Autor: Rogério Miguez
1- Sempre houve calamidades
A nossa História é pontilhada por desastres climáticos, geológicos, doenças enigmáticas e conflitos bélicos. Terremotos, incêndios de grandes proporções, tsunamis, pragas, pestes, guerras… são apenas alguns exemplos dos chamados desastres naturais ou provocados, que causam devastação e morte, isso ajuizando os efeitos materiais, pois decorrem deles também imensas consequências morais.
Forças da Natureza ainda incontroláveis pelo homem, governadas por leis imutáveis criadas por Deus, regendo o comportamento da Terra, estão por trás dos cataclismos naturais, gerando medo e pavor em muitos – crentes ou descrentes em Deus.
Na antiguidade, esses flagelos provocavam imenso temor e pânico para os frágeis humanos, ignorantes dos mecanismos controladores dessas forças naturais, totalmente imprevisíveis e descontroladas, com o passar do tempo, ainda geram apreensão e ansiedade, contudo, a compreensão hoje em dia das causas destas chamadas catástrofes estão sendo mais bem conhecidas e, por meio de estudos e pesquisas cada vez mais avançados, o homem, usando a sua inteligência, descobriu pouco a pouco como se defender e tratar, mesmo parcialmente, com estas agora não tão inesperadas calamidades.
2- Por quais razões acontecem tantas calamidades?
Hoje, graças ao advento da Terceira Revelação – a Doutrina Espírita -, sabemos por quais razões o Criador permite que esses mecanismos saneadores, atingindo a Humanidade em larga escala, aconteçam com certa regularidade e por meio de variadas formas. Entretanto, com que fim Deus castiga a Humanidade por meio de flagelos destruidores?
“Para fazê-la progredir mais depressa. […]”1
Acelerar o progresso, este é o sábio objetivo de Deus ao permitir que, por meio de suas imutáveis leis físicas controladoras da Natureza, sejamos atingidos pelas assim denominadas calamidades.
Mas, efetivamente, como esse progresso se materializa:
Para o homem, os flagelos não seriam também provações morais, ao fazerem que ele se defronte com as mais aflitivas necessidades?
“Os flagelos são provas que dão ao homem oportunidade de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus, permitindo-lhe manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, caso o egoísmo não o domine.”2
3- Como podemos identificar estes esperados progressos?
Pela resposta dos Luminares, observam-se três mecanismos onde se pode compreender o modo como esse progresso ocorre:
a. Dão ao homem oportunidade de exercitar a sua inteligência – Como exemplo significativo deste exercício, pode-se tomar o Japão como um caso direto desse objetivo. Avançadas tecnologias de engenharia civil desenvolvidas há anos pelos japoneses visam minimizar os prejuízos materiais e mortes causados pelos desastres naturais, frequentes naquele arquipélago do pacífico. Hoje, muitas edificações continuam integras naquele país, após significativos abalos sísmicos, graças a dispositivos engenhosamente elaborados e instalados nessas estruturas, sendo considerado o país mais bem preparado para suportar terremotos. Não temos controle sobre as condições interiores da Terra – magma e placas tectônicas -, mas quando elas nos surpreendem, por meio de vulcões e terremotos, e isso faz parte do processo evolutivo, nos dão a oportunidade de trabalhar mais a nossa inteligência visando lidar e atenuar os seus efeitos devastadores.
b. Dão ao homem oportunidade de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus – Pode-se tomar o Brasil como exemplo concreto desse objetivo. O povo brasileiro, após a ocorrência de catástrofes naturais, dá depoimentos onde expressam, caso sejam crentes, a confiança em Deus, sem condená-lo por conta das perdas materiais e mesmo humanas, comuns após episódios deste tipo. Afirmam também, geralmente, que vão se recuperar e começar tudo de novo. Agindo assim, o homem progride moralmente.
c. Dão ao homem oportunidade de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, caso o egoísmo não o domine – Mais uma vez, o Brasil pode ser usado com modelo. O povo, diante de catástrofes, se movimenta de variadas formas para auxiliar e apoiar os atingidos pelas calamidades, patenteando a solidariedade, compaixão e a piedade. Agindo assim, o homem progride moralmente. Infelizmente, só não se manifestam, como bem destacado na resposta dos Espíritos, os egoístas. Os últimos se contentam em destacar – confortavelmente sentados em suas poltronas -, a responsabilidade dos administradores municipais, estaduais e federais, como únicos culpados pelas consequências consideradas catastróficas desses fenômenos.
4- Alguém morreu antes da hora?
Há outra linha de questionamento trazendo certo desconforto quando se busca explicar as muitas mortes ocorridas nestes cataclismos: Haveria mortes ocasionais? Quem estava no local, talvez desavisado, foi surpreendido pelo acaso?
De início, destacamos que o espírita está muito bem informado sobre a inexistência do acaso, sendo assim, não é possível ocorrer uma morte acidental. Contudo, a grande maioria desconhece os postulados espíritas, desta forma, para fornecer uma rápida explicação, não podemos admitir, pela razão, que Deus não tenha controle sobre sua criação, afinal, Ele não é onipresente, onipotente e onisciente? Se Ele é detentor desses três atributos, entre outros, não se pode jamais imaginar alguém morrendo inesperadamente, em resultado de estar na hora, dia e local errados, como se diz no dia a dia: foi azar, ou pior, foi uma fatalidade! E mais, a morte nos alcançará mais cedo ou mais tarde, seja por um flagelo ou por outra causa qualquer, ninguém se esquiva dela.
A literatura espírita é rica em exemplos nos auxiliando na construção da resposta à esta outra indagação.
Há algumas décadas, particularmente em 17/12/1961, houve um incêndio em um circo na cidade de Niterói.É fato pouco conhecido que o médium fluminense Raul Teixeira, então um jovem niteroiense, com doze anos, católico, ainda longe de suas lides espíritas, havia adquirido ingresso para, junto como alguns outros amigos, assistirem à apresentação do Gran Circus Norte-Americano, naquela tarde de domingo. Devido ao atraso de seu pai no retorno do trabalho, responsável por levá-lo ao espetáculo, ele não pode comparecer a tempo, escapando da morte certa, mas não seus amigos. Neste caso, compreendemos que quando não chegou a hora, ninguém morre.3
Àqueles interessados em mais detalhes sobre essa chamada desgraça, sugerimos a leitura da mensagem Tragédia no circo.4
5- O magnetismo
Outro aparente enigma é saber como as pessoas que tiveram suas existências interrompidas foram reunidas na mesma hora, dia e local de forma, aparentemente fortuita, para juntas passarem pela mesma experiência onde aconteceram os chamados desastres?
Em resposta a esta dúvida, lembramos que o Espiritismo e o Magnetismo são ciências irmãs, afirmou Allan Kardec, como nesta passagem:
O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma porção de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu uma infinidade de fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma só é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque, ao mostrar a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas Leis da Natureza e o que não passa de uma crença ridícula.5
É o magnetismo que explica como pessoas totalmente estranhas entre si, morando em diversos pontos do Globo, decidem, por exemplo, viajar para a Tailândia e se hospedar em um resort de luxo localizado em Phuket, exatamente nos dias em que ocorreu o devastador tsunami responsável por ceifar mais de 200.000 vidas em várias regiões da Ásia. Algumas, reencarnaram sabendo que, possivelmente, morreriam afogadas, outras não, e, não fazendo nada para alterar o rumo dessa expiação, foram capturadas pelas leis do magnetismo e levadas a decidir viajar justamente naquela época e para aquela determinada região. Em relação aos habitantes locais foram, ao longo do tempo, se estabelecendo na região, por força do mesmo magnetismo.
A obra Transição Planetária traz informação pertinente ao abordar exatamente a visão espírita sobre o tsunami de 2004:
Curiosamente ampliou os esclarecimentos, informando que os ocidentais em férias que se fizeram vítimas, mantinham profunda ligação emocional com aquele povo e foram atraídos por forças magnéticas para resgatar, na ocasião, velhos compromissos que lhes pesavam na economia moral.
— Nada acontece, sem os alicerces da causalidade! — concluiu.6
6- A Natureza não escolhe o tipo e local da calamidade
Outro aspecto muito pertinente a se destacar nessa breve análise, se prende a forma como as pessoas enxergam esses cataclismos, referenciando os mesmos por meio de expressões como: Onda assassina – Fúria dos oceanos – Tsunami da morte e destruição – A ira da Terra expeliu línguas de fogo – Ventos traiçoeiros – Chuvas inclementes…, quando a Natureza não tem virtudes nem vícios, não possui nenhuma predileção ou preferência, é totalmente neutra, age ou reage conforme o homem vive na Terra, pois as leis físicas são imutáveis e funcionam de acordo com as condições ambientais que criamos na superfície do planeta.
7- O homem e a Natureza
E, nessa hora, oportunamente, indagamos: Como lidar com a Natureza se muitos até agora, em pleno século XXI, não creem que, em função da forma como estamos vivendo, o seu equilíbrio está sendo desestabilizado? E, como resposta, temos, por exemplo, tempestades anormais com ventos jamais vistos!?
Os Polos estão derretendo e o que fazemos? Aquecemos mais ainda o planeta queimando com volúpia matas e florestas, sem a mínima consciência e remorso de que toda a vegetação existente no orbe é obra de Deus, não nos pertence em última instância, ela existe para nos ajudar a bem viver nessa morada do Pai e o homem, em total desconsideração e descaso, mesmo se auto declarando religioso, destrói sistematicamente os recursos que a Terra oferece para que vivamos em equilíbrio, muitas vezes visando aumentar lucros pela insaciável exploração das valiosas riquezas do planeta.
Perguntamos, afinal, quem de fato é o Flagelo destruidor da Terra: A Natureza, ou o homem? No passado, Átila ganhou a alcunha – O flagelo de Deus! Certamente, não de Deus, mas o Rei dos Hunos fez-se flagelo da humanidade por si mesmo.
8- Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza
É bem conhecido o chamado milagre ocorrido no Mar da Galileia quando Jesus acalmou as águas e dominou os ventos. Uma das possibilidades explicando este insólito evento foi a ação maciça de milhares de Espíritos atuando de forma coordenada sobre os elementos atmosféricos – temperatura, umidade, radiação solar e pressão atmosférica -, conforme este texto:
Na produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é apenas um Espírito que age, ou eles se reúnem em massa para produzi-lo?
“Reúnem-se em massas inumeráveis.”7
É fato que os Espíritos não agem por conta própria quando atuam na forma como se comporta a Natureza, seguem sempre a sábia vontade do Criador.
9- Deus não é vingativo
No passado, foi comum o entendimento de que por conta dos possíveis pecados cometidos, a divindade promovia castigos aos pecadores por meio de cataclismos.
Sabemos que Deus é sinônimo de amor, além disso, Jesus nos fez vê-Lo na posição de Pai de todos, e não mais uma entidade vingativa como era aceita nos tempos bíblicos. Tudo mudou a partir da mensagem do Evangelho. Desta forma, não se compreendem mais as catástrofes climáticas como um elemento de punição do Amor Infinito.
Por outro lado, a dor e a aflição fazem parte do processo evolutivo.
A humanidade precisa urgentemente mudar, superando as condutas egoístas e orgulhosas que caracterizam os habitantes da Terra, caso contrário, as calamidades se manterão, mas não com o objetivo de punir os pecadores, mas com a nobre função da educação de almas que insistem em ferir com a espada.
A misericórdia divina sempre atua para facilitar o nosso processo evolutivo e, quanto mais rápido nos alinharmos com as diretrizes de Deus, mais cedo a Terra migrará de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, pois ela também evolui, estado desejado por todos os que almejam uma vida melhor em paz e harmonia.
10- Por que há tantas mortes?
Diz-se que começamos a morrer a partir do momento do nascimento, sendo assim, a morte é certa para todos. Entretanto, questiona-se por qual razão seria preciso ocorrer tantas mortes para se promover o progresso do orbe.
É uma questão recorrente, típica de pessoas que não aceitam ou não compreendem a continuidade da vida, a imortalidade da alma, a reencarnação, enxergando na morte um fato definitivo gerador apenas de tristeza, pesar e destruição.
Caso refletissem um pouco concluiriam: Deus não pode desejar o sofrimento de suas criaturas, principalmente, daquelas que permaneceram vivas após a passagem dos cataclismos e desastres, conduzindo os entes queridos para o lado escuro da morte.
Estaríamos mais tranquilos se pudéssemos entender que estas desencarnações em massa, encerram apenas um ciclo de aprendizado para todos os envolvidos. São os chamados resgates coletivos, mecanismo divino frequentemente utilizado para sanear uma região dos habitantes que insistem em se conduzir fora do fazer ao próximo como a si mesmo.
Contudo, é de se ressaltar que os efeitos, individualmente falando, são muito diversos, pois cada qual recolhe o ensinamento do fato de acordo como o seu grau de evolução. Isso se aplica tanto aos que atingiram o fim de suas jornadas, àqueles que sobreviveram após a passagem do cataclismo, bem como para todos os que se ligam aos chamados mortos por laços de amizade, afinidade ou mesmo sentimentais.
E mais, a perturbação pós-morte, também será única para cada qual, dependendo diretamente da forma como vinham se conduzindo em suas particulares existências.
Mas, são destruídos também animais irracionais e elementos da vegetação. Isso não estaria fora do esperado?
Em relação aos irracionais, conforme aprendemos dos Imortais, são rapidamente reencaminhados para novas etapas de aprendizado, no que tange às plantas e os vegetais, um sábio já disse: na natureza nada se cria, tudo se transforma. É sob esta última lei divina que devemos entender o resultado dos cataclismos que nos alcançam.
Neste sentido, a Doutrina Espírita apresenta um conjunto inigualável de explicações, não só possibilitando a justa compreensão dos desígnios divinos, bem como apresentando as condições capazes de nos consolar pelo esclarecimento sobre o acontecido.
Como reflexão final, não temamos a morte, exceto se estivermos agindo de forma criminosa ou delituosa, e, se desse comportamento advier a desencarnação, neste caso, morremos antes do tempo previsto, mas mesmo assim, jamais ao acaso. Todos os mortos, ao longo de nossa História, nas diversas calamidades, sejam elas quais forem, daqui não partiram fora da hora.
Referências
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário). Brasília/DF: FEB, 2006. q. 737.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário). Brasília/DF: FEB, 2006. q. 740.
3 Acesso em 06/06/2024. link-1
4 XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e crônicas. Pelo Espírito Irmão X. ed. 4. Rio de Janeiro/RJ: FEB, 1979. Tragédia no circo. cap. 6.
5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário). Brasília/DF: FEB, 2006. q. 555.
6 FRANCO, D. Pereira. Transição Planetária. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. ed. 2. Salvador/BA: LEAL, 2010. Roteiros terrestres. cap. 4.
7 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário). Brasília/DF: FEB, 2006. q. 539.
O consolador – Ano 18 – N 879 – Especial