscências deste contato, lembrando-se vagamente do Espírito querido, ou acordaram com seus corações mais tranquilizados. Cada qual terá impressões pessoais destes encontros no Plano Espiritual, caso ocorram.
Finalmente, ainda há mais uma possibilidade vislumbrada no momento.
Como enfatizado anteriormente, podemos conversar mentalmente direto com o Espírito protetor. Entretanto, existe outra forma de receber informes, orientações, sugestões destas abnegadas entidades. E esta prática também está ao alcance de todos.
Há uma conduta muito simples, outro mecanismo divino, permitindo entrar em contato mais direto com o nosso protetor: basta fazermos uma oração, no silêncio do nosso íntimo, sem necessidade de pronunciar palavras em alto e bom som, pois tais abnegados trabalhadores abraçaram a tarefa de nos ajudar e, pelo pensamento, respondem imediatamente, isto se antes mesmo do pedido já não estavam ao nosso lado, pacientes e solícitos escutando os diversos e aparentemente infindáveis reclamos.
Feita a oração, nascida de nossos corações, tomemos um livro de mensagens espíritas, desses com diversas abordagens, de autoria de Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângelis, dentre tantos outros, e fixemos nossa atenção pensando detidamente no que desejamos. Em seguida, ao acaso, mas com fé, abramos o livro.
É impressionante a quantidade de mensagens que se apresentam ao acaso, abordando diretamente a nossa particular questão. É possível receber uma orientação relativa ao caso em questão, ou seja, informes sobre os nossos mortos. A mensagem, inclusive, pode ser uma direta comunicação do ente querido, que estará sob supervisão de outras entidades mais evoluídas, abordando um tema que seja de conhecimento comum, da época em estávamos juntos na Terra, para nos demonstrar que eles se encontram muito vivos e no local.
E sobre o tradicional Dia de Finados?
Poderíamos iniciar lembrando que o morto está morto, o ano inteiro… Sendo assim, por qual razão nos lembrarmos dele apenas em um especial dia do ano!?
A nossa lembrança pode ser feita a qualquer dia e horário. Caso mantenhamos contato regular pelo pensamento com os nossos entes queridos, não há razão para, no dia especial de Finados, ir aos cemitérios, onde, de modo geral, lá não se encontram.
Pelas sugestões apresentadas é possível tentar manter contato com os ditos mortos sempre que a saudade apertar, e, em princípio, não há contraindicação ao uso destas práticas com o poder de nos colocar em contato com eles, exceto, se por conta de nossa ansiedade e tristeza, insistirmos, constantemente, em estabelecer estes colóquios, pois os mortos também precisam de descanso, paz de espírito, de modo a se reintegrarem novamente ao Plano Espiritual, se preparando para um futuro retorno à matéria.
A propósito, muito cuidado na busca de cartas consoladoras. Há muita leviandade nestas atividades, algumas conduzidas por supostos médiuns afirmando possuírem a capacidade de trazer mensagens dos mortos aos seus aflitos familiares encarnados.
Estão assim apresentadas as despretensiosas sugestões sobre o tema: oremos e escutemos através das mensagens e em nosso íntimo, o que os Espíritos têm a nos falar.
Já foi dito que a vida continua. Sendo assim, mais cedo ou mais tarde estaremos de novo com eles, ao nosso lado. Enquanto este dia não chega, aprendamos a nos tranquilizar, mantendo-os bem vivos em nossos corações e mentes, hoje e sempre.
Referências
1 DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB. 3ª pt., cap. 21 – A consciência. O sentido íntimo.
2 DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB. 3ª pt., cap. 21 – A consciência. O sentido íntimo.