Autora: Eugênia Pickina
Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope. A própria denominação “Homo sapiens”, a espécie pensante, é enganosa à luz do que hoje a ciência diz acerca do lugar que as emoções ocupam em nossas vidas
Daniel Goleman
Fazer pequenas promessas aos filhos, mas não cumprir, parece bobo ou inconsequente. Até porque, no geral, não envolve questões muito relevantes. Implicam situações como prometer um sorvete depois da escola ou levar o filho ao parque no fim de semana.
Mas aí a vida atarefada dos adultos faz outras prioridades tomarem os planos com as crianças. Ou tão somente o esquecimento, que impede que o combinado aconteça.
Tem gente que não dá importância para as promessas feitas aos filhos. De outro lado, como os filhos aprendem no início da vida principalmente pelos exemplos, se os pais querem que os filhos cumpram os compromissos que assumam na vida, procurem eles próprios cumprir com a palavra com eles. Quem cresce acostumado com o desrespeito aos combinados achará isso normal e, de maneira semelhante, poderá descumprir as promessas feitas aos próprios filhos, amigos, colegas de trabalho…
Na escola, estudei com uma menina que era muito desconfiada em relação à mãe, que dizia uma coisa e acabava fazendo outra. Ela sempre contava que não conseguia respeitar a mãe, pois ela facilmente ignorava o que prometia, sendo incapaz de agir com integridade com os filhos.
Pode acontecer de um pai ou uma mãe não conseguir cumprir uma promessa? Claro que sim. A vida oscila e imprevistos acontecem. Contudo, se a promessa não é cumprida por um motivo importante, é necessário explicar isso aos filhos. Conversar é o melhor caminho para evitar confusão e desentendimentos. Seja qual for o motivo, deixar claro que não foi intencional, reiterando como o cumprimento daquele combinado teria relevância na vida da família. Se possível, refazer o combinado e cumpri-lo em um novo momento.
Ainda, sempre que frustrar a expectativa das crianças, depois de se justificar, é significativo também o adulto pedir perdão. Desculpar-se é uma lição importante para ser treinada entre os membros da família e uma demonstração de nossa vulnerabilidade para os filhos. Além do mais, todos estamos sujeitos ao erro, embora cientes da relevância de cumprir as promessas feitas aos filhos – e mesmo aquelas que pareçam insignificantes. Elas não são.
Por fim, uma regra básica de convivência: não prometa para uma criança algo que não tem certeza de que irá conseguir cumprir. É importante levar em consideração que as relações entre pais e filhos se constroem com sinceridade e laços de confiança, nunca com exemplos reiterados de falsas ilusões.
O consolador – Ano 15 – N 740 – Cinco-marias