Autora: Cristina Sarraf
Temos livre arbítrio, nos informou o Espiritismo, deixando claro que podemos escolher o que pensar, fazer e ser. Certamente, esse livre arbítrio é dependente de nosso grau evolutivo e do quanto estejamos interessados em usá-lo, porque toda capacidade ou função se desenvolve e amplia, pelo uso.
Então, quanto mais evoluímos, mais nosso arbítrio se distende. E também, se temos vontade de aprender a utilizá-lo melhor, a cada momento teremos uma oportunidade.
Por outro lado, ficando acomodados, submissos ou indiferentes ao que se passa conosco, diminuímos e atrasamos nosso exercício de optar e decidir.
Na verdade, podemos até escolher não escolher…
De modo geral, não se costuma dar muita atenção a esse poder de escolha, no que diz respeito ao que pensamos e sentimos. Entendamos poder no sentido de eu posso e não de poderio pessoal. Então, essa desatenção faz parecer que não há escolhas quanto ao pensar e sentir. Ficamos mais atentos ao que os outros pensam, demonstram sentir e fazem, sobretudo quando isso nos incomoda ou difere do que gostaríamos que fosse.
Quem age assim, volta-se para fora de si, buscando controlar pessoas e situações. É um tipo de postura ensinada e aprendida desde muito tempo, sobretudo na moral religiosa. Por isso, é fácil agir desse modo, mesmo sem perceber, por ser costumeiro e socialmente aceito. Na contrapartida, nos ausentamos muito de nós mesmos, dificultando o autoconhecimento e o discernir do porquê das escolhas que temos feito.
No vai da valsa, como diziam nossos avós, a vida moderna é exigente e rápida; desgastante energeticamente; e o tempo tem sido tão escasso, que boa parte das pessoas não encontra momentos para reflexão, auto-análise e avaliação de como tem pensado, sentido, escolhido e porquê o faz.
Decisões sempre terceirizadas, por comodismo, por insegurança, para não assumir responsabilidade ou para supervalorizar o outro, acabam criando uma insatisfação íntima e um desgosto, que levam a reações de auto-abandono ou agressão, dependendo do tipo psicológico da pessoa.
Conversando, vemos que o ser humano sabe que tem um poder de decidir, de optar, mas também sabe que o exercício dessa condição demanda certo esforço e, muitas vezes, uma mudança na maneira de ser, cujo “preço” é temido. Há o temor de perder afetos, considerações, posições e ganhos; de revelar suas verdades e ser rejeitado; de enfrentar o ego alheio, e sair-se mal…
Os modismos sociais também nos iludem, dando-nos a impressão de que estamos decidindo, quando muitas vezes, só há imitação e repetição do que alguém já fez. Apesar disso, se o coração está satisfeito, valeu a opção. Mas se não está, em nome do que continuamos desse modo? O que sentimos, determina nossas condições espirituais e físicas, acima de tudo, por mais que o racional queira maquiar as coisas!
E aqui entra a sábia pergunta que se tornou título desse artigo: É isso mesmo, que eu quero para mim?
Uma resposta sincera, que venha do fundo d´alma, liberta dos automatismos que nublam o exame da postura que temos tido, face ao nosso livre arbítrio.
É nesse pensamento que, realmente, quero pensar?
É esse sentimento, mesmo, que quero cultivar?
É dessa forma que quero agir?
Essa reação vem, verdadeiramente, de mim?
Essa escolha veio, mesmo, de mim?
É nessa situação que eu quero ficar?
Esse é um excelente exercício que podemos fazer, em benefício de nossa coerência e satisfação interior.
Outras perguntas poderão ser acrescidas. Mas, quando uma resposta for negativa, estaremos cientes do que ocorre e poderemos buscar as condições para retomarmos a posse de nosso arbítrio, usando da vontade e do bom senso.
Facilita muito, iniciar o exercício pelas pequenas coisas da vida material. Depois, as mais complexas…
Por que estou bebendo esse suco? Eu queria? Comprei porque a propaganda indicou ou porque tive vontade? Estou gostando dele ou é muito doce? Quero que me vejam tomando-o ou isso nada tem a ver?
Claro que aceitar, acatar, atender o que outros nos dizem, quando escolhido conscientemente, faz parte da naturalidade da vida. Até porque, podem ter razão… Mas se essa anuência tem ocorrido sem exame, ou mesmo sem notarmos que ocorre, é urgente a necessidade de examinar o que nos leva a esse descuido pessoal.