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Da inveja nos médiuns

Revista Espírita, abril de 1861

Enviado pelo Sr. Ky…., correspondente da sociedade em Karlsruhe

Por si mesmo e por sua própria inteligência, o homem vão é tão desprezível quanto digno de pena. Ele enxota a verdade de sua frente, para substituí-la por seus argumentos e convicções pessoais, que julga infalíveis e inapeláveis, porque são seus. O homem vão é sempre egoísta, e o egoísmo é o flagelo da Humanidade. Mas, desprezando o resto do mundo, ele mostra bem sua pequenez. Repelindo verdades que para ele são novas, também mostra a estreiteza de sua inteligência pervertida por sua obstinação, que aumenta ainda mais a sua vaidade e o seu egoísmo.

Infeliz do homem que se deixa dominar por estes seus dois inimigos. Quando ele despertar nesse estado em que a verdade e a luz derramar-se-ão de todos os lados sobre ele, então só verá em si um ser miserável que se exaltou loucamente acima da Humanidade, em sua vida terrena, e que estará muito abaixo de certos seres mais modestos e mais simples, aos quais ele pensava impor-se aqui na Terra.

Sede humildes de coração, vós a quem Deus aquinhoou com seus dons espirituais. Não atribuais nenhum mérito a vós próprios, assim como se atribui a obra ao operário, e não aos utensílios. Lembrai-vos bem de que não passais de instrumentos de que Deus se serve para manifestar ao mundo o seu Espírito Onipotente, e que não tendes qualquer motivo para vos glorificardes de vós mesmos. Há tantos médiuns, ah! que se tornam vãos, em vez de humildes, à medida que seus dons se desenvolvem! Isto é um atraso no progresso, pois ao invés de ser humilde e passivo, muitas vezes o médium repele, por vaidade e orgulho, comunicações importantes, que vêm à luz através de outros mais merecedores. Deus não olha a posição material de uma pessoa para lhe conferir seu espírito de santidade; bem ao contrário, porque muitas vezes exalça os humildes dentre os humildes, para dotá-los das maiores faculdades, a fim de que o mundo veja que não é o homem, mas o espírito de Deus, por intermédio do homem, que faz milagres. Como eu já disse, o médium é o simples instrumento do grande Criador de todas as coisas, e a ele é que se deve render glória; a ele é que se deve agradecer por sua inesgotável bondade.

Eu gostaria de dizer uma palavra também sobre a inveja e o ciúme que muitas vezes reinam entre os médiuns e que, como erva daninha, é necessário arrancar, desde quando começa a aparecer, temendo que abafe os bons germes vizinhos.

No médium, a inveja é tão temível quanto o orgulho; prova a mesma necessidade de humildade. Direi mesmo que denota falta de senso comum. Não é mostrando-se invejosos dos dons do vosso vizinho que recebereis dons semelhantes, porque se Deus dá muito a uns e pouco a outros, tende certeza de que agindo assim, ele tem um motivo bem fundado. A inveja azeda o coração; até abafa os melhores sentimentos; é portanto um inimigo que só é possível evitar com muito empenho, pois não dá tréguas, uma vez que se apoderou de nós. Isto se aplica a todos os casos da vida terrena, mas eu quis referir-me sobretudo à inveja entre os médiuns, tão ridícula quanto desprezível e infundada, e que prova quanto o homem é fraco quando se torna escravo de suas paixões.

Luos

Observação: Quando da leitura dessa última comunicação na Sociedade, estabeleceu-se uma discussão sobre a inveja dos médiuns, comparada com a dos sonâmbulos. Um dos sócios, o Sr. D…, disse que na sua opinião a inveja é a mesma em ambos os casos, e que, se parece mais frequente nos sonâmbulos, é que nesse estado eles não a sabem dissimular.

O Sr. Allan Kardec refuta essa opinião dizendo: “A inveja parece inerente ao estado sonambúlico, por uma causa difícil de compreendermos, e que os próprios sonâmbulos não podem explicar. Tal sentimento existe entre sonâmbulos que em vigília não têm entre si senão benevolência. Nos médiuns, está longe de ser habitual e depende, evidentemente, da natureza moral da criatura. Um médium só tem inveja de outro médium porque está em sua natureza ser invejoso. Esse defeito, filho do orgulho e do egoísmo, é essencialmente prejudicial à pureza das comunicações, ao passo que o sonâmbulo mais invejoso pode ser muito lúcido, o que se compreende muito facilmente. O sonâmbulo vê por si mesmo. É seu próprio Espírito que se desprende e age. Ele não necessita de ninguém. Ao contrário, o médium não passa de intermediário: recebe tudo de Espíritos estranhos, e sua personalidade está muito menos em jogo que a do sonâmbulo. Os Espíritos simpatizam com ele em razão de suas qualidades ou de seus defeitos; ora, os defeitos mais antipáticos aos bons Espíritos são o orgulho, o egoísmo e o ciúme. A experiência nos ensina que a faculdade mediúnica, como faculdade, independe das qualidades morais; pode, assim como a faculdade sonambúlica, existir no mais alto grau no mais perverso indivíduo. Já é completamente diverso em relação às simpatias dos bons Espíritos, que se comunicam naturalmente, tanto mais à vontade quanto mais o intermediário encarregado de transmitir seu pensamento for mais puro, mais sincero e mais se afaste da natureza dos maus Espíritos. A este respeito, fazem o que nós mesmos fazemos quando tomamos alguém para confidente. Especialmente no que concerne à inveja, como esta falha existe em quase todos os sonâmbulos e é muito mais rara nos médiuns, parece que nos primeiros é uma regra e nos últimos uma exceção, de onde se seguiria que a causa não deve ser a mesma nos dois casos.”

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