Autora: Cristina Sarraf
– Penso que precisamos aprender e depois, ensinar a pensar.
– Aprender a pensar? Todo mundo pensa!!!
– Parece. Mas veja: como pensamos? Por quê? De que modo? Quando? O quê? Por quais razões?…
– Que importa isso. Basta pensar!
– Basta, se estivermos pensando.
– Como assim? Penso sempre.
– Pensa ou lembra? Ou repete o que ouviu?
– Acho que penso… Como saber se penso ou lembro?
– Acha? Pensar e lembrar são coisas diferentes. Pensar é elaborar. Nasce de você, Espírito. Pensar usa a memória, o que já se sabe/conhece, analisando, observando e refletindo. Mas, nessa elaboração, raciocinamos, abrimos caminhos para novos pensamentos, para soluções e atitudes novas. Ou ampliamos e reforçamos o que nos serve e funciona bem. O destaque, é que ao pensar, algo diferente ou mais completo ou sob outra faceta, é elaborado.
Lembrar é lembrar o que já se sabe, conhece, experimentou e ouviu. Só isso. Lembrar é sempre igual. É o mesmo e por isso o resultado também é o mesmo.
– Está dizendo que lembro mais do que penso? Lembrar não me parece ruim…
– Sim! Lembramos mais do que pensamos! É claro que lembrar não é ruim. Sem memória nem sabemos quem somos… A memorização nos caracteriza como individualidades e permite o exame de como temos vivido.
– Essa diferença eu nunca havia imaginado que existisse. Pensei que pensava sempre…
– Pensou por que pensar usa a mente, tanto quanto lembrar, embora sejam funções diferentes. Se puser atenção, notará que pouco pensamos. Vive-se o cotidiano da vida, mais ou menos sempre igual; agindo igual, sentindo igual; falando igual… numa repetição habitual de condutas, dores, frustrações… Como se a vida fosse uma receita de bolo. Melhor: várias receitas, cada uma pra uma finalidade…
– Certo! Não há receita… rsrsrssrs; mas como saber que estou pensando?
– Bom… sem receita, porém há pontos a serem observados, e por qualquer pessoa. Deixando bem claro que não sou mestre nesse assunto, mas observo e analiso o que penso, leio e ouço.
Listo alguns desses pontos, sem pretender esgotar o assunto e nem de torná-los lei:
- Pensar implica em certa ordem, ou começo, meio e fim, que não precisa ser uma conclusão final. Começo é a base, o conceito de algo ou como começou uma situação ou fato. Meio é como nos posicionamos face ao ocorrido, que ocorrerá, um conhecimento, uma informação… Fim é o que podemos concluir parcialmente, porque no geral é preciso refazer esse percurso muitas vezes, ampliando e aprofundando, até uma conclusão plausível, quando puder existir.
- Pensar implica em desconstruir ideias feitas e desconectar-se dos preconceitos, medos, opiniões, tradição, costumes, buscando aspectos novos, nunca vislumbrados, do assunto em questão. Todos podem. Basta dedicar-se.
- Pensar implica em admitir que não se sabe tudo, não se conhece, nem se entende tudo, seja sobre o que for. Sempre há a “outra face da Lua”, desconhecida até nos pormos em flexibilidade mental para enxergar/perceber/entender/ descobrir. Sem medo e sem dependências.
- Pensar implica em “olhar” sob outro ângulo e dar-se oportunidade de “ver” melhor; captar nuances e aspectos antes não percebidos e assim, formar ou renovar pensamentos, conceitos, conhecimentos e em consequência, a forma de agir, em relação a algo ou alguém ou a si mesmo.
- Pensar implica em relações corretas e reais entre fatos, conhecimentos e consequências, fugindo da mediocridade das conclusões precipitadas, tendenciosas, falaciosas, ilusórias ou forjadas. Observação, análise e seriedade.
- Pensar implica em persistência e fazer as necessárias pesquisas e experiências com os novos pensamentos, pondo-os a prova nas ações e estudos do dia a dia, para que mostrem sua validade, funcionalidade e veracidade. Só a teoria nos deixa hipócritas, sem querer, pois, dizemos algo e continuamos agindo da forma antiga.
Por agora basta. Se família e escola não ensinam a pensar, façamos por nós, saindo da mesmice.