Autora: Cristina Sarraf
Se Antônia pesasse direito, teria a certeza de que não amava Samuel. Havia tanta coisa nele que ela gostaria que fosse diferente. – Mas ele é lindo! Super inteligente e charmoso. Todas as minhas amigas gostariam de namorá-lo. De olhos fechados! E ele gosta é de mim!!!
Pensamentos como esse ocupavam muito sua mente, e nublavam a capacidade de discernir que, apesar disso tudo, ele não era a pessoa certa para ela. Iludindo-se, iludindo-o, vai em frente e faz dele seu príncipe encantado.
Casam-se.
– O dia mais feliz da minha Vida!
Antônia repetiu tanto isso que acabou acreditando, meses antes de acontecer.
Samuel realmente a amava, mas… do jeito dele, como não poderia deixar de ser!
Algum tempo de felicidade… indícios de que a vida deles seria o chamado mar de rosas.
Sim… ela continuava não gostando de uma porção de coisas. Mas…havia outras, pensava; sobretudo a inveja de “todas” as mulheres da família, da vizinhança e provavelmente do universo!
– Não se pode querer tudo! Homem melhor que ele, nem na Lua, dizia de si para si, fortalecendo a ilusão.
Mas ele era ele e continuou sendo; e cada vez mais. Sobretudo quando Antônia mostrava querer que fosse diferente. Aí ele caprichava na grosseria, na arrogância e no desprezo, por menor que fosse o assunto.
– Sou assim e você sabia! Não me venha com “frescura”. Detesto essa coisa de fazer visitinhas a parentes. Vai você! Tem pernas e sabe pegar ônibus!
– Mas somos casados!
– Mas não grudados! Eu detesto isso. Você já sabe que vou jogar bola e nada neste mundo me impedirá. Se não me quer assim diga logo, porque tá cheio de gente de olho em mim!!!! E quando voltar não quero ver essa cara!
A indiferença, o descaso aos interesses dela, a agressividade e a grosseria quando queria prevalecer… muito tempo devotado ao esporte e aos amigos, as roupas desalinhadas, o dinheiro pouco… tudo como antes do casamento. O antes que Antônia sempre quis que fosse diferente, mas “engoliu”, preferindo o charme especial de Samuel e planejando ser feliz, na esperança de que ele mudaria, foi aos poucos se tornando um grande tormento.
Fingia, disfarçava… Tremia na base quando ele com facilidade abria mão do casamento, deixando claro que se ela não estava feliz, que fosse embora. Além do que, sabia e declarava que muitas mulheres eram loucas por ele e ela seria substituída num piscar de olhos. Desilusão e frustração é que caracterizava Antônia, após um ano de casada.
A estupidez dele me desiludiu, pensava consigo. E a conscientização disso fez com que, sem perceber, ela começasse a demonstrar que ele já não era tudo na sua vida. Por isso mesmo, cada resposta não submissa, alguns gestos de pouco caso, tempo cada vez maior de devotamento ao trabalho e aos parentes, produziam uma reação violenta em Samuel. É que ele começou a perceber que não estava mais sendo tudo para ela. E isso era insuportável para ele! Havia se interessado por Antônia e casado, porque entendeu que nada e ninguém estaria entre eles, pelo fato do amor dela ser absolutamente dele. Por isso abusava… Dava-lhe grande prazer sentir que ela se apavorava ante a ideia de perdê-lo. Mas agora… Parecia que ela não estava ligando mais…
Do outro lado da Vida, dois Espíritos dedicados a ajudar casais em desajustes, analisavam a situação:
– É…. dá para ver que logo a violência passa do limite e ela vai embora. Chegou a hora de usar o recurso de conversar com eles durante o sono do corpo. Espero conseguirmos “segurar” a situação!
– Ela, me parece, vai entender que a ilusão é um desvio de compreensão e respeito por si mesmo, alimentado por um hábito mental medroso, que gera a mentira orgulhosa e depois a dor da inevitável desilusão.
– Vamos conversar com ele usando a estratégia do ganha-ganha. Pra que um ganhe o outro também tem que ganhar, não é isso? Parece-me que dará certo…
– Sim, claro! E você faz o relatório?
– Faço. E sugiro montarmos outra aula sobre a evidência de que a ilusão esconde o medo de ver a verdade e estimula o orgulho; a disputa só faz perder; e a prepotência emocional agressiva só é curada com auto-observação pela máxima de Jesus: agir como queremos que hajam conosco. Que lhe parece?
– Ótima ideia! Já está na hora de maior divulgação dessas verdades. E também quero fazer uma parte da palestra sobre “A postura emocional agressiva depende 100% de subjugação, ou então desmorona”.
– Mãos à obra…