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Depois da morte

Autor: Antero de Quental (espírito)

*

Apenas dor no mundo inteiro eu via,

E tanto a vi, amarga e inconsolável,

Que num véu de tristeza impenetrável

Multiplicava as dores que eu sofria.

*

Se vislumbrava o riso da alegria

Fora dessa amargura inalterável

Esse prazer só era decifrável

Sob a ilusão da eterna fantasia.

*

Ao meu olhar de triste e de descrente,

Olhar de pensador amargurado,

Só existia a dor, ela somente.

*

O gozo era a mentira dum momento,

Os prazeres, o engano imaginado

Para aumentar a mágoa e o sofrimento.

*

Misantropo da ciência enganadora,

Trazia em mim o anseio irresistível

De conhecer o Deus indefinível,

Que era na dor, visão consoladora.

*

Não o via e, no entanto, em toda hora,

Nesse anelo cruciante e intraduzível,

Podia ver, sentindo o Incognoscível

E a sua onisciência criadora.

*

Mas a insídia do orgulho e da descrença

Guiava-me a existência desolada,

Recamada de dor profunda e intensa;

*

Pela voz da vaidade, então, eu cria

Achar na morte a escuridão do Nada,

Nas vastidões da terra úmida e fria.

*

Depois de extravagâncias de teoria,

No seio dessa ciência tão volúvel,

Sobre o problema trágico, insolúvel,

De ver o Deus de Amor, de quem descria,

*

Morri, reconhecendo, todavia,

Que a morte era um enigma solúvel,

Ela era o laço eterno e indissolúvel,

Que liga o Céu à Terra tão sombria!

*

E por estas regiões onde eu julgava

Habitar a inconsciência e a mesma treva

Que tanta vez os olhos me cegava,

*

Vim, gemendo, encontrar as luzes puras

Da verdade brilhante, que se eleva,

Iluminando todas as alturas.

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

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