Autor: Cláudio Bueno da Silva
Em síntese, o Espiritismo foi organizado visando o desenvolvimento espiritual do homem e o centro espírita é o local onde preferencialmente os homens se reúnem para estudá-lo, embora possam fazê-lo em outros lugares. Ocorre que, pelas características e exigências teórico-práticas dos estudos espíritas, é mais razoável concentrar as atividades num local específico onde possam se desenvolver satisfatória e progressivamente e onde o público interessado em conhecer o Espiritismo possa ter acesso.
O estudo é o principal objetivo do centro espírita, conforme realça Allan Kardec na edição de abril de 1860 da Revista Espírita, no artigo “Considerações sobre o objetivo da sociedade” ¹, e como sugere em várias outras passagens da sua obra.
As demais finalidades do centro espírita, também importantes, como a divulgação da doutrina, as reuniões mediúnicas, o atendimento fraterno, os passes, a assistência social etc., vêm como consequência das conclusões que o estudo proporciona. Aquele que procura o centro buscando algum benefício e sai bem orientado, leva consigo instruções que lhe serão úteis para a vida, ainda que nunca mais retorne ali. Essas instruções, sempre de cunho moral, são o motivo principal da intervenção do trabalhador na casa espírita e devem ser a prioridade em qualquer atendimento, sejam quais forem as demandas, seja de homens, seja de Espíritos. Mesmo o visitante casual não pode deixar o centro espírita sem pelo menos levar uma boa impressão daquilo que vê e ouve ali.
Recordo-me de um “atendimento fraterno” que fiz, certa feita, a um policial que vivia o drama de ter matado uma pessoa no exercício do seu trabalho. Consumido pelo trauma, vivia atormentado. Depois de esclarecê-lo com o conhecimento espírita relativo ao assunto, encaminhei-o para um tratamento de passes. Nunca mais o vi, senão numa tarde, tempos depois, em que ele entrou na minha loja comercial e me reconheceu. Conversamos e ele disse estar bem melhor e que aquela entrevista o animara a procurar não só o apoio dos livros, mas também a ajuda de um psicólogo, como eu recomendara.
Em outra ocasião, numa reunião de desobsessão, recebemos a comovente visita de um ex-obsessor que se dizia arrependido e, agora calmo e sensibilizado, agradecia as ideias construtivas que recolhera no grupo e que o encheram de esperanças novas quanto ao futuro. Consultada pela equipe de trabalho, no retorno à entrevista, a ex-obsidiada confirmou com muita tranquilidade o bem-estar que sentia agora. Animada, queria retomar os estudos espíritas que abandonara.
Esses dois exemplos simples mostram como o estudo da doutrina pode dar mais segurança, eficiência e qualidade na realização de todo o conjunto de atividades do centro espírita, na medida em que gera no trabalhador a compreensão de como minorar as necessidades humanas de qualquer ordem, de forma a suscitar no beneficiário a vontade de desenvolver recursos para transformar a própria vida. Não se trata de convencer ninguém, nem fazer prosélitos, mas simplesmente não perder nenhuma oportunidade de orientar corretamente as pessoas com a visão espírita das coisas.
Por isso, os cursos de doutrina são tão importantes no centro espírita, como meios de instrução principalmente, mas também como forma de fixar colaboradores, preparados pelo estudo, nas diversas áreas de trabalho da instituição.
O bom desempenho da casa espírita depende da boa formação doutrinária e da conduta pessoal dos seus dirigentes e colaboradores, além da convergência de propósitos dos trabalhadores para um mesmo foco, no caso, “amai-vos e instruí-vos”. Não basta dizer-se espírita e não estar compromissado com o modo de ver do Espiritismo.
Isso tem, sobretudo, relação direta com o tipo de influência espiritual que a casa recebe. Quanto mais as diretrizes do centro espírita estiverem ajustadas às normas doutrinárias da codificação e aos padrões morais do evangelho, maior a assistência dos bons Espíritos.
Trabalhadores unidos e fraternos podem fazer muito pela causa do bem, esclarecendo os frequentadores do centro espírita sobre as questões fundamentais da vida, além de consolar e atender suas expectativas mais imediatas. Quanto mais preparados estiverem, mais contribuirão com o processo de transformação da sociedade em que se inserem, através das ideias renovadoras do Espiritismo.
Nota
¹ Referência à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Allan Kardec, em 1º de abril de 1858.
O consolador – Ano 8 – N 388