Autor: Vladimir Polízio
Este, sem nenhuma dúvida, é um dos pontos que geram controvérsias.
A intenção deste trabalho não é fazer apologia a procedimentos que envolvam decisões delicadas e muito menos polemizar a questão.
Sabemos que tudo na vida não é só uma questão de compreensão, mas de costumes, hábitos, conceitos, raízes essas profundas que estão conosco desde o berço e custam algum tempo para que sejam modificadas.
Não se pretende, é claro, num simples comentário, que as pessoas passem a tomar decisões até então diferentes das que até agora foram decididas em família, e da forma convencional.
Quando se fala ou se mostra fatos e fotos de países que adotam sistemas diferentes dos praticados, por exemplo, em nossa pátria, muitos são os que ainda não aceitam sequer comentar a respeito.
Bem sabemos que países europeus e asiáticos adotam o sistema da cremação.
Embora essa prática não seja ainda muito aceita no Brasil, de acordo com o crematório de Vila Alpina, na Capital paulista, a cada três ou quatro meses há necessidade de se rever o percentual de interessados nessa modalidade de procedimento, em razão do crescente interesse demonstrado.
Um detalhe interessante e fornecido pelo próprio crematório é que o número de espíritas que optam por essa forma é maior que de outras religiões. É apenas uma questão de curiosidade, mas com fundamento lógico.
Como os números não mentem, mesmo quando aproximados, somente na capital de São Paulo tem-se em média o registro de 300 óbitos diários. Desse total, cerca de 25 deles são encaminhados ao crematório, o que corresponde a 8%. Isso está significando maior aceitação, mesmo porque outras cidades do Estado de São Paulo já estão em atividade nessa área, como Guarulhos, Santos, São José dos Campos, Sorocaba, Taboão da Serra e Itapecirica. São José do Rio Preto e Santo André estão em fase de preparação.
Enquanto outros países têm número elevadíssimo de cremações, o Brasil, que conta com 3.400 óbitos por dia, tem apenas 100 desse total encaminhados para esse sistema, somando cerca de 3%.
Hoje, a justificativa para essa opção está contida num pacote com vários argumentos, conforme alegam. O primeiro deles é o custo com operação de aquisição de jazigo, inumação e sua perpétua manutenção.
Mesmo pela ótica espírita, há que se considerar, primeiramente, a formação individual. O aspecto da educação cultural é muitíssimo importante.
O desprendimento é o fator fundamental para a tranqüilidade de qualquer decisão a ser tomada nesse sentido. O arrependimento, como sabemos, é uma sombra eterna.
Por um lado, na questão n° 151 de “O Consolador”, cuja orientação procede de Emmanuel, essa figura exponencial que acompanhou Chico Xavier na condição de Mentor por quase 75 anos, é afirmado que devemos aguardar por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais, em razão de possíveis ecos que ainda possam existir, cujos fluidos solicitem a alma para as sensações da existência material. É um fato.
De outra parte, temos no “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, em sua segunda parte, Cap. I – A Passagem nos tópicos “4” e “5” onde vamos encontrar “…de sorte que a separação não é completa e absoluta senão quando não reste mais um único átomo do perispírito unido a uma molécula do corpo; Disso resulta que o sofrimento que acompanha a morte está subordinado à força de aderência que une o corpo e o perispírito”.
Quanto à perturbação, no tópico “6” do mesmo livro vemos: “a perturbação pode, pois, ser considerada como normal no instante da morte; a sua duração é indeterminada; varia de algumas horas a alguns anos” (grifo nosso)
Porém, nos casos de morte natural ou doenças, no tópico “9”, idem, aborda-se da seguinte forma: “no homem, cuja alma está desmaterializada, e cujos pensamentos se separam das coisas terrestres, o desligamento é quase completo antes da morte real; o corpo vive ainda a vida orgânica e a alma já entrou na vida espiritual e não se prende mais ao corpo senão por um laço tão fraco que se rompe, sem dificuldade, ao último batimento do coração“.
Na morte violenta, contudo, o tópico “12”, idem, esclarece: “Sendo a força da vida orgânica subitamente detida, o desligamento do perispírito não começa, pois, senão depois da morte, e, nesse caso, como os outros, não pode se operar instantaneamente. O Espírito, apanhado de improviso, está como atordoado”.
Para finalizar, o tópico “13”, idem, traz: “…a prontidão do desligamento está em razão do grau de adiantamento do Espírito; para o Espírito desmaterializado, cuja consciência é pura, a morte é um sono de alguns instantes, isenta de todo sofrimento e cujo despertar é cheio de suavidade” (grifo nosso).
À vista de todo o exposto, compreendemos que para quaisquer dos casos de desencarnação, seja através de morte violenta ou natural, há que se ter, sempre, leveza de espírito e de coração, pois foi Jesus que o disse: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Mas considerai isto. Se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais o Filho do homem virá” (Mateus, 24, 42-44).
Há que se pensar bem, para não se arrepender das atitudes tomadas. Como compreenderíamos aqueles que são lançados ao mar? Como ficariam os que se perdem nas geleiras eternas? E os que nunca foram encontrados por razões diversas? Estariam perdidos pela eternidade ?
Através dos próprios Espíritos, nos é esclarecido que o corpo é mero veículo, é móvel de ação da alma, é matéria deteriorável; sem o halo vital é, de fato, verdadeiro resto.
“Deixai que os mortos enterrem seus mortos”.
É um assunto para refletir.
O consolador – Ano 1- N 11