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Dependência afetiva

Autor: Kelly Casemiro

Assunto polêmico que aguça nossa curiosidade e desperta sentimentos diversos. Ao mesmo tempo, gera interesse e provoca certo medo. Medo, por ser um assunto pouco discutido.

Winnicott, pediatra e psicólogo inglês, definiu como maternagem, o período em que a mãe totalmente devotada a sua criança. Essa fase tem início na gestação e termina quando a criança começa a adquirir autonomia e independência

Sabemos que quando a criança nasce, ela é totalmente dependente de cuidados, tais como higiene e alimentação. Nessa fase, a mãe vive uma relação simbiótica com sua criança. É como se ambos fossem uma única pessoa. Essa relação é tão forte que a mãe consegue, até mesmo, antever as necessidades de seu filho e antecipar seus cuidados. Por exemplo: a mãe consegue perceber que o filho vai acordar, mesmo quando não é o horário de costume para isso acontecer. Essa relação, para quem vê de fora, parece ser uma relação doentia, pois é, no mínimo exagerada. Contudo, na fase da maternagem tudo isso é perfeitamente normal.

Por conta dessa devoção, é fundamental que o marido/companheiro e os demais familiares, deem total apoio a essa mãe, fazendo o papel de suporte emocional. Para ficar claro, é como se fosse um ombro amigo para que essa mãe possa descansar e desabafar, sabendo que não será julgada nem discriminada.

Como tudo na vida tem um começo, meio e fim, com a maternagem deve ocorrer a mesma coisa. É esperado que com o passar do tempo, a criança adquira uma independência relativa para interagir com o mundo e que a mãe deixe isso acontecer com naturalidade. Quando a mãe não consegue encerrar essa fase, a criança não terá condições de interagir com o mundo da forma esperada.

Adultos dependentes emocionalmente, inseguros e sem atitude perante a vida são o resultado dessa situação. Para elas, é como se o mundo parecesse um universo desconhecido. De fato, é realmente assim que ele é visto, já que essa mãe continua sendo devotada ao seu filho. Ela ainda continua suprindo suas necessidades e ambos, mãe e filho, vivem em total simbiose.

Nos relacionamentos, essa criança ou mesmo adulto, tenderá a buscar pessoas que possam suprir ou manter uma relação desse nível, uma vez que esse é o único referencial que lhe foi oferecido.

Junto a essa dependência, podem surgir o ciúme e o sentimento de posse, já que nada consegue ser partilhado. Dividir alguma coisa, seja material ou sentimental, é muito doloroso, pois quando se é tratado como único, não existem coisas para serem divididas.

O comportamento mais comum é chamar a atenção das pessoas, seja através de sentimentos como uma alegria contagiante ou uma tristeza profunda. Como exemplos, podemos citar casos de crianças que quando querem alguma coisa, ficam esperneando até obter o que desejam, outros não conseguem desenvolver tarefas, sozinhos e pedem orientação o tempo todo. E existem ainda aqueles que são extremamente agressivos e transformam tudo em pretexto para iniciarem brigas ou discussões.

É comum nos sentirmos impotentes perante pessoas carentes. Todavia, não adianta querer mostrar a essa criança ou adulto, ou até mesmo querer que ela entenda essa situação, pois isso não será fácil nem simples. Casos assim, podem ser melhorados ou amenizados com muita terapia e um desejo sincero de conhecer-se melhor.

Certa vez, ouvi de um professor que “só podemos dar aquilo que um dia tivemos”. Sendo assim, não é correto culparmos essa mãe por isso ter acontecido e nem julgar tal situação. Essa mãe merece nossa compreensão e atenção. Sem contar ainda que essa situação pode ter suas origens em outras existências.

Em resumo, essa á uma ótima oportunidade para exercitarmos aquilo que o Cristo nos ensinou: amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.

Fala MEU! Edição 61, ano 2008

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