Autor: Tarquínio
“Deixe-me contar-lhe uma coisa.
Eu realmente gosto de sentar-me à mesa de trabalho para escrever ou estudar, e perceber que as unhas das minhas mãos estão sujas de terra.
Hoje foi o caso.
Andando pelo quintal dei-me conta de que minhas couves estavam muito feias.
Como não uso cercas, as vezes os cães lhes passam por cima quando exageram nas brincadeiras.
No entanto, via de regra, eles não mexem com elas não.
Foi porque resolvi lançar mão do balde com terra adubada, diga-se de passagem, abastecido com húmus de minhoca de nossa própria produção, e pôr-me a substituir a terra cansada e improdutiva por aquela preparada para alimentá-las e supri-las das substâncias nutritivas de que necessitam.
Enquanto executava o trabalho, uma frase ensementada no solo de minha alma na meditação da manhã, suscitava-me reflexões. Eis o dito: “Oponhamos o bem ao mal e deixemos aos outros a faculdade de serem eles mesmos” (livro: Rumo Certo. Lição Prevenções. Emanuel).
O assunto dizia respeito à prevenção, ao espírito de prevenção com que enquadramos os outros, lhes pressupondo as intenções, e interpretando equivocadamente as razões de suas ações em relação a nós, ou em relação à vida, quase sempre por um viés negativo.
Meu Deus! Quanta imaturidade de nossa parte!
O mecanismo de condenação alheia é o oposto da compreensão que devemos aprender a cultivar em nosso íntimo, a fim de que nosso coração supra de compaixão nossos olhos, e ilumine nosso entendimento para que sejamos capazes de enxergar o ser essencial que habita cada um de nós.
Ora, quem vive plenamente a própria vida não tem tempo para censurar seja a quem for.
O tipo de meditação sempre me leva a perguntar:
Por que somos tão incapazes de deixar que os outros vivam suas vidas, fazendo as escolhas que bem quiserem, na hora que estiverem dispostos a fazê-las, e como acharem que têm de fazer?
Uma vez que Deus, o comandante supremo do Universo, nos permite desde sempre este direito inalienável?
A vida dos outros pertence a eles mesmos ou a nós?
Não poucas vezes acabo chegando à conclusão de que semelhante procedimento é típico de quem é infeliz.”