Autor: Marcus De Mario
Dois de cada 3 presos no Brasil são negros. De cada 10 vítimas de assassinato, 8 são negros. A proporção de negros nas cadeias aumentou 14% nos últimos 15 anos. 66,7% dos presos brasileiros são negros, a maioria jovens, na faixa etária de 18 a 24 anos. Esses dados são revelados pelo 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e que não podemos deixar passar, ainda mais quando sabemos que na escola pública brasileira a maior parte dos alunos é composta de crianças e jovens negras e oriundas de comunidades pobres. E também quando sabemos que nos institutos destinados a jovens infratores encontramos o mesmo quadro.
A discriminação racial no Brasil é um fato, principalmente contra os negros, que ainda carregam o estigma da escravidão ocorrida por três séculos em nosso país, em que o negro não tinha direitos e valia menos que um animal de carga.
É triste constatarmos isso em pleno século 21, ainda assistindo essa brutal discriminação, embora nossa legislação proclame a igualdade de direitos e condene toda forma de preconceito, discriminação e intolerância racial. Mas nem sempre o que está na letra corresponde ao que de fato acontece, e não precisamos fazer análises filosóficas, sociológicas, antropológicas e outras para entendermos isso, pois vivenciamos essa realidade no dia a dia de nossas vidas.
Se necessitamos aperfeiçoar nossas leis, nossa justiça, precisamos igualmente, e com urgência, revermos nossa educação, que continua distanciada do combate à discriminação racial, que continua ignorando a questão do preconceito, que continua afastada do desenvolvimento do senso moral das novas gerações, afinal todo o sistema educacional brasileiro está estruturado em ensinar conteúdos curriculares de disciplinas previamente formatadas, numa carga quase absurda de deveres que os professores têm que cumprir e que não lhes permite trabalhar as questões socio-emocionais suas e dos seus alunos.
Pergunto: até quando vamos fingir que a discriminação racial contra os negros não existe no Brasil?
Os mais pobres são pardos ou negros. Os salários mais baixos são para os pardos e negros. Boa parte dos alunos das escolas públicas, gratuitas, são pardos e negros. A violência policial é contra pardos e negros. As prisões estão lotadas de pardos e negros. E ainda falamos que o brasileiro – branco – não é preconceituoso e discriminatório?
Somente iremos superar esse estigma social através da educação, mas a educação preocupada também em trabalhar o desenvolvimento emocional, trabalhar a formação ética e cidadã das crianças e jovens, que assim, paulatinamente, levarão o Brasil a um novo patamar nas relações interpessoais, onde não haverá mais espaço para a intolerância racial, pois a solidariedade e a fraternidade suplantarão esse atavismo secular que carregamos.
Não temos que aguardar esse futuro, temos que construí-lo a partir de agora, pois o amanhã depende do hoje, e nada existe que justifique esse quadro social tão doloroso de discriminação racial que caracteriza ainda o nosso Brasil.