Autor: Rogério Miguez
Resumo
A misericórdia divina colocou à disposição de todos os seus filhos um sábio mecanismo, permitindo o intercâmbio entre os dois planos da vida – o material e o etéreo: a mediunidade. Devido a incompreensões no trato com esta faculdade, ocorrem inúmeras dificuldades no trabalho mediúnico. Pretende-se, com este texto, alinhar algumas informações básicas sobre estas intercorrências, e, ao mesmo tempo, sugerir providências para manter o fenômeno sob controle das forças criadoras e positivas.
Palavras-chave
Mediunidade; médium; obsessão; pensamento; mistificação.
A faculdade mediúnica foi criada por Deus para facilitar a interação entre os Espíritos, segundo diversas modalidades, estejam encarnados ou desencarnados, ou seja, entre encarnados, entre desencarnados, entre encarnado e desencarnado (a mais conhecida) e vice-versa.
Por meio destas interações, quando encarnados, os Espíritos podem ainda se certificar sobre a imortalidade de si mesmos, abrindo um entendimento sobre a Criação e o Criador muito mais amplo e alentador do que aquele conferido pelas propostas materialistas.
Fenômenos mediúnicos podem eclodir a qualquer tempo e local, e sempre estiveram presentes ao longo do processo evolutivo dos Espíritos.
Há duas possibilidades desta faculdade se manifestar quando encarnados: natural, função da evolução moral do Espírito, facilitando as percepções do mundo invisível, acentuando-se à medida que o portador avança em seu nível evolutivo e, de forma provocada, por meio de certas providências tomadas antes de o Espírito reencarnar, sendo esta última também conhecida como mediunidade de prova.
Na maioria esmagadora dos casos, a mediunidade é oferecida como uma ferramenta de redenção, pois:
Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre, são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude.[…].1
Sendo assim, este Espírito endividado com as Leis Divinas e desejoso de rapidamente quitar estas pendências morais, necessita empregar este chamado dom, com eficiência, na promoção de sua própria evolução e daqueles que o cercam, seja no ambiente familiar, no trabalho, na religião ou em sociedade.
É oportuno esclarecer que este assim chamado dom não é uma dádiva graciosa oferecida por Deus, função de alguma proteção ou privilégio a este e não àquele Espírito, conforme muitos assim o creem. A menção a este dom, nos textos espíritas, e mesmo nos Evangelhos, não traduz uma graça recebida de um santo ou alguma entidade espiritual; é, antes, uma séria oportunidade de serviço, previamente acordada entre as partes – o interessado e os responsáveis pela sua reencarnação -, que a maioria, infelizmente, não consegue honrar, embora tenham feito promessas de que se fossem médiuns trabalhariam em prol da Humanidade.
São várias as razões impedindo que o médium bem se desincumba de sua missão, podendo ser divididas em duas grandes classes – exógenas e endógenas.
Exógenas
- Os pensamentos se propagam como ondas possuindo qualidades boas ou más. Como o médium é mero receptor de pensamentos e de forças psíquicas alheias, se durante a reunião à qual se vincula houver participantes inadequadamente preparados, estes podem acabar influenciando o teor das comunicações de forma negativa. Esta é uma das razões da impropriedade na participação de pessoas estranhas ao grupo mediúnico que, quando convidadas e curiosas diante do fenômeno, podem se assustar, descrer, entre outras tantas inadequadas condutas, emitindo fluidos em desequilíbrio, perturbando, por conta do pensamento em desalinho, a ambiência da reunião.
- A atual condição da Terra, com seus quase oito bilhões de almas e, segundo informam, outros trinta bilhões de Espíritos desencarnados gravitando em torno do planeta, com ampla maioria formada de entidades necessitando de delicados resgates e ainda muitas provas, cria uma atmosfera fluídica pouco favorável a qualquer atividade voltada ao bem, influenciando, particularmente, de modo negativo, aquelas de intercâmbio mediúnico.
- Diante de tal fato, há a necessidade imperiosa de apresentar-se bem-organizada espiritualmente a Casa em que milita o médium, de modo a se opor à avalanche de fluidos deletérios gerados constantemente por mentes indisciplinadas, tais quais as que ainda caracterizam este orbe. Uma Casa com discórdias internas, diferenças pessoais entre os dirigentes, sem programas de estudos sérios, conduzidos por instrutores inexperientes e mau capacitados, pouco ajuda as atividades na Área da Mediunidade, podendo mesmo prejudicá-las.
- Esta ínfima parte da Humanidade universal se encontra altamente endividada com as leis eternas. Além disso, aqui não se encontram, em sua maioria, almas nobres e elevadas, de modo que o número de obsessores que pululam na atmosfera terrena é elevadíssimo, alguns deles particulares obsessores do médium, enquanto outros, de ocasião, aproveitam-se de brechas morais e éticas, tanto do médium como de qualquer participante do grupo mediúnico, contaminando negativamente o teor dos fenômenos.
- Além dos obsessores propriamente ditos, que mais não desejam do que criar toda a sorte de grosseiros embaraços ao médium, ou mesmo ao grupo, existe a possibilidade da interferência mistificadora, mais sutil, discreta, outro capítulo de trato delicado aos que se apresentam para intermediar o intercâmbio entre o lado de lá e o de cá. Estudo sério, modéstia e humildade, serão elementos válidos para tentar controlar a incidência destas indesejadas influências.
Endógenas
- Os pensamentos e estado de ânimo do médium influenciam diretamente o teor da mensagem veiculada; se em desalinho, dificultam a sintonia com o agente exterior – o Espírito comunicante. Por esta razão, há que haver preparo, principalmente durante o dia da reunião, a fim de se evitar discussões, debates acalorados, excessiva preocupação com questões materiais, distúrbios emocionais de monta, entre outras situações que o médium poderá levar ao ambiente mediúnico, provocando interferência na comunicação.
- Algumas virtudes importantes de serem cultivadas por todos os Espíritos vinculados a um mundo de provas e expiações, para o médium, se revestem de especial atenção: disciplina, paciência, abnegação, renúncia, vigilância, capacidade de se sacrificar em prol dos outros etc. Ninguém se impressionará com estas informações, pois nenhum médium está desavisado de sua tarefa mediúnica, uma vez que, bem antes de aqui voltar, o candidato ao exercício do mediunato foi preparado e muito bem instruído por Espíritos capazes e bem orientados nestes processos reencarnatórios, bem como devidamente esclarecido pelo seu guia espiritual sobre os percalços que enfrentaria.
- A formação do trabalhador deverá sempre estar lastreada nas obras de Allan Kardec, principalmente em O livro dos médiuns. Literatura subsidiária de autores consagrados, desencarnados ou não, deverá também fazer parte da base doutrinária do médium, sob pena de, mal desenvolvida a faculdade e mal-educado o médium, sem bons fundamentos espíritas, facilmente poderá ocorrer o desvirtuamento do trabalho, abrindo portas para a instalação de graves situações. O médium se empenhará em manter boas imagens na sua atmosfera psíquica, um bom reservatório de palavras e ideias salutares, hauridas na boa literatura, na reta conduta, facilitando a construção da comunicação.
- Na defesa de si mesmo, o médium reservará, diariamente, alguns minutos para a oração sincera, providência que o auxiliará em inúmeras dificuldades geradas pelos fatores mencionados anteriormente e o defenderá do assédio de Espíritos desorientados que desejem usar seus dotes mediúnicos para suas manifestações grosseiras e desalinhadas com os princípios morais.
- Há também os transbordamentos de personalidades anteriores, construídas em existências passadas, que podem exteriorizar-se dos arquivos perispirituais, do subconsciente do médium, quando em transe, misturando-se às mensagens e interferindo indevidamente no seu conteúdo. Oração e vigilância serão sempre medidas eficazes para tentar controlar estas interferências.
Além destes esclarecimentos doutrinários, todo o material recebido do Além, em princípio, se direciona ao próprio receptor da mensagem, seja por qual meio for – escrito, falado, ouvido ou visto. Instruções, recomendações, possíveis advertências ou palavras de incentivo, oriundas do Espaço, se aplicam em primeiro lugar ao trabalhador-médium. Caso ele assim proceda, ou seja, tentando aplicar, sempre que possível, a si mesmo o que capta dos Espíritos, ficará cada vez mais preparado e fortalecerá sua fé, corrigindo falhas e discrepâncias doutrinárias em sua conduta mediúnica nos futuros encontros.
Se o médium, observar em seu cotidiano estas despretensiosas sugestões, terá real possibilidade de, ao término da jornada, se apresentar como mais um Espírito cumpridor de sua missão, sem ter de que se envergonhar ou lamentar, podendo olhar sem receio seu guia espiritual, que o acompanhou durante seus desafios na prática mediúnica e que o estará certamente aguardando para recebê-lo com alegria e júbilo, já que seu protegido soube aproveitar a ferramenta mediunidade na construção de um mundo melhor, para si mesmo e para o próximo.
Referências
1 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 9. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. 1ª pt., cap. 11 – Mensagem aos médiuns, it. 11.2.