Autor: Davilson Silva
Só se deve recorrer a Deus ou a Jesus Cristo quando precisamos de um conselho nos momentos de dúvida, de aflição de algum tipo de dificuldade? Há uma crença nos atos providenciais dos “mortos” e outra que repudia quaisquer intercessões entre o homem e Deus ou Jesus. A primeira crença permite que se recorra a intercessores; a segunda, não os admite em hipótese alguma e alegam que é “pecado” consultá-los; conforme os dessa crença, os mortos não atendem ninguém, e sim o Diabo, “adversário de Deus”, o qual pode astutamente se passar por qualquer um dando conselhos.
A primeira crença, ou seja, a da intercessão, admite petitórios, aconselhamentos, enfim, toda a ajuda desejada, mas somente a mortos santificados ou beatificados pelos seus maiorais. Como a segunda crença, ela acredita também na influência do Diabo entre o homem e Deus ou Jesus, por isso, proíbe pedidos, conselhos fora do âmbito de suas convicções.(1)
Para essas duas crenças, qualquer um pode ser habilidosamente enganado pelo suposto infausto personagem, havendo ainda outra particularidade entre elas: o antirreencarnacionismo. É claro, né?! Adeptas do dogma dos “castigos” e “gozos celestiais eternos”, só tinham mesmo é que negar a Lei da Reencarnação. Ao se oporem a tal Lei, ao negá-la, não sabem, ou não querem saber, da enorme diferença entre o Deus que eles incensam e o Deus de Jesus.
A culpa é do Diabo
Há séculos, disseminando medo, essas duas formas de crer fizeram recair culpas alheias e todos os reveses sobre o dito personagem ao qual dão tanto valor, por isso o chamam “rei dos Demônios”. Atribuem-lhe toda a culpa, alegam que este viveria a sugerir que homens e mulheres tornem-se corrompidos, pratiquem toda espécie de maldade. Ora! Diabo nenhum tenta ninguém a fazer isto ou aquilo! Acontece é que, estando magneticamente unidos uns aos outros, em maior ou em menor grau, emitimos criações mentais, originadas por nós mesmos, para os que conosco se assemelhem.
E quanto a espíritas? Há algum mal em se recorrer a um Espírito desencarnado, em vez de recorrer a Deus ou a Jesus? Neste particular, para o espírita não há mal nenhum em se pedir conselho, auxílio a uma Entidade. Desde que o pedido não fira nem cause prejuízos ou danos a outrem, tendo sempre em vista um fim útil, após ponderada apreciação do teor da rogativa, o espírita pode e deve utilizar-se da prece àquele com o qual simpatiza.
Há bondosos Seres invisíveis entre os Céus e a Terra que se interessam por nós, sobretudo, em momentos difíceis. Eles, fraternos, devotos de seus protegidos, denominam-se o que Sócrates e Platão deram a conhecer: gênios, ou daimon, ou démon, em grego, isto é, Espíritos protetores que pertencem a uma ordem de Entidades nobres. (2) Conforme disseram os Espíritos São Luís e Santo Agostinho, esses Espíritos se ligam a um indivíduo para bem protegê-lo e fazê-lo cada vez mais crescer moralmente, e nunca para causar-lhe mal, afastá-lo das virtudes. (O Livro dos Espíritos (L.E.), questão 496).
É como um pai
O Espírito protetor de uma pessoa atua como um pai bondoso e justo a conduzir o filho pelo caminho do bem, do progresso intelecto-moral. Cada pessoa deste nosso mundo recebe constante amparo do seu guia-protetor, porque este assim o escolheu por missão ou mesmo por dever. Nosso Protetor se sente responsabilizado desde o processo reencarnatório até o momento do desenlace e vela por nós com extrema bondade, por simpatia ou por simples encargo.
Protetores unem-se aos seus protegidos, a partir da encarnação (nascimento) até o dia de sua desencarnação (morte), e o segue frequentemente. Ao regressar à existência espiritual, eles continuam amparando o tutelado. A morte do corpo não livra ninguém de responsabilidades, segundo os Espíritos disseram a Allan Kardec no que este perguntara quando se dava a ligação do Protetor com o protegido (L.E., q. 492).
Não é consoladora a idéia de possuirmos um Ser superior que deseja o nosso progresso, o nosso bem-estar? Graças à Doutrina Espírita, hoje entendemos a incalculável bondade e justiça divina e podemos ter uma perfeita definição conceitual do pensamento de Jesus. Onde estivermos, o nosso Anjo da guarda estará bem pertinho de nós, a nos induzir à prática irrestrita do bem sob os mais inefáveis e doces impulsos.
Sim! Os chamados Anjos da guarda prontificam-se sempre a nos prestar auxílio. O nome deles? Pouco importa! Podem não ter sido famosos na Terra, e podemos invocá-los com o nome de qualquer Entidade com a qual simpatizemos. Esses Espíritos se regozijam com nossa vitória e sofrem ao sucumbirmos nas provações. Nosso Protetor nos envolve em uma como inefável fragrância de paz em tempos de alegria, e na tristeza, balsamizam-nos os sofrimentos, consolando e infundindo esperança na bondade do Altíssimo.
Deus não abandona
Eventualmente, porém, ele pode suspender a referida benigna missão. Sim! Com o propósito de cumprir tarefas mais elevadas e muito acima de nosso alcance, o nosso Protetor de nós se afastará, mas, neste caso, é substituído por outro. Deus não deixa qualquer um de Seus filhos ao abandono e concede-nos a graça de não ficarmos sem quem nos proteja (q. 494).
Os Espíritos protetores cumprem à risca os interesses divinos, dedicam-se aos que julgam dignos de seu desvelo. Às ocultas, fazem por onde livrá-los do perigo, advertem-nos quanto a maus pensamentos, más palavras, más atitudes, permitindo-lhes o exercício do livre-arbítrio com o desejo de que adquiram a condição de responsáveis. Ah, se todos os homens comprovassem, admitissem o poder de sublimados desígnios morais a unir todas as criaturas do Universo visível e invisível!
Mas atenção! Os Anjos da guarda, por um outro motivo, podem suspender o seu amparo. Um Protetor pode se afastar do protegido, se este não ouvir mais seus avisos, se mostrar-se rebelde, desregrado (q. 495). Enfim, para os que cometem abusos, os que escolhem o “caminho que conduz à porta larga”, em vez de escolher o que conduz à “porta estreita”, consoante Jesus (Mateus, 7:13/14), ficarão à mercê da própria sorte.
Deus permite aos Espíritos protetores orientar todos os homens. (3) A Alma, ou Espírito encarnado, deste mundo, tem quem por ela sinta afeto segundo lei da afinidade em qualquer ocasião. Cada um receberá o influxo que lhe diga respeito, seja qual for o seu caráter, bom ou mau, e tudo depende de atender ou não à imponderável voz da consciência.
Conclusão
Creiam assim ou assado, o Espiritismo não só explica, mas justifica por a mais b porque Deus é Deus, sem entrelinhas, sem artigos de fé tidos como impenetráveis à compreensão, sem julgar ou culpar quem quer que seja. Quer acredite nisto, quer não acredite, falará ao íntimo quem conosco combine, conforme nossa maneira de pensar, sentir, falar e agir.
Assim, Espíritos protetores, ou Anjos da Guarda, ou Espíritos familiares, ou Espíritos simpáticos, darão conselhos que suscitam bom senso e atitudes positivas; os maus Espíritos, e não diabos, demônios e outros nomes, nunca os darão. (3) Os maus Espíritos não se ligam à pessoa por mero dever de tentá-la a praticar o mal, mas sim pela facilidade que eles encontram de influenciá-la. Pela invigilância e descuido do homem, Espíritos perversos e vingativos, ou irresponsáveis, ou zombeteiros, ou possuidores de todo defeito moral, por gostos e pendores a ele serão ligados (q. 511). Reiterando, estamos magneticamente associados, uns aos outros, por criações mentais originadas por e a partir de nós próprios, e cada um terá a assistência espiritual que merece pela escolha entre os bons e os maus conselhos.
Notas
1. Para maiores esclarecimentos sobre o que pensa o Espiritismo a respeito do dogma de anjos e demônios, sugerimos a leitura dos capítulos 8.o e 9.o da obra O Céu e o Inferno, de Allan Kardec.
2. No item 5.o do parágrafo 4.o da Introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo temos a seguinte inferência socrática: Após a nossa morte, o gênio (daimon, démon) que nos havia designado durante a vida, nos leva a um lugar onde se reúnem todos os que devem ser conduzidos ao Hades, para o julgamento. As almas, depois de permanecerem no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida, por numerosos e longos períodos. Esta é a doutrina do Anjos guardiãs ou espíritos protetores, e das reencarnações sucessivas, após intervalos mais ou menos longos de erraticidade. (Conclusão de Kardec.)
3. No it. 24, do capítulo 28, consulte em Coletânea de preces espíritas, do mesmo Evangelho: Para pedir um conselho.
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O consolador – Ano 5 – N 218.