Revista Espírita, dezembro de 1859
O senhor Van B…, de La Haye, presente à sessão, deu conta do fato seguinte, que lhe foi pessoal.
Numa reunião Espírita, à qual assistia, em La Haye, um Espírito, que se designou sob o nome de Dirkse Lammers, se manifestou espontaneamente. Interrogado sobre as particularidades que lhe concernem, e sobre o motivo de sua visita no meio de pessoas que não o conheciam, e que não o chamaram, contou assim a sua história:
“Eu vivia em 1592, e fui enforcado no lugar onde estais neste momento, numa estrebaria de vacas, que existia então sobre o local da casa atual. Eis em quais circunstâncias: eu tinha um cão, e minha vizinha tinha galinhas. Meu cão estrangulou suas galinhas, e a vizinha, para disso se vingar, envenenou meu cão. Na minha cólera, bati e feri essa mulher; ela atacou-me na justiça, e fui condenado a três meses de prisão e a 25 florins de multa. Se bem que a condenação fosse bastante leve por isso não foi menor meu ódio contra o advogado X….. que a havia provocado, e resolvi me vingar dele. Em consequência, esperei num caminho abandonado que ele tomava todas as tardes para ir a Loosduinen, perto de La Haye; estrangulei-o e pendurei-o numa árvore. Para fazer crer num suicídio, coloquei no seu bolso um papel preparado de antemão, como sendo escrito por ele, e pelo qual dizia não acusar ninguém de sua morte, visto que ele mesmo tirara sua vida. Desde esse momento, o remorso perseguiu-me, e três meses depois me enforquei, como disse, no lugar onde estais. Vim, impelido por uma força à qual não pude resistir, confessar meu crime, na esperança que isso poderá, talvez, trazer algum alívio à pena que suporto desde então.”
Esse relato feito com detalhes tão circunstanciais, tendo espantado a assembleia, tomaram-se informações e soube-se, pelas pesquisas feitas no estado civil, que, com efeito, em 1592, um advogado, de nome X…… enforcou-se no caminho de Loosduinen.
Tendo sido evocado, na sessão da Sociedade do dia 11 de novembro de 1859, o Espírito de Dirksen Lammers se manifestou por atos de violência, quebrando os lápis. Sua escrita era irregular, grossa, quase ilegível, e o médium experimentou uma dificuldade extrema para traçar os caracteres.
Evocação
1. Evocação. Eis-me. Por que fazer?
2. Reconheceis aqui uma pessoa com a qual recentemente vos comunicastes? – R. Dei bastante provas de minha lucidez e de minha boa vontade: isso deveria bastar.
3. Com qual objetivo vos comunicastes, espontaneamente, na casa do senhor Van D…..? – R. Eu não o sei; fui enviado para lá; e não tinha, por mim mesmo, grande vontade para contar o que fui forçado a dizer.
4. Quem vos obrigou a fazê-lo? – R. A força que nos conduz: disso não sei nada mais; fui arrastado, apesar de mim, e forçado a obedecer aos Espíritos que tinham direito de se fazerem obedecer.
5. Fostes constrangido a atender ao nosso apelo? – R. Muito: aqui não estou no meu lugar.
6. Sois feliz como Espírito? – R. Bela pergunta!
7. Que podemos fazer para vos ser agradável? – R. É que desejais fazer alguma coisa que me seja agradável!
8. Certamente: a caridade nos ordena ser útil, quando o podemos, tanto para os Espíritos quanto para os homens. Uma vez que sois infeliz, chamaremos sobre vós a misericórdia de Deus: nós nos empenharemos em pedir por vós. – R. Eis, há séculos, as primeiras palavras desta natureza que me são dirigidas. Oh! Obrigado! Obrigado! Por Deus! Que isso não seja uma vã promessa, eu vos peço.