Autor: André Ricardo de Souza
Ditado pelo espírito Emmanuel e publicado em 1942, o livro Paulo e Estêvão foi considerado por Francisco Cândido Xavier a sua principal obra mediúnica e classificado pela Federação Espírita Brasileira (FEB), que o editou, como um “romance histórico”. Romance é definido no principal dicionário (Ferreira, 2004, p. 1771) como: “descrição longa de ações de personagens fictícios; descrição exagerada ou fantasiosa; enredo de coisas e falas inacreditáveis; fato ou episódio real, mas tão complicado que parece inacreditável”. Já um romance histórico é definido, corretamente, no Wikipédia como: “um gênero literário em prosa em que a narrativa ficcional se ambienta no passado” [1].
O presente artigo contesta a tipificação de Paulo e Estêvão como romance histórico, argumentando em prol do reconhecimento da veracidade integral desse livro sobre a trajetória de Paulo de Tarso e o cristianismo nascente.
Decorrências da classificação como um romance histórico
Tendo-me tornado espírita somente em 1999, demorei dez anos para ler Paulo e Estêvão, inconscientemente, devido à associação generalizada entre romance e ficção, a despeito do meu reconhecimento a Emmanuel e Chico Xavier. Depois deste, li com muito interesse e atenção os demais “romances históricos” publicados por essa dupla. Cabe dizer que a grande valorização já feita dessa obra (mas, infelizmente, parece, deixada de lado) pelo juiz de direito Haroldo Dutra Dias me despertou a atenção para sua leitura. Porém aqueles vídeos de palestras e entrevistas no YouTube, bem como o seminário literomusical a respeito do tema protagonizado por ele, concretamente, não atingiram ou não convenceram uma parte do movimento espírita. A primeira vez que me deparei com essa realidade foi em 2017quando uma liderança de um centro espírita paulistano, pessoa com perfil intelectualizado, afirmou durante um pequeno seminário voltado a integrantes da própria comunidade religiosa que Abigail seria exemplo de uma “invenção poética” de Emmanuel para tornar bela a narrativa do livro.
Mas a evidência de significativo descrédito no meio espírita da principal obra psicografada pelo saudoso médium só apareceu a mim quando assisti na televisão paga Amazon Prime, em 2020, ao filme Paulo de Tarso e a história do cristianismo primitivo, de tipo ‘docudrama’, combinando aspectos de documentário e encenações. Produzido, dirigido e narrado pelojornalista André Marouço, apresentador de programas na TV Mundo Maior, ligada à Fundação André Luiz – FEAL [2], contava no elenco com o renomado ator Caio Blat interpretando Estêvão. Entrou em cartaz no cinema em 3 de outubro de 2019 – dia do nascimento de Allan Kardec, vale lembrar – tendo havido campanha de divulgação dele junto a núcleos espíritas, tal como ocorrera com outros filmes do gênero. Seu diretor explicou assim o fato de o longa-metragem ter sido pouco assistido no cinema: “esse tipo de filme não consegue grande abrangência no mercado comercial porque não se trata de um romance” [grifo meu][3].
No longa-metragem, é narrada a trajetória de Paulo de Tarso, mostrando-se muitas imagens atuais dos lugares por ele percorrido, com base nos textos bíblicos: Atos dos Apóstolos e cartas paulinas. Há nele comentários de alguns conhecidos palestrantes espíritas [4], principalmente do professor de ciências da religião, vinculado à Universidade Federal da Paraíba, Severino Celestino da Silva, que é igualmente apresentador de programas na TV Mundo Maior. Pesquisador bíblico e organizador de viagens comerciais para grupos espíritas à Palestina e à Europa, Celestino foi curador, ou seja, consultor do filme.
Embora seja enfatizado no longa-metragem – através das falas de Celestino, Ruiz e Lucca – a influência que Estêvão teve sobre toda a trajetória do apóstolo dos gentios, o livro de Emmanuel não tem nenhum de seus trechos reproduzidos e, mais que isso, não é sequer citado. Outro dado elucidativo do descrédito da obra psicografada por Chico Xavier é a afirmação por Marouço no filme: “Os cristãos, após a romanização, aprenderam a idolatrar líderes religiosos, oradores, autores e médiuns como seres dotados de infalibilidade” [5]. Vale registrar também que o longa-metragem comete apenas um erro, porém importante, também em relação a Atos dos Apóstolos mediante a afirmação de que “Entre os mais desconfiados da conversão de Paulo estava o apóstolo Pedro”.
Contradizendo Paulo e Estêvão, o filme aponta não Simão Pedro, mas sim Tiago Menor como sendo, desde o início, o legítimo e grande líder da primeira comunidade cristã em Jerusalém, chamada de Casa do Caminho na obra de Emmanuel. No capítulo 15 de seu livro intitulado O evangelho e o cristianismo primitivo (2010), Severino Celestino destaca o papel de Tiago reverberando a posição de dois teólogos que viveram no século III: Eusébio de Cesareia (265-339) e Clemente de Alexandria (150-215), de que o apóstolo seria irmão biológico de Jesus [6]. O fato de Paulo de Tarso se referir a Tiago como “irmão do Senhor” na Carta aos Gálatas (1:19) reforça tal interpretação, embora pesquisadores contemporâneos, também não católicos, afirmem serem eles apenas parentes. Ocorre que o espírito Humberto de Campos (2013), na obra Boa Nova – cuja primeira edição foi publicada em 1941 – também psicografada por Chico Xavier, esclarece a questão dizendo na página 35:
Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas.
Por fim, no item 7 do capítulo 14 de O Evangelho segundo o espiritismo, Kardec (2002, [1864] complementa e também resolve definitivamente o problema interpretativo (ao menos para os espíritas) ao afirmar:
Pelo que concerne a seus irmãos, sabe-se que não o estimavam. Espíritos pouco adiantados, não lhe compreendiam a missão: tinham por excêntrico o seu proceder e seus ensinamentos não os tocavam, tanto que nenhum deles o seguiu como discípulo” [grifo meu].
Eis por que Jesus confiou os cuidados de Maria de Nazaré (profundamente cristã) ao apóstolo João, irmão de Tiago Maior, que a tomou como espécie de mãe adotiva, algo também ressaltado no livro Boa Nova, em consonância com os ditos de Jesus a ambos na cruz, conforme João 19 (26-27):
Então, ao ver Jesus a sua mãe e, de pé ao seu lado, o discípulo que ele amava, diz à sua mãe: Mulher, eis o teu filho. A seguir, diz ao discípulo: Eis a tua mãe. Desde aquela hora, o discípulo a recebeu em sua própria casa.
Além do longa-metragem de André Marouço, outro filme espírita foi elaborado sobre o convertido de Damasco, sendo este, porém, um documentário dividido em 15 episódios e exibido apenas no YouTube a partir de maio de 2020. Intitulado Paulo de Tarso: o médium de Cristo, foi produzido e narrado pelo advogado com mestrado em filosofia Paulo Cezar Fernandes. Semelhantemente à anterior, esta produção também é repleta de imagens, além de fotografias, colhidas em viagem de setenta dias do diretor e sua esposa por lugares onde o apóstolo percorreu na Turquia, bem como: Israel, Grécia, Chipre e Itália. No documentário, ao menos, Paulo e Estêvão tem sua capa exibida, é mencionado algumas vezes e aparece enquanto um dos seis livros citados como obras de referência. Porém Fernandes opta por transcrever na tela exclusivamente trechos de Atos dos Apóstolos, ignorando a versão de Emmanuel sobre acontecimentos importantes, dentre eles o apedrejamento de Estêvão e as experiências de Paulo, pouco depois de sua conversão, tanto no Oásis de Dan [7]quanto em Tarso. Mais que isso, o fundamental papel exercido pelo mártir na intermediação entre Jesus e o apóstolo dos gentios é desconsiderado no próprio nome do documentário [8]. Verifica-se, portanto, que o livro psicografado por Chico Xavier é efetivamente secundário enquanto referência, na elaboração desta produção.
Biografias de Paulo de Tarso
Com o texto introdutório “Breve notícia”, Emmanuel explica, já no primeiro parágrafo da obra Paulo e Estêvão, o sentido da existência dela.
Não são poucos os trabalhos que correm mundo, relativamente à tarefa gloriosa do Apóstolo dos gentios. É justo, pois, esperarmos a interrogativa: – Por que mais um livro sobre Paulo de Tarso?
Há realmente muitas obras literárias sobre o apóstolo dos gentios, sendo a mais importante, do século XIX, São Paulo(1869), publicada no Brasil com o título Paulo: o 13º apóstolo(2003),do famoso historiador francês Ernest Renan (1823-1892). Tal livro, que aborda as epístolas paulinas, foi uma das duas declaradas referências para a primeira biografia nacional do convertido de Damasco, redigida pelo filósofo espiritualista catarinense Huberto Rohden (1893-1981) Paulo de Tarso: o maior bandeirante do Evangelho (2003), vendida também em livrarias espíritas. Bem mais conhecida que esta, em tal meio, é a obra do renomado escritor espírita fluminense Hermínio Corrêa de Miranda (1920-2013), editada em dois volumes, sendo o segundo sobre Martinho Lutero e o primeiro, publicado em 1974, a respeito do missionário de Tarso: As marcas do Cristo: Paulo, o apóstolo dos gentios (2010)[9].
Editada pela FEB, o livro de Hermínio cita Renan e outras fontes, principalmente Paulo e Estêvão, cujo conteúdo o autor reproduz, sem uso de aspas, em mais da metade da obra, de modo misturado, portanto, com os seus escritos. A despeito de tal importância, o então presidente febiano Francisco Thiesen – que prefacia o livro – não o cita, optando por mencionar outras obras de Emmanuel: A caminho da luz (1939); O consolador (1941); Caminho verdade e vida (1949).O próprio Hermínio vai citar pela primeira vez, discretamente, Paulo e Estêvão já na página 60 do livro. Entretanto, ele faz questão de contradizer Ernest Renan e outros biógrafos de Paulo de Tarso, em prol da veracidade da obra de Emmanuel ao afirmar na página 59:
Aos judeus, fala dentro de um contexto de formas-pensamentos judaicos. A prova está na sua belíssima Epístola aos Hebreus, que, de tão impregnada pela carga emocional do Apóstolo já envelhecido, é considerada por muitos como apócrifa[10].
No meio acadêmico, tem destaque o livro Paulo: uma biografia (2018), do teólogo inglês e bispo emérito anglicano, além de pesquisador da Universidade de Oxford e reconhecido especialista no Novo Testamento, Nicholas Thomas Wright. Antes dela, ele havia publicado uma obra bastante importante intitulada Paulo: novas perspectivas (2009). Também merece menção a biografia Paulo de Tarso: história de um apóstolo (2007), escrita pelo igualmente teólogo, mas irlandês e católico, além de padre dominicano e professor de Novo Testamento na Escola Bíblica de Jerusalém, Jerome Murphy-O´Connor (1935-2013). Ele havia publicado antes Paulo: biografia crítica (1996). Vale registrar que em seus livros apontados, Wright não cita O´Connor e ambos não mencionam Ernest Renan.
Embora não seja citado por nenhum dos autores listados acima, com exceção de Huberto Rohden, a biografia mais completa – dada a amplitude da investigação expressa na riqueza de dados expostos – é intitulada Paulo de Tarso (2008)e foi publicada orginalmente em 1937 pelo católico padre alemão Josef Holzner (1875-1947), cuja cronologia de Paulo de Tarso, basicamente, corresponde à apontada também por Nicholas Wright. Fruto de uma pesquisa de três décadas, o livro de Holzner [11], com 574 páginas (o também volumoso de Wrighttem 477), cita Renan e mais outras dezenas de autores. Não por acaso, sua obra é a que mais se aproxima de Paulo e Estêvão, conforme veremos.
Cruzando biografias e textos bíblicos com a obra de Emmanuel
Algumas passagens de Atos dos Apóstolos contradizem Paulo e Estêvão, devendo-se parcialmente a isso a opção dos diretores de filmes espíritas por se basearem no livro bíblico do evangelista Lucas, em prejuízo da obra de Emmanuel. A principal contradição envolve a relação entre Paulo de Tarso e Estêvão, ainda encarnado. Em Atos e nas biografias do convertido de Damasco, afirma-se que o apedrejamento [12] ocorreu além dos muros, ou seja, fora da cidade de Jerusalém, de modo condizente, portanto, com o fato de, supostamente, não ter havido permissão da autoridade romana para a execução na cidade, tal como prescrito na lei do Império (Wright, 2018, p. 54) e também como acontecera em relação Jesus [13]. Cabe dizer que Lucas escreveu Atos na sequência do seu evangelho, algo que lhe havia sido sugerido por seu grande amigo Paulo, como se pode deduzir, de modo racional, independentemente do relato a respeito na obra de Emmanuel [14].
No livro psicografado por Chico Xavier, quando Paulo está sendo levado preso a Roma, muitos cristãos vêm comovidamente até ele, em Éfeso, se despedir e Lucas então lhe diz da intenção de registrar o fato em seus futuros escritos bíblicos. O convertido de Damasco, no entanto, determinou que isso não fosse feito e que tampouco o evangelista escrevesse sobre as virtudes pessoais paulinas. Conforme ressalta Hermínio Miranda (2010, p. 71), Lucas seguiu tal determinação. Mas em contrapartida, ele desobedeceu Paulo ao relatar parte de seus feitos virtuosos e, principalmente, ao permitir-se elaborar uma versão não criminalizante do apóstolo, ao menos quanto à deliberação e coordenação do extermínio de Estêvão. De minha parte, permito-me dizer que esta é uma lógica interpretação espírita do sentido de tal contradição entre os dois textos.
Faço tal interpretação baseando-me, ao menos parcialmente, numa seção do primeiro capítulo da obra do padre alemão, denominada: “Estêvão e Saulo”. Nela Holzner (2008, p. 33-34), relata algo que não consta do livro Atos, qual seja: o acirrado debate ocorrido entre ambos:
Seria um erro considerar a nova Igreja como uma entidade independente e autônoma,com organização própria e separada do judaísmo. Por enquanto, apresentava-se unicamente sob a forma bastante livre de uma sinagoga, embora não contasse com um edifício próprio para o culto. Distinguia-se apenas por uma crença impressionantemente fervorosa no Messias, pela caridade fraterna que unia os seus adeptos, pelas refeições em comum e pelo culto místico e eucarístico a Jesus, aliás envolto num certo mistério (At 2, 42-46). Estêvão era um dos seus principais representantes, e aparentemente foi ele o primeiro a manifestar com clareza o valor definitivo e universal da Igreja, contrapondo-o ao significado preparatório limitado da Lei mosaica. Saulo encontrava-se, pois, diante de um inimigo respeitável. Dirijamo-nos por um momento a uma sinagoga de Jerusalém. Sobre o pórtico de entrada, lê-se em aramaico e grego; “Sinagoga dos Cilícios”. Gente de todas as comunidades da diáspora acotovela-se à porta, porque hoje é dia de grande luta. A casa está repleta; terminaram já a leitura da Escritura e o sermão, e começa a controvérsia. Por detrás de um pilar, Pedro e João observam a cena. No centro, sobre um estrado mais alto, vemos Estêvão, e na sua frente destaca-se um vulto esguio, consumido por um fogo interior: é um jovem rabino de Tarso, que vai cruzar a espada com um dos maiores espíritos da jovem igreja (…) Compreendemos, pois, com que violência Estêvão e Saulo, os defensores de duas concepções absolutamente opostas acerca da vinda do Messias, tinham de enfrentar-se (…) Saulo era um contendor de forte talento oratório, mas Estêvão demonstrou ser-lhe amplamente superior. Ninguém podia resistir “à sabedoria e ao Espírito que o inspiravam” (At 6,10), ao passo que o fariseu só podia opor-lhe as áridas palavras da Lei: “Maldito todo o que pende do madeiro”
Baseando-se em alguns trechos de Atos e na sua pesquisa pessoal, Josef Holzner relata resumidamente o que Emmanuel (2013, p. 80-89) inseriu em detalhes em seu livro sobre Paulo de Tarso, quanto ao embate entre ambos, ocorrido na Casa do Caminho, chamada pelo padre alemão de “Sinagoga dos Cilícios”. Nunca é demais dizer ao eventual leitor não espírita que Chico Xavier teria enorme dificuldade para acessar e consultar, com um intérprete, o livro publicado na Alemanha em 1937, apenas quatro anos antes de ele psicografar a referida obra.
Há também contradições entre Atos e algumas epístolas de Paulo. Os três pequenos trechos reunidos a seguir, do livro de Holzner (2008, p. 60-62), tratam disso e também do período de três anos, intervalo apontado também por Wright (2018), de isolamento desértico do aposto dos gentios cuja grande importância na comprovação da história de Paulo e Estêvão será abordada no presente artigo mais adiante:
Sobre os acontecimentos dos anos seguintes, existem divergências aparentes entre a narração de São Lucas e as indicações fornecidas pelo Apóstolo na carta aos Gálatas. Há, evidentemente, uma lacuna os Atos. “Alguns dias” (At 9, 20) não são suficientes pra preparar uma atividade missionaria duradoura, e também não é provável que Paulo tivesse começado a pregar logo após a sua conversão: não combina com o que sabemos das grandes algumas que transfiguraram o mundo depois de se terem convertido (…)“Parti para a Arábia”. O termo “Arábia” era um conceito muito lato: aplicava-se a toda a península arábica até Damasco e mesmo até o Eufrates (…) Este retiro de quase três anos foi o tempo mais contemplativo (…) Aqui começou, sob a direção do Espírito de Cristo, o grande processo de transformação interior a que ele próprio se refere na Epístola aos Filipenses (3, 7-11).
Entre as biografias é também a de Josef Holzner (2008, p. 75; 79) a que interpreta de modo mais racional o período do apóstolo dos gentios na sua cidade natal Tarso – apontada nelas como sendo de uma década – após deixar Jerusalém já como cristão convertido, havendo notável similaridade com a indicação de apenas três anos, contida na história narrada por Emmanuel:
Parece-nos mais provável, porém, que vivesse no bairro dos judeus de Tarso, na rua dos tecelões, pois já vimos que, como filho de fariseus, se exercitara quando jovem no trabalho de tecelagem (…) Há uma intrínseca probabilidade de que Saulo tenha passado os três ou quatro anos seguintes em silêncio, à espera de um novo chamamento de Deus. Por vezes, Deus faz esperar longamente os seus escolhidos. Como o Mestre em Nazaré, também Paulo devia estar preparado para o momento em que fosse chamado.
Vale registrar, entretanto, uma notável semelhança parcial com Paulo e Estêvão também na obra de Wright (2018, p. 99), que, com base na Carta aos Romanos (9:1-5), faz menção à decepção e tristeza do apóstolo em relação a seus parentes. O teólogo inglês também cogita a possibilidade de ele ter tido romance com uma mulher, sendo em seu entender, mas plausível que:
Paulo tenha sido prometido a alguém desde cedo, provavelmente à filha de algum amigo de família, e voltou para Tarso, ávido por vê-la outra vez, mas também preocupado de como tudo se desenrolaria e também orando para que ela também viessea conhecer Jesus (…) Mas ela, ou os pais dela, haviam rompido o noivado ao descobrirem que o enérgico jovem Saulo havia retornado com sua cabeça e seu coração repletos da horrenda insensatez sobre o Nazareno crucificado. Teria Saulo conseguido, como dizemos, “esquecê-la”? [grifo meu] Ninguém sabe (Wright, 2018, p. 101).
Para finalizar esse cruzamento entre a obra de Emmanuel, biografias e textos bíblicos cabe dizer que Holzner (2008, p. 75) também sublinha a autoria paulina da Carta aos Hebreus, cuja escrita foi feita diretamente pelo convertido de Damasco, sem nenhum de seus jovens auxiliares grafando pergaminhos e marcada por bastante comoção, como registrado no livro psicografado por Chico Xavier:
Na Epístola aos Hebreus, que foi escrita segundo a mente do Apóstolo e contém boa parte do tesouro das suas ideias [grifo meu], alude-se precisamente à oração do Senhor na sua angústia mortal: “O qual nos dias da sua carne, ofereceu preces e súplicas, com grandes brados e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte” (Hebr. 5, 7).
Outros indícios e um fato que denotam a veracidade de Paulo e Estêvão
Além dos indícios de veracidade histórica de Paulo e Estêvão acima apontados, cabe indicar ainda mais três, todos relacionados à cidade grega de Corinto, onde nasceu o mártir e também sua irmã Abigail, que o livro aponta como noiva do apóstolo dos gentios, falecida pouco depois de se converter ao cristianismo.
Já foi dito no meio espírita, publicamente, por Haroldo Dias que as ruas da capital da antiga província de Acaia – descritas por Emmanuel como “suntuosas” – são de mármore, conforme as descobertas arqueológicas feitas (Crook, 2018, p. 32-33). Em viagens àquela cidade, outros dois militantes espíritas observaram aspectos condizentes com o livro psicografado por Chico Xavier. Parceiro de Dias, o músico Júlio Adriano Corradi indica que o tempo de um mês, que era necessário para um navio atravessar a antiga estrada de 6,4 km no istmo (estreita faixa de terra) sobre rodas de madeira – pois só foi construído em 1893 um canal de água ali [15] – correspondia ao período que Jesiel (nome hebraico e anterior de Estêvão) permaneceu preso, com feridas cicatrizando, até que ele pudesse adentrar como escravo numa embarcação típica da época, denominada galera. Por fim, o literato Altino Mageste, que organiza viagens para grupos espíritas, sem fins lucrativos, àquela e a outras cidades constantes das obras históricas de Emmanuel, aponta que os mapas de Corinto e a descrição detalhadamente feita no livro permitem localizar a prisão onde Estêvão, sua irmã e seu pai Jochebed foram encarcerados.
Vistos estes indícios todos, chegamos, enfim, a um fato que evidencia a veracidade da história narrada por Emmanuel. Para entendê-lo, comecemos pelo que diz Josef Holzner (2008, p. 63; 82) sobre Paulo de Tarso:
Ele próprio preferia chamar-lhe “o meu evangelho”, “que não recebi nem aprendi de homem, mas por revelação de Jesus Cristo” (Gal. 1, 12; cv. Ef 3, 4-5), ou seja, o seu conhecimento do plano de salvação universal anunciado por Deus.
(…) Custa-nos avaliar como a permanência na Arábia e estes anos passados em Tarso foram importantes e decisivos pra a evolução interior e o amadurecimento da teologia paulina. Quando Paulo, nas suas cartas, fala tanto do ‘seu Evangelho’, é em Tarso que devemos procurar os princípios desse conhecimento maravilhoso.
E vejamos também a reflexão a respeito de Nicholas Thomas Wright (2018, p. 79; 84):
Aparentemente, ele havia sido acusado de extrair, dos apóstolos de Jerusalém, um “evangelho” de segunda mão. (…) Paulo, em outras palavras, não está apenas deixando claro em Gálatas 1 – 2 que seu “evangelho” lhe foi dado diretamente, e não adquirido, em segunda mão, por meio dos líderes de Jerusalém, como também está esclarecendo que seu chamado e comissionamento o posicionaram na antiga tradição profética, seja de Isaías, Jeremias, seja do próprio Elias.
Além da Carta aos Gálatas e da Carta aos Efésios, tal referência de Paulo a “seu evangelho” está presente ainda em dois trechos da Carta aos Romanos (2:16 e 16:15) e naquela que foi a sua última epístola, a comovente Segunda Carta a Timóteo (2:18). Chama, de fato, atenção esse estranho personalismo de Paulo ao utilizar a expressão “meu evangelho” para a boa nova que, em verdade, é de Jesus. Holzner, (2008, p. 63) buscou assim explicá-lo:
Isto não quer dizer que possuísse um evangelho diferente do dos outros Apóstolos; nesse caso, teria sido expulso da Igreja nascente. Mas anunciava-o com uma energia, uma coerência e uma força de palavra sem igual, e imprimia-lhe um cunho tão pessoal e inigualável, introduzindo nele o mundo do intelectual helênico, que bem podia dizer: “o meu evangelho”.
Wright (2018, p. 80), por sua vez, também procurou dar uma explicação a respeito:
Paulo está, portanto, insistindo que sua mensagem partiu dele mesmo: ele a havia recebido do próprio Jesus, não de outros membros do movimento. Ela viera, diz ele “por meio de uma revelação de Jesus, o Messias” (Gálatas 1:12).
Se a interpretação feita por Holzner é racional e verossímil, a de Wright dá margem a pensar que Jesus teria feito revelações exclusivamente a Paulo de Tarso, algo, porém que o mesmo, em verdade, não explicitou nas suas epístolas e tampouco em Atos, escrito por Lucas. Considerando-se que o diálogo com o Messias às portas de Damasco foi várias vezes mencionado, seria de se esperar que o mesmo ocorresse quanto a tais revelações, se elas houvessem.
Porém a interpretação feita por Josef Holzner não é, contudo, satisfatória. Pois se considerarmos que o período paulino em isolamento de três anos, antes de ele dialogar por um período bastante curto (provavelmente algumas semanas) com os apóstolos em Jerusalém e também o intervalo seguinte, novamente isolado por três anos em Tarso, foram muito importantes para sua reflexão sobre Jesus, uma dúvida permanece. Qual seja: somente a releitura minuciosa dos textos da lei mosaica e dos profetas, à luz dos acontecimentos, então recentes ainda, teriam sido suficientes para todo o discernimento feito por ele? Se acrescermos a isso o fato de a expressão “meu evangelho” – ou se quisermos: “a minha boa nova”, objetivamente, portanto: não a de Jesus – ser atribuída a alguém como ele, cuja trajetória apostolar foi marcada pela abnegação, a dúvida a respeito só faz aumentar.
Pois é na obra de Emmanuel que se encontra, não apenas a explicação mais lógica do fato, mas a resposta a esse verdadeiro enigma: Paulo de Tarso usou a expressão “meu evangelho” porque ele efetivamente possuía e guardava com bastante zelo pergaminhos contendo anotações sobre os ensinos de Jesus Cristo, ou seja, uma das cópias do evangelho escrito por Mateus, também chamado de Levi. Sendo este o único apóstolo com ofício típico de alguém letrado (cobrador de impostos) que permanecera seguindo o Messias junto com humildes pescadores, era natural que buscasse fazer tal registro.
Conforme narra o livro psicografado por Chico Xavier, o “evangelho de Paulo”, havia sido doado a ele por seu ex-professor de infância e juventude, o também convertido rabino Gamaliel, ainda no início do primeiro período de isolamento paulino. Este, por sua vez, recebera o documento como presente das mãos de Simão Pedro, em retribuição por uma visita cordial feita à Casa do Caminho, antes ainda do martírio de Estêvão. Relata Emmanuel que, durante a primeira viagem missionária de Paulo, feita com seu amigo Barnabé à Ilha de Chipre [16], ambos sofreram um assalto enquanto estavam, à noite, numa caverna falando de um “verdadeiro tesouro”: o evangelho de Jesus em posse deles. Um dos dois ladrões, disse ter ouvido e então exigiu a entrega de tal riqueza junto com outros pertences, sendo isso feito serenamente pelo apóstolo dos gentios. Vale reproduzir o diálogo que Barnabé e Paulo tiveram na manhã seguinte:
– Estou resignado com a carência absoluta de recursos materiais, mas não posso esquecer que nos subtraíram também as anotações evangélicas que possuíamos. Como recomeçar nossa tarefa? Se temos de cor grande parte dos ensinamentos, não poderemos conferir todas as expressões…
Paulo, todavia, fez um gesto significativo e, desabotoando a túnica, retirou alguma coisa que guardava junto do coração [grifo meu].
– Enganas-te, Barnabé – disse com um sorriso otimista -, tenho aqui o Evangelho que me recorda a bondade de Gamaliel. Foi um presente de Simão Pedro ao meu velho mentor, que, por sua vez, mo deu pouco antes de morrer.
(Xavier; Emmanuel, 2013 p. 312-313)
Como se pode ver, Paulo de Tarso não apenas possuía uma cópia do primeiro escrito sobre a boa nova de Jesus, mas tinha nela um grande valor simbólico-sentimental dada a trajetória que o documento teve até chegar às suas mãos, permanecendo consigo após aquele assalto, algo que o fez permitir-se chamar de “meu evangelho”. Com tal expressão o apóstolo dos gentios também parece advertir com veemência as comunidades cristãs formadas por ele para não distorcerem o evangelho, copiado igualmente por elas. Essa racional dedução só reforça a constatação da existência daquelas anotações. Contrariamente ao que afirmam pesquisadores, inclusive espíritas, em vez da Primeira Carta aos Tessalonicenses, portanto, foi aquele o primeiro documento do Novo Testamento [17].
Contribuições de Paulo e Estêvão e como o livro foi designado por Emmanuel
Além de ser a principal biografia do convertido de Damasco e também um fundamental registro histórico do cristianismo nascente [18], o relato em Paulo e Estêvão contém, em detalhes, a valorização que o apóstolo dos gentios deu às mulheres nas comunidades cristãs, algo que Holzner (2008, p. 199-201) eWright (2018, p. 101-102) ressaltaram em contraposição ao machismo amplamente atribuído a ele. Cabe dizer que o professor universitário e padre jesuíta polonês Norbert Baumert (1932-2019) também abordou o tema das mulheres na trajetória missionária de Paulo mediante uma ampla pesquisa publicada na Alemanha em 1992 sobre a epístolas paulinas, incluindo erros cometidos de tradução delas (Baumert, 1999). Além de ressaltar a dignidade feminina, o livro psicografado por Chico Xavier traz ainda em uma nota a definição mais sucinta e clara existente sobre algo muito importante na Bíblia e no mundial segmento cristão:
Ninguém deverá ignorar que Espírito Santo designa a legião dos Espíritos santificados na luz e no amor, que cooperam com o Cristo desde os primeiros tempos da Humanidade.
(Xavier; Emmanuel, 2013, p. 7)
Creio que a presente reflexão sobre a veracidade do relato em tal livro cabe também, de algum modo, quanto às obras congêneres de Emmanuel, chamadas igualmente pela FEB e o movimento espírita de “romances históricos”. Neste sentido, vejamos o que seu autor diz nos três textos de introdução delas, respectivamente: Cinquenta anos depois (2004) [1940]; Renúncia (2015)[1944][19]; e Ave Cristo (2015) [1953].
Se leste as páginas singelas do ‘Há dois mil anos’ é possível que procures aqui a continuação das lutas intensas, vividas pelas suas personagens reais, na arena de lutas redentoras da Terra. É por esse motivo que me sinto obrigado a explicar-te alguma coisa, com respeito ao desdobramento desta nova história [grifos meus].
(Xavier; Emmanuel, 2004, p. 7)
Para as almas sinceras, que ainda solucem nos laços do desânimo e desalento, a história de Alcíone [grifo meu] é um bálsamo reconfortador”.
(Xavier; Emmanuel, 2015, p. 8)
Alinhando, pois, as reminiscências deste livro, não nos propomos romancear, fazer literatura de ficção, mas sim trazer aos nossos companheiros do Cristianismo redivivo, na seara espírita, breve página da história sublime dos pioneiros da fé [grifos meus]
(Xavier; Emmanuel, 2015, p. 8)
Pode-se observar que na introdução das três obras, seu autor espiritual emprega a palavra história, em vez de romance, sendo isso categórico e explícito na última delas, publicada em 1953. Cabe, por fim, vermos como ele se referiu especificamente a Paulo e Estêvão. A primeira vez, em 18 de fevereiro de 1941, numa mensagem psicografada por Chico Xavier durante uma reunião doméstica na casa de seu chefe, Rômulo Joviano, na Fazenda Modelo – lugar onde a obra foi transcrita ao papel durante oito meses – Emmanuel utiliza o referido termo.
Que Jesus recompense a todos pela cooperação ao esforço humilde na história [grifo meu] do grande apóstolo dos gentios.
(Xavier; Emmanuel, 2014, p. 153)
Porém, quatro meses depois e exatos treze dias antes de assinar o texto introdutório de Paulo e Estêvão, o mentor de Chico Xavier não utilizou a palavra história para se referir à obra:
Os retoques ao livro da biografia romanceada de Paulo de Tarso poderemos concluir em breves dias.
(Xavier; Emmanuel, 2014, p. 159)
O uso da expressão “biografia romanceada” [20] não remete a uma biografia fictícia, mas sim a algo escrito com beleza literária, o que não significa redigida com omissão ou então suavização de fatos, por vezes, violentos. E isso é explicitado, mais uma vez, pelo próprio Emmanuel, também no texto introdutório da obra:
Esclareceremos, ainda, que não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada (…) A contribuição de Estêvão e de outras personagens desta história real [grifo meu] vem confirmar a necessidade e a universalidade da lei de cooperação.
(Xavier; Emmanuel, 2013, p. 7; 9)
Devido aos escritos espirituais reproduzidos acima e por causa de tudo que já foi dito neste pequeno artigo, defendo que tais obras sejam reclassificadas pela FEB não mais como “romances históricos”, mas sim como livros históricos de Emmanuel, o que elas realmente são. Creio também que um glossário ao final de cada uma delas, contendo o significado das palavras ausentes do nosso cotidiano desta fase do século XXI, ajudaria bastante a difundir sua importante leitura nos segmentos menos intelectualizados, ou seja, as popularizaria mais. E tenho bastante esperança de que Paulo e Estêvão se torne um belo filme espírita.
Conclusão
Foram objetivamente expostas neste singelo texto as razões pelas quais podemos reconhecer a veracidade da história narrada no livro Paulo e Estêvão. Além de fazer isso com base nelas, trata-se de considerar – sem qualquer traço de idolatria – o testemunho missionário de Chico Xavier junto com Emmanuel e guiado por este em suas obras psicográficas e na prática de vida. Há diversos vídeos disponíveis no YouTube de palestras públicas nas quais é mencionado o fato de os protagonistas da história narrada no livro terem-se tornado visíveis ao médium, muito comovido em pranto, quando terminada a psicografia do livro, para agradecerem a fidelidade com a qual ela havia sido transcrita.
Naquele momento, terminava uma empreitada que tivera início com uma reunião no mundo espiritual para tratar da elaboração dessa obra literária, supervisionada pelo próprio Paulo de Tarso, conforme relato de Arnaldo Rocha, que foi amigo próximo de Chico Xavier, contado diretamente a mim pelo também médium mineiro Wagner Gomes da Paixão. Por sua vez, outro amigo de Chico, além de editor de parte de seus livros e igualmente natural de Minas Gerais, Geraldo Lemos Neto, complementa nesse sentido ao afirmar que Emmanuel foi uma espécie de “médium da história de Paulo e Estêvão através daqueles que viveram essa história” [21]. Ele respalda tal afirmação em mensagem de Emmanuel psicografada na casa de Rômulo Joviano em 25/06/1941:
A biografia de Paulo tem trazido muitos lembranças amáveis e preciosas de antigos companheiros de luta. Se fosse registrar todos os pedidos de amigos do grande apóstolo, o livro custaria a chegar ao término. São negociantes de Colossos, proprietários de Laudiceia, antigos trabalhadores de Tessalônica, figuras de toda a Ásia, antigos filhos do cativeiro e do patriciado de Roma, que me trazem subsídios para iluminar o quadro em que viveu o inesquecível apóstolo. Mas a relação se torna impraticável, contudo, tudo o que eu puder trazer-vos de agradável não deixarei de o fazer.
(Xavier; Emmanuel, 2014, p. 155)
Para dizer, por fim, do propósito através do presente texto [22], cabe relembrar o motivo pelo qual Emmanuel ditou o livro a Chico Xavier:
Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante. As Igrejas amornecidas da atualidade e os falsos desejos dos crentes, nos diversos setores do Cristianismo, justificam as nossas intenções [grifo meu, relembrando que por “igrejas”, evidentemente, se entende as comunidades cristãs em geral, inclusive as espíritas].
(Xavier; Emmanuel, 2014, p. 7)
O autor parece ter pretendido, com sua obra, assoprar a brasa do real amor fraterno nas casas espíritas para que elas busquem, verdadeiramente, inspirar-se nas autênticas comunidades cristãs, conforme o registro em Atos dos Apóstolos(2: 44-47), na descrição da Casa do Caminho até ocorrer a prisão de Estêvão, bem como da comunidade liderada por Barnabé e Paulo em Antioquia e também, diria eu, da italiana Porciúncula medieval, conduzida por Francisco de Assis. E para encerrar este singelo artigo em prol do reconhecimento da veracidade da história narrada por Emmanuel, deixo aqui parte das palavras finais do Nosso Senhor Jesus Cristo na obra ao recomendar a Paulo de Tarso (Xavier; Emmanuel, 2013, p. 378) que enviasse cartas às comunidades por ele formadas:“Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome; os de boa vontade saberão compreender”.
Referências
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[1] Link-1 Acesso em: 10/02/2021.
[2] O longa-metragem contou com apoio promocional de: TV Mundo Maior, Rádio Boa Nova, Mundo Maior Filmes – todas vinculadas à FEAL – além da Rádio Rio de Janeiro e da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP), assim como o patrocínio da TV Alvorada Espírita.
[3] Link-2. Acesso em 23/2/2021.
[4] André Luiz Ruiz, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Jorge Damas Martins e José Carlos de Lucca. Cabe lembrar que Perri escreveu o texto “70 anos de Paulo e Estêvão” que compõe a edição comemorativa das sete décadas da obra, publicada, em 2012, enquanto ele presidia a FEB.
[5] Embora haja no meio espírita, realmente, idolatria de determinadas pessoas com tais perfis, o fato é que o diretor do filme se referiu, de modo subliminar, a Chico Xavier e seu livro psicografado.
[6] Em duas edições do programa “Abrindo a Bíblia”, da TV Mundo Maior, exibidos: em 03/09/2010 e 011/04/2011 e disponíveis no YouTube, Celestino abordou a suposta liderança exercida de modo inconteste, em seu entender, por Tiago Menor na comunidade cristã de Jerusalém, fazendo ele menção ao O evangelho apócrifo de Tomé, documento que ganhou uma edição voltada ao segmento espírita (Miranda, 2007).
[7]NaCarta aos Gálatas (1:15-17), Paulo de Tarso se refere a tal lugar, genericamente, apenas como“Arábia”.
[8] Interessante observar que mesmo no filme Irmãos de fé (2004), da Columbia Pictures, que contou com consultoria do bispo emérito católico dom Fernando Figueiredo e a participação do renomado ator Tiago Lacerda e do famoso padre Marcelo Rossi, é reconhecido, de algum modo, o papel de Estêvão na trajetória de Paulo. Isto se dá pouco antes do final, quando a irmã do mártir, denominada no longa-metragem de Macária, aparece junto com o convertido de Damasco, estando ele em pranto, de joelhos e abraçado a ela enquanto esta lhe diz: “meu irmão está ao seu lado, abençoando e aprovando cada passo seu”.
[9] Hermínio Miranda também se baseia em Ernest Renan a quem atribui o fato de apontar, em seu respectivo livro, várias semelhanças entre Paulo de Tarso e Lutero. Geraldo Lemos Neto, que foi amigo próximo de Chico Xavier, apontou numa entrevista disponível no YouTube (Link-3 acesso em: 10/02/2021) que foi Emmanuel, através de Chico, que fez a Miranda a revelação de que Lutero e Paulo de Tarso são o mesmo espírito.
[10] Entretanto, pesquisas contemporâneas baseadas, em boa medida, na obra Contra Celso (2011), finalizada no ano 248 pelo teólogo egípcio Orígenes de Alexandria (185-254), reconhecem a autoria paulina desta carta (Andrade, 2003; Barbosa, 2018).
[11] Obra da vida desse sacerdote, que foi capelão militar durante a I Guerra Mundial, depois pároco num pequeno município de seu país e professor de religião da também cidade alemã Munique.
[12] Cabe dizer que Emmanuel (2013, p. 9; p. 298) não se refere a Estêvão como o primeiro, mas sim o “grande mártir do cristianismo” e, depois, o “mártir do cristianismo”. Ele faz isso de modo coerente, pois no livro Há dois mil anos (2009), publicado em 1939, dos mesmos: autor e médium, é relatado o martírio cronologicamente anterior de Simeão, aquele que encaminhou para a seara cristã Lívia, a esposa do senador romano Públio Lentulus (Assunção, 2014a; 2014b), que, através da psicografia de Chico Xavier, foi revelado como reencarnação de Emmanuel.
[13] Ocorre que Paulo de Tarso, conforme o livro de Emmanuel (2013, p. 110), solicitou pessoalmente ao procurador romano a permissão para a execução de Estêvão dentro da cidade, o que a tornou, portanto, um ato legal.
[14] O apóstolo dos gentios pretendia escrever um evangelho contendo, entre outras coisas, o relato sobre o nascimento de Jesus, por isso colheu, pessoalmente, o depoimento de Maria de Nazaré. Denota-se que, ao compreender que não daria conta da empreitada, devido às tarefas perante as comunidades cristãs formadas por ele e sua prisão, Paulo a delegou para Lucas – único evangelista a tratar de Jesus na infância – transmitindo-lhe as informações que já havia reunido até então.
[15] Link-1 Acesso em: 21/03/2021
[16] Já sem a presença do jovem João Marcos que deixara o trio para retornar a Jerusalém, sem não antes receber de Paulo de Tarso recomendações relevantes, algo que talvez o tenha influenciado a escrever, mais tarde, o Evangelho de Marcos, com base nas memórias de Simão Pedro.
[17] Ao referir-se à Epístola aos Tessalonicences em seu livro sobre as cartas paulinas, Cesar Perri de Carvalho (2016), afirma: “Segundo Champlin [2014], seria o primeiro texto de autoria do Apóstolo e também o primeiro do Novo Testamento”. Já no filme Paulo de Tarso e a história do cristianismo primitivo, André Marouço assevera que o documento inaugural da segunda parte da Bíblia seria tal epístola de Paulo.
[18] Emmanuel opta pelo termo cristianismo nascente em vez de cristianismo primitivo. Isto faz refletir, uma vez que ‘primitivo’ remete a ‘atrasado’, sendo que as destacadas comunidades cristãs pioneiras são, na verdade, referência para as contemporâneas.
[19] Tal livro foi objeto de investigação, quanto à veracidade histórica, do químico e pesquisador espírita, com doutorado na área ambiental, Gilmar Trivelato, havendo vídeos seus a respeito no YouTube.
[20] Algo que aparece também na introdução do livro e que talvez tenha contribuído para a FEB classificá-lo como um romance histórico, tal como fizera com os dois anteriores.
[21] Link-1 Acesso em: 27/03/2021.
[22] Lembrando a lei de cooperação – mencionada por Emmanuel em sua obra, como visto acima – quero aqui agradecer às pessoas que dialogaram comigo, em algum momento, ou enviaram suas contribuições para a elaboração deste modesto artigo: Aíla Pinheiro Andrade, Almir Del Prette, Altino Mageste, Cesar Perri, Flávio Mussa Tavares, Geraldo Lemos, Gilmar Trivelato, Júlio Corradi, Tales Argolo, Wagner Paixão e minha esposa Margareth Cecoti de Souza.
Nota
André Ricardo de Souza é doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo, professor associado II do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos e organizador dos livros: Espiritualidade e espiritismo: reflexões para além da religiosidade (Porto de Ideias, 2017) e Dimensões identitárias e assistenciais do espiritismo (Appris, 2020). É integrante do paulistano Núcleo Espírita Coração de Jesus.
O consolador – Especial