Autor: Jorge Leite de Oliveira
Conhecida na antiguidade como melancolia, a depressão, em nosso tempo, tem sido o grande mal da humanidade. A melhor terapia para essa doença milenar é a do amor, e o melhor terapeuta é Jesus. Entretanto, muitas vezes, é imprescindível o acompanhamento médico e espiritual simultâneo.
O ser humano é um composto biopsicossocial espiritual. Por isso mesmo, a depressão vem sendo atribuída a quatro causas, em geral, associadas: biológica, psicológica, social e espiritual. A seguir, vamos observar como cada causa se manifesta e quais terapêuticas são indicadas para o seu controle.
1ª – Causa biológica ou orgânica: Acredita-se que algumas pessoas nasçam geneticamente com deficiência orgânica. Outras adquirem doenças crônicas que também levam à depressão, como a Aids, o câncer, a obesidade, a artrite etc.
O tratamento, nesses casos, deve ser feito por um psiquiatra, que procurará suprir a deficiência de serotonina do paciente, com base em antidepressivos. Essas pessoas necessitam, também, de um acompanhamento psicológico, clínico e, portanto, devem seguir à risca as recomendações médicas.
2ª – Causa social: O sedentarismo, a solidão, entre outras causas sociais podem levar a pessoa a sentir-se desprezada pela sociedade e passar a se sentir inútil, desmotivada, profundamente triste.
O melhor tratamento para a melancolia, nesses casos, é a atividade física. A caminhada diária de trinta minutos, a corrida competitiva ou leve, de acordo com as condições físicas e gosto individual, a dança, os exercícios leves da academia, ao menos três vezes na semana, são ótimas terapias para essas pessoas. Ainda assim, se o problema se agravar, também nesse, como em outros casos, a terapia psicológica e/ou psiquiátrica é indispensável.
Por vezes, é necessário saber dizer não
3ª – Causa psicológica: a morte de um ser querido, a perda de um bom emprego, a separação de um casal, abusos sexuais, entre outros acontecimentos podem levar a pessoa a distúrbios psicológicos. Além desses, há outros problemas, como o estresse, resultante de acúmulo de atividades, a necessidade de ser aceito, o perfeccionismo e a ansiedade.
Quando um casal se separa, em especial por não mais haver atração sexual de um parceiro ou parceira, a angústia e as consequências provenientes de tal situação podem se tornar insuportáveis. Os reflexos atingem, inclusive, os próprios filhos, quando os há. É por isso que existe o namoro, para que as pessoas se conheçam muito bem, antes de assumir uma relação estável. Aliado a isso, é preciso saber conviver, havendo necessidade, por vezes, de um dos membros do casal renunciar a certos caprichos, em benefício do outro.
O diálogo, a troca diária de afetos, a compreensão, a renúncia e a tolerância, entre outras qualidades positivas, provenientes do amor, são fundamentais a uma vida familiar permanente.
Com relação ao estresse, é preciso lembrar que não podemos assumir compromissos maiores do que o permitam nossas forças realizarem. Por vezes, é necessário saber dizer não, sem com isso melindrar ou ofender os que nos pedem um favor ou serviço. Há pessoas que, pela necessidade sentida de serem aceitas, nada recusam, embora nem sempre deem conta de atender ao que lhe é solicitado. Com isso, deprimem-se.
Outras pessoas, atentas às recomendações de Jesus de serem perfeitas, começam a se comparar com os grandes missionários e santos. Ora, quando Jesus nos recomenda: “Sede perfeitos”, Ele sabe, melhor do que ninguém, o quanto é importante dar “um passo de cada vez”, pois se corrermos muito, por estradas acidentadas, poderemos levar um tombo tão grande que venhamos a ter dificuldade de nos reerguer.
Qualquer pessoa pode ser vítima de um obsessor
Foi por isso que Kardec escreveu esta frase: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (KARDEC, 2008, cap. XVII, it. 4). Ele não disse que devemos nos santificar de uma hora para outra e, sim, que devemos nos esforçar para sermos sempre melhores.
A ansiedade é outra dificuldade a ser superada por nós no combate à causa psicológica da depressão. Há pessoas que passam de uma atividade a outra, mal começam a anterior, acabando por esquecer ou concluir com atraso ou imperfeição quase tudo o que fazem. É preciso nos autoconhecermos, como consta na questão 919 de O Livro dos Espíritos, a fim de agirmos com equilíbrio e bom senso em tudo o que façamos no cotidiano da vida. Devemos ter horário para tudo: para o estudo, para o trabalho, para os exercícios físicos e para a oração e a meditação. Sem isso, nossa vida mental se torna um “inferno”.
4ª – Causa espiritual. As imperfeições morais que trazemos impressas em nosso campo mental nos levam a desprezar a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação”. Tais defeitos têm como base principal o egoísmo, donde provêm todas as demais imperfeições de cada um de nós, como o orgulho, a vaidade, o ciúme, a inveja, a cupidez, a sensualidade e as paixões negativas.
Qualquer pessoa pode ser vítima de um obsessor, pois, segundo a resposta de um Espírito a Allan Kardec, “os Espíritos influenciam nossos pensamentos e atos muito mais do que supomos, pois, de ordinário, são eles que nos dirigem” (KARDEC, 2006, q. 459).
Também qualquer pessoa pode ter, sempre, a companhia dos bons Espíritos, que neutralizam a influência dos maus. Basta pensar e agir sempre no bem. “Sede sempre bons e só tereis Espíritos bons ao vosso lado” (KARDEC, 2009, cap. 9, it. 13).
Mas a obsessão pode variar do tipo simples à subjugação, conforme consta n’O Livro dos Médiuns (Kardec, 2009, cap. 9).
A fascinação é um tipo de obsessão muito perigoso
Na obsessão simples, a pessoa sabe que está sob a influência de um “Espírito mentiroso”, que “não se disfarça, nem dissimula de forma alguma suas más intenções e seu propósito de contrariar”. A entidade maléfica pode ser afastada pelo próprio obsidiado, modificando seus hábitos mentais negativos e pondo em Deus toda a sua confiança. A terapia do amor ao próximo, do estudo das obras básicas de Allan Kardec e da atuação permanente no bem é altamente eficaz, tanto para o obsessor, quanto para o obsidiado, propiciando a ambos sua elevação moral.
A fascinação é um tipo de obsessão muito mais perigoso. “É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa forma, paralisa a sua capacidade de julgar as comunicações” (KARDEC, 2009, p. 389, it. 239). O fascinado não se acredita tapeado, pelo contrário, crê cegamente no Espírito que o obsidia e repele aquelas pessoas que lhe tentam abrir os olhos. A terapia do amor, com orações e desobsessão a distância são recursos apropriados a tal caso.
Por fim, a subjugação “paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir contra a sua vontade”. Para maiores esclarecimentos sobre esse grave assunto, remetemos o leitor amigo ao cap. XXIII d’O Livro dos Médiuns, onde poderá se esclarecer com mais profundidade.
As causas da obsessão podem variar do simples desejo de fazer o mal a uma vingança à pessoa que ofendeu o Espírito obsessor nessa ou em outra existência física.
Mas além da influência negativa dos Espíritos, em nossas mentes, podemos estar sujeitos às influências morais provenientes de nossas próprias condutas, o que caracterizaria a chamada auto-obsessão.
A terapia para essas causas, que levam à depressão do desajustado espiritual, ainda é a “terapia do amor”, que se faz por meio dos tratamentos desobsessivos nos centros espíritas, nos chamados “grupos de desobsessão”. Para tal, quando o desajustado não é capaz, por si mesmo, de identificar ou de se livrar das influências negativas, é importante que seus familiares ou amigos o conduzam, amorosamente, às reuniões desses grupos.
A melhor terapia é a da vontade de se curar
O obsidiado deve ficar sentado, ou mesmo deitado, se houver acomodação para isso, em sala destinada ao seu tratamento espiritual e não deve tomar parte, de modo algum, como médium ou mesmo assistente comum à reunião. É alguém em tratamento espiritual, não em trabalho. Concomitantemente, ao final da reunião, o dirigente do grupo deve recomendar seu acompanhamento psiquiátrico, uma vez que seus órgãos psíquicos e físicos podem também estar afetados. Se o paciente não pode comparecer ao grupo mediúnico, seu tratamento desobsessivo e espiritual pode ser feito a distância.
É de muita utilidade, na terapia das depressões provenientes de desajustes espirituais, a chamada passeterapia, ou seja, o tratamento pelos passes. Outra recomendação útil, ao reequilíbrio, bem como à manutenção de nossa saúde mental, é a prática semanal do culto do Evangelho no lar. Imprescindível, ainda, é o estudo permanente das obras da Codificação Espírita e de obras subsidiárias, como as psicografadas por Divaldo Pereira Franco, ditadas pelos Espíritos Joanna de Ângelis e Manoel Philomeno de Miranda, fundamentais ao reequilíbrio espiritual das vítimas da depressão.
Em nenhum dos quatro tipos de depressão citados acima, o enfermo deve deixar de buscar o atendimento médico especializado, mormente quando sua situação se tornou insuportável. A melhor terapia é a da vontade de se curar. Mas é preciso que a pessoa, ou, nos casos mais graves, um amigo ou parente busque em Jesus e na Doutrina Espírita os suportes para o reequilíbrio biopsicossocial espiritual do deprimido.
Isso significa esforçar-se para ter bons pensamentos, buscar incessantemente o trabalho no bem, manter sua mente ocupada com boas leituras e ideais elevados, praticar atividades físicas regularmente, tais como a dança, a caminhada e os exercícios corporais saudáveis. Seja feliz, mas não exagere em nada. Desse modo, com toda a certeza, sua melancolia estará a caminho da cura.
Referências
FEITOSA, Nazareno. Depressão: causas, consequências e a terapia do amor. Palestra espírita. CD s.d.
FRANCO, Divaldo Pereira. Conflitos existenciais. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2005.
______. Jesus e o evangelho à luz da psicologia profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2000.
______. Loucura e obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 12. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2011.
_____. Sexo e obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 8. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2013.
______. A obsessão: instalação e cura. Organizada por Adilson Pugliese. 3. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 1998.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008.
______. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006. Ed. comemorativa.
______. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009.
O consolador – Ano 8 – N 360 – Especial