Autor: André Luiz Alves JR
Nos últimos tempos, a sociedade brasileira de um modo geral vem sendo atormentada pelo fantasma da dependência química. Infelizmente, o assunto é destaque nos veículos de comunicação em todo o país.
Em todas as cidades, em maior ou menor grau, é possível encontrar dependentes químicos padecendo pelo vício nas ruas, praças e becos. São pessoas de variadas classes sociais, níveis de formação e faixa etária. A dependência química não é seletiva, ao contrário, é epidêmica.
O número de usuários de substâncias tóxicas é crescente e chega a índices preocupantes. Estima-se que no Brasil cerca de 9 milhões de pessoas fazem uso de substâncias ilícitas e, se mencionarmos os etilistas e tabagistas, devemos acrescentar às estatísticas mais 9 milhões de pessoas. A impressão que temos é que a situação fugiu do controle.
O problema do uso de substâncias tóxicas é semelhante a um câncer de alta malignidade. Espalha-se rapidamente e gera outras temidas consequências, como homicídios, furtos, roubos e outras modalidades do crime, no qual dezenas de pessoas todos os dias perdem a guerra para o tráfico de drogas e são vitimadas covardemente. Enquanto famílias inteiras são destruídas, traficantes se enriquecem à custa do sofrimento alheio.
O que é dependência química?
A dependência química ou síndrome da dependência é definida pela ciência como a perda do controle do organismo sobre o uso de substâncias químicas (drogas ilícitas, etilismo, tabagismo, medicações), ou seja, o corpo passa a depender dessas substâncias para realizar suas funções. Na ausência delas, manifesta sintomas conhecidos como síndrome de abstinência.
É uma doença crônica de ação rápida e difícil controle, que pode levar o indivíduo à morte. Hoje é considerado um problema de saúde pública.
O conceito de “Droga”
As drogas são substâncias tóxicas de origem natural ou sintética, de efeitos nocivos para o organismo. Podem ser ingeridas, inaladas, injetadas ou absorvidas pela pele e têm ação específica no cérebro, estimulando as áreas responsáveis pelo prazer, o que provoca uma ligeira sensação de bem-estar. Para sustentar esse falso prazer, o usuário necessita de doses cada vez maiores, com isso viciando o corpo físico e o Espírito.
Essas substâncias podem causar atrofia no tecido cerebral, resultando em déficit de aprendizagem, distúrbios cognitivos, demência e esquizofrenia.
Causas da dependência química
Diversos fatores são apontados pela ciência como causas da dependência química. Os principais estudos apontam para as questões psicológicas, sociais, congênitas (mães usuárias transmitem o vício para os filhos ainda na gestação) e genéticas. Cientificamente, não há uma resposta definitiva para a causa da dependência química nas pessoas.
A explicação do Espiritismo
Segundo Joanna de Ângelis, o indivíduo deve ser analisado de forma holística. A organização do ser compreende Espírito, corpo e mente, considerando a imortalidade da alma e a pluralidade das existências. Através dessas considerações, pode-se compreender que as origens de várias patologias físicas e psicológicas estão relacionadas à enfermidade do Espírito, adquirida outrora ou fruto da imaturidade e de seu grau de adiantamento ainda limitado.
De maneira geral, deve-se observar a busca incessante pela compreensão do “eu”; as consequências dos próprios atos, as quais resultam em problemas aparentemente infindáveis para o ser humano; as inquietudes do Espírito atormentado pela consciência culpada; a preocupação excessiva com o corpo físico e a negação do Espírito; o imediatismo existencial e a falta de confiança no Criador. Quando não há entendimento para essas questões, o ser humano pode mergulhar em uma crise existencial, caracterizada pelo vazio, a solidão e graves conflitos psicológicos que levam à depressão e a outros transtornos comportamentais, que acabam por induzir esses Espíritos menos preparados a buscar um refúgio nas substâncias entorpecentes.
Diz Joanna de Ângelis, em “Psicologia da Gratidão”: “Nessa busca de realização pessoal, base de sustentação para uma existência feliz, surge o desafio do significado existencial, no momento em que a sociedade experimenta a pandemia psicopatológica das vidas vazias”.
Por outro lado, durante a jornada evolutiva, o Espírito imperfeito é convidado a se despir das tendências viciosas adquiridas ao longo de existências pregressas. Essas intenções negativas podem permanecer gravadas no perispírito por um longo tempo, o que acaba sendo exteriorizado para a matéria, explicando dessa forma a predisposição genética para o desenvolvimento da dependência química em alguns indivíduos. Um Espírito que teve contato com substâncias químicas em existências anteriores pode, por exemplo, apresentar uma probabilidade maior de desenvolver a doença na reencarnação subsequente.
O Espírito de Manoel Philomeno de Miranda também esclarece a questão no livro “Nas Fronteiras da Loucura”:
“Espiritualmente atrasado, sem as fixações dos valores morais que dão resistência para a luta, o homem moderno, que conquistou a lua e avança no estudo das origens do Sistema Solar que lhe serve de berço, incursionando pelos outros planetas, não conseguiu conquistar-se a si mesmo. Logrou expressivas vitórias, sem alcançar a paz íntima, padecendo os efeitos dos tentames tecnológicos sem os correspondentes valores de suporte moral. Cresceu na horizontal da inteligência sem desenvolver a vertical do sentimento elevado. Como efeito, não resiste às pressões, desequilibra-se com facilidade e foge, na busca de alcoólicos, de tabacos, de drogas alucinógenas de natureza tóxica…”
Dependência química e obsessão
É sabido que o plano espiritual exerce influência direta sobre o plano material e vice-versa. Nossos pensamentos funcionam como transmissores e receptores de vibrações, com o que somos capazes de influenciar e sermos influenciados. Basta um pensamento fixo para atrair para junto de nós Espíritos que comungam as mesmas ideias. Se pensarmos positivamente, as vibrações recebidas do plano espiritual também serão proveitosas; se acontece o contrário, teremos aproximação de Espíritos menos desenvolvidos, intencionados a ações perturbadoras.
Através desse mecanismo, alguns Espíritos reencarnados são influenciados à prática de ações nocivas para eles mesmos e para outros. Não raro são os casos de dependência química originados pela obsessão. Se há um grau mais acentuado de mediunidade não doutrinada por parte do obsidiado, a influência pode ser maior.
É necessário esclarecer que a obsessão só acontece quando permitimos; portanto, na maioria das vezes, não há atenuantes. O Espírito de André Luiz relata alguns casos de dependência química por obsessão no livro “Nos Domínios da Mediunidade”.
O dependente químico no além-túmulo
O uso contínuo de drogas das mais variadas formas, quando não leva o indivíduo ao suicídio consciente, acaba por aniquilar a vida física por sobrecarga de tóxicos na matéria (overdose).
A compulsão viciosa não termina com o fechar dos olhos físicos. O Espírito permanece sob ação das substâncias nocivas impregnadas ao seu perispírito. O desespero e o sofrimento se fazem presentes. O Espírito delinquente é acometido pelos efeitos da abstinência e então inicia uma busca incessante pelas substâncias entorpecentes, o que o torna, em alguns casos, um obsessor ou escravo de legiões de Espíritos tendenciados ao mal, em condições semelhantes, e assim permanece até obter o merecimento de um resgate.
Por vezes, é necessário o internamento compulsório em instituições manicomiais do plano espiritual para desintoxicar o Espírito envolto por substâncias nocivas e reparar os desajustes da consciência. Quando retorna ao plano físico, traz consigo as lesões no perispírito que podem imprimir na matéria as consequências do abuso pretérito, além de ter que se submeter às mesmas provações de antes.
Que fazer para combater a dependência química?
A resposta é dada por Joanna de Ângelis por meio de Divaldo Franco, no livro “Após a tempestade”. Analisemos:
“A educação moral à luz do Evangelho sem disfarces nem distorções; a conscientização espiritual sem alardes; a liberdade e a orientação com bases na responsabilidade; as disciplinas morais desde cedo; a vigilância carinhosa dos pais e mestres cautelosos; a assistência social e médica em contribuição fraternal constituem antídotos eficazes para o aberrante problema dos tóxicos –autoflagelo que a Humanidade está sofrendo, por haver trocado os valores reais do amor e da verdade pelos comportamentos irrelevantes quão insensatos na frivolidade. O problema, portanto, é de educação na família cristianizada, na escola enobrecida, na comunidade honrada e não de repressão policial…”
A situação exige comprometimento de diversas instituições, a começar pela família, que tem um papel preponderante na tutela de um Espírito. O seio familiar constitui o alicerce para uma reencarnação bem-sucedida de um Espírito.
As instituições religiosas também exercem grande influência no combate à dependência química, porque toda e qualquer religião que é capaz de transformar o homem em um ser melhor é digna de respeito e valorização. A formação religiosa contribui para o desenvolvimento do caráter, esculpindo na personalidade humana os princípios éticos e morais.
A sociedade também deve assumir a sua responsabilidade e não fechar os olhos diante da situação. Cada indivíduo deve cumprir com seu dever e ter consciência de que todos nós estamos sujeitos a vivenciar o problema dentro de nossos lares.
É certo que a espiritualidade também trabalha em benefício daqueles que atravessam essa dolorosa situação, mas sem a nossa colaboração todos os esforços dos Espíritos superiores serão nulos. Deus nos convida a auxiliar nesta tarefa. “Toda forma de servir é uma bênção.”
O consolador – Ano 7 – N 331