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Conversas familiares de além-túmulo: Letargia extática

Revista Espírita, setembro de 1858   

Vários jornais, segundo o Courrier dês États-Unis, narraram o fato seguinte que nos pareceu de natureza a fornecer o assunto para um estudo interessante:

“Uma família alemã, de Baltimore, veio, diz o Courrier dês États-Unis, de ser vivamente emocionada por um singular caso de morte aparente. A senhora Schwabenhaus, doente há algum tempo, parecia haver dado o último suspiro na noite da segunda para terça-feira. As pessoas que a cuidavam puderam observar nela todos os sintomas da morte; seu corpo estava gelado, seus membros rígidos. Depois de ter prestado ao cadáver os últimos deveres, e quando tudo estava pronto, no quarto mortuário, para o sepultamento, os assistentes foram em busca de algum repouso. O senhor Schwabenhaus esgotado pela fadiga, logo os seguiu. Estava entregue a sono agitado, quando, pela seis horas da manhã, a voz de sua mulher veio ferir seu ouvido. Acreditou primeiro ser o joguete de um sonho; mas seu nome, repetido várias vezes, logo não lhe deixou nenhuma dúvida, e se precipitou para o quarto de sua mulher. Aquela que deixara por morta, estava sentada em sua cama, parecendo gozar de todas as suas faculdades e mais forte, do que jamais estivera, desde o começo de sua enfermidade.

“A senhora Schwabenhaus pediu água, depois desejou beber chá e vinho. Ela pediu ao seu marido para ir dormir seu filho que chorava em um quarto vizinho. Mas este último, estava muito emocionado para isso, e correu a despertar todo mundo na casa. A doente acolheu sorrindo seus amigos, seus domésticos, que não se aproximaram de seu leito senão tremendo. Ela não parecia surpresa com os preparativos funerários que impressionavam seu olhar: “Sei que me acreditáveis morta, disse ela, entretanto, eu não estava senão dormindo. Mas durante esse tempo minha alma voou para as regiões celestes; um anjo veio me procurar, e cruzamos o espaço por alguns instantes. Este anjo que me conduzia, é a jovem que perdemos no ano último… Oh! logo eu irei reunir-me a ela… Agora que provei as alegrias do céu, não queria mais viver neste mundo. Pedi ao anjo para vir abraçar, ainda uma vez, meu marido e meus filhos; mas logo ele virá me procurar.”

Às oito horas, depois que ela ternamente pediu permissão ao seu marido, aos seus filhos e a uma multidão de pessoas que a cercava, a senhora Schwabenhaus expirou realmente desta vez, como foi constatado pelos médicos, de modo a não deixar subsistir nenhuma dúvida.

“Esta cena emocionou vivamente os habitantes de Baltimore.”

O Espírito da senhora Schwabenhaus, tendo sido evocado, na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, no dia 27 de abril último, estabeleceu-se com ele a conversa seguinte.

1. Desejamos, com o objetivo de nos instruir, dirigir-vos algumas perguntas concernentes à vossa morte; tereis a bondade de nos responder? – R. Como não o faria agora que começo a tocar nas verdades eternas, e que sei a necessidade que disso tendes?

2. Lembrai-vos das circunstâncias particulares que precederam vossa morte? – R. Sim, esse momento foi o mais feliz da minha existência terrestre.

3. Durante a vossa morte aparente, ouvíeis o que se passava ao redor de nós e víeis os preparativos de vossos funerais? – R. Minha alma estava muito preocupada com sua felicidade próxima.

Nota. – Sabe-se que, geralmente, os letárgicos veem e ouvem o que se passa ao redor deles e disso conservam a lembrança ao despertarem. O fato que narramos oferece essa particularidade, que o sono letárgico estava acompanhado de êxtase, circunstância que explica por que a atenção da doente foi desviada.

4. Tínheis a consciência de não estar morta? – R. Sim, mas isso não me era bastante penoso.

5. Poderíeis nos dizer a diferença que fazeis entre o sono natural e o sono letárgico? – R. O sono natural é o repouso do corpo; o sono letárgico é a exaltação da alma.

6. Sofríeis durante a vossa letargia? – R. Não.

7. Como se operou o vosso retomo à vida? – R. Deus permitiu que retomasse para consolar os corações aflitos que me cercavam.

8. Desejaríamos uma explicação mais material. – R. O que chamais o perispírito animava ainda o meu envoltório terrestre.

9. Como ocorreu não vos surpreenderdes, no vosso despertar, com os preparativos que se faziam para vos enterrar? – R. Eu sabia que deveria morrer, todas essas coisas pouco me importavam, uma vez que entrevi a felicidade dos eleitos.

10. Voltando a vós, ficastes satisfeita de ser restituída à vida? – R. Sim, para consolar.

11. Onde estivestes durante o vosso sono letárgico? – R. Não posso dizer-vos toda a felicidade que senti: as línguas humanas não exprimem essas coisas.

12. Vós vos sentis, ainda, na terra ou no espaço? – R. Nos espaços.

13. Dissestes, voltando a vós, que a jovem que havíeis perdido no ano precedente, viera vos procurar; é verdade? – R. Sim, é um Espírito puro.

Nota. – Tudo, nas respostas da mãe, anuncia nela um Espírito elevado; não há, pois, nada de espantar que um Espírito mais elevado esteja ainda unido ao seu por simpatia. Todavia, é necessário não se prender à letra na qualificação de Puro Espírito que os Espíritos se dão, algumas vezes, entre eles. Sabe-se que é preciso entender por isso aqueles de ordem mais elevada, aqueles que, estando completamente desmaterializados e depurados, não estão mais sujeitos à reencarnação: são os Anjos que gozam da vida eterna. Ora, aqueles que não atingiram um grau suficiente, não compreendem ainda esse estado supremo; eles podem, pois, empregar o termo Puro Espírito para designarem uma superioridade relativa, mas não absoluta. Disso temos numerosos exemplos, e a senhora Schwabenhaus nos pareceu estar neste caso. Os Espíritos zombadores se atribuem também, algumas vezes, a qualidade de Puros Espíritos para inspirarem mais confiança às pessoas que querem enganar, e que não têm bastante perspicácia para julgá-los pela sua linguagem, na qual se traem sempre sua inferioridade.

14. Que idade tinha essa criança quando morreu? – R. Sete anos.

15. Como a reconhecestes? – R. Os Espíritos superiores se reconhecem mais depressa.

16. Vós a reconhecestes sob uma forma qualquer? – R. Não a vi senão como Espírito.

17. Que vos dizia ela? – R. Venha, siga-me para o Eterno.

18. Vistes outros Espíritos além daquele da vossa filha? – R. Vi uma quantidade de outros Espíritos, mas a voz da minha criança e a felicidade que pressentia eram minhas únicas preocupações.

19. Durante o vosso retorno à vida, dissestes que iríeis logo reunir-vos à vossa filha; tínheis, pois, consciência de vossa morte próxima? – R. Era para mim uma esperança feliz.

20. Como o sabíeis? – R. Quem não sabe que é preciso morrer? Minha doença me dizia bem.

21. Qual era a causa da vossa doença? – R. Os desgostos.

22. Que idade tínheis? – R. 48 anos.

23. Deixando a vida definitivamente, tivestes imediatamente uma consciência limpa e lúcida de vossa nova situação? – R. Tive-a no momento de minha letargia.

24. Experimentastes a perturbação que acompanha, ordinariamente, o retorno à vida espírita? – R. Não, eu estava deslumbrada, mas não perturbada.

Nota. – Sabe-se que a perturbação, que se segue à morte, é tanto menor e menos longa quanto o Espírito esteja mais depurado, durante a vida. O êxtase que precedeu a morte dessa mulher era, aliás, um primeiro desligamento da alma dos laços terrestres.

25. Depois de vossa morte, tornastes a ver a vossa filha? – R. Estou frequentemente com ela.

26. Estais reunida a ela pela eternidade? – R. Não, mas sei que depois de minhas últimas encarnações, estarei na morada onde habitam os Espíritos puros.

27. Vossas provas, pois, não estão findas? – R. Não; entretanto, elas serão felizes agora; não me deixam mais do que esperar, e a esperança é quase a felicidade.

28. Vossa filha havia vivido em outros corpos, antes daquele com o qual era vossa filha? – R. Sim, em muitos outros.

29. Sob qual forma estais entre nós? – R. Sob minha última forma de mulher.

30. Vós nos vedes tão distintamente quanto o faríeis estando viva? – R. Sim.

31. Uma vez que aqui estais sob a forma que tínheis na Terra, é pelos olhos que nos vedes? – R. Mas não, o Espírito não tem olhos; não estou sob a minha última forma senão para satisfazer às leis que regem os Espíritos quando são evocados, e obrigados a retomar o que chamais Perispírito.

32. Podeis ler os nossos pensamentos? – R. Sim, eu o posso: lerei se vossos pensamentos forem bons.

33. Nós vos agradecemos as explicações que consentistes em nos dar reconhecemos pela sabedoria de vossas respostas, que sois um Espírito elevado, e esperamos que gozeis a felicidade que mereceis. – R. Estou feliz em contribuir para a vossa obra; morrer é uma alegria quando se pode ajudar o progresso como pude fazê-lo.

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