Autor: Juvenal Galeno (espírito)
*
Que amargo era o meu destino!…
Tristezas no coração,
Tateando dificilmente
No meio da escuridão…
*
Viver na Terra e somente
Remando contra a maré,
Com receio de ir ao fundo…
Nem tão boa coisa é.
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Esta vida de sofrer
Trinta dias cada mês,
Entremeados de prantos,
Há quem estime? Talvez…
*
Mas para mim que só fui,
Galeno sem nó, galé,
Tantas dores em conjunto,
Nem tão boa coisa é.
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Sentir as disparidades
Das vidas cheias de dor,
O mal sufocando o mundo,
Marchando com destemor:
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Ver o rico andar de coche
E o pobre correndo a pé,
Tantas misérias sentir…
Nem tão boa coisa é.
*
O pranto ferve na Terra,
Salta aqui, salta acolá,
Nas guerras de toda parte,
Nas secas do Ceará;
*
Meus irmãos de Fortaleza,
Do Crato, do Canindé,
Ver uns rindo e outros chorando,
Nem tão boa coisa é.
*
Ah! morrer e ainda sentir
Saudades da escravidão,
Da carne, do desconforto,
Da treva, da ingratidão…
*
Não é possível porque,
Pobre filho da ralé,
Casar-se com a desventura
Nem tão boa coisa é.
*
Mas falar demais agora,
Já não é próprio de mim,
Não vou gastar minha cera
Com tanto defunto ruim;
*
Patetice é ensinar
Verdade aos homens sem fé.
Jogar pérolas a tolos,
Nem tão boa coisa é.
Nota
A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo
Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo