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Eduardo Carvalho Monteiro

Psicólogo de formação, pesquisador e escritor de coração, sua curiosidade sempre o levava a ter olhos de ver, onde poucos não enxergavam além de papéis velhos e amarelados. Farejava o novo, ansiava pelo desconhecido.

Aos 55 anos, Eduardo Monteiro estivera internado, desde o dia 17 de outubro, em estado grave, no Hospital Alvorada, em São Paulo, com infecção e complicações renais, em decorrência do diabetes, e retornou ao mundo espiritual na manhã de 15 de dezembro, depois de narrar a um a um dos amigos que o visitaram, a difícil experiência que passara. 

“Falei tanto sobre a dor em minhas palestras, mas agora descobri que eu falava sem conhecimento de causa. Agora eu sei o que é a dor física e a dor moral”. “Na hora do maior desespero, eu só lembrei de gritar: Bezerra! Bezerra! (fazendo menção ao médico espiritual Bezerra de Menezes). Ninguém entendia nada. Eu parecia um louco.” lembra rindo.

Intenso e sincero, ele não deixaria de registrar o que de novo encontrara, ainda que fosse a dor! Narrara a experiência que vivera, a dúvida entre ficar ou partir: “Só quem viveu a experiência quase-morte pode imaginar o significado desse momento. Nessa hora, não se pensa como homem, mas como espírito. A visão da vida é outra. Envolto em uma luz azulada, o bem-estar era indescritível. Por isso, quando fui interrogado pela equipe espiritual se eu queria ficar ou partir, eu disse que queria partir.” Porém, no dia 3 de novembro, exatamente quando completava mais um ano de vida, retornava à consciência, reconhecendo que a vida lhe proporcionara o segundo round. Renascera! Era outra pessoa, talhada pelas experiências da dor. “Jamais serei o mesmo”.

Eduardo comenta com os amigos os planos para quando voltasse à vida normal. “Toda essa pressa, toda essa loucura não valem a pena. As coisas não podem ser dessa forma.” – fazendo referência à vida agitada que levava.

Mas ele realmente partira para a “vida normal” na manhã de 15 de dezembro, em decorrência de parada cardíaca. No fundo sabia que o tempo não seria suficiente para produzir tudo que tinha em mente.

Eduardo Monteiro era espírita desde a adolescência e aplicado nos estudos das ciências herméticas. Ao todo publicou 40 livros, 30 apenas sobre a história do Espiritismo, muitos dos quais biografias de vultos da doutrina, como: Allan Kardec, Léon Denis, Batuíra, Anália Franco, Vitor Hugo, Cairbar Schutel, Jésus Gonçalves e outros.

Foi idealizador de diversas frentes de trabalho ligadas à pesquisa, como a Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas – da qual hoje fazem parte mais de 200 integrantes – e CCDPE – Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, que por decisão do grupo passa a ter o nome de seu idealizador. Nos últimos tempos, Eduardo tinha pressa em instituir uma fundação, onde pudesse disponibilizar para o maior número de pessoas todo acervo que reunira durante anos de pesquisa.

Solteiro, ele transformara sua casa num imenso acervo, com mais de 30 mil livros, coleções de periódicos raros, cerca de 100 mil documentos históricos, muitos dos quais que recebera de toda parte do Brasil e do exterior – provavelmente o maior acervo espírita a atualidade. Seu amor pela doutrina levou-o a investir todos seus recursos financeiros em visitas a todas as bibliotecas e acervos de Paris e região, onde pudesse encontrar informações sobre as origens da história do Espiritismo.

Sua atuação deixara marcas nos inúmeros congressos espíritas de que participara. Trabalhou intensamente para o Congresso Internacional do Espiritismo, de 2004, realizando, inclusive, exposição de materiais raros sobre a difusão do Espiritismo no Brasil e no mundo.

Era assessor pró-memória da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, assessoria instituída na gestão da presidência de Cesar Perri, e além de articulista do jornal Correio Fraterno, escrevia também para a RIE – Revista Internacional de Espiritismo, Revista Universo Espírita e de inúmeros outros periódicos do Brasil.

Nos últimos três anos, deu início à edição do Anuário Histórico Espírita, com o ideal de preservar a memória do Espiritismo no Brasil e no mundo e lançar novos autores, tanto acadêmicos, como tarefeiros do movimento espírita.

Eduardo realizava palestras por todo o Brasil e acabava de retornar de uma série delas, no Rio Grande do Norte. 

Sua primeira obra como biógrafo espírita foi lançada em 1987, através da Editora Espírita Correio Fraterno. Com o título A extraordinária vida de Jésus Gonçalves, teve pronta aceitação dos leitores. Em menos de três meses, esgotaram-se os seis mil exemplares da primeira edição. Ele participou conosco por muitos anos na editora, inclusive com ricas contribuições no jornal Correio Fraterno. Atualmente, uma de suas importantes tarefas era a elaboração da coluna “Baú de Memórias”.

A quantidade de material reunido em acervo, a urgência com que Eduardo colocava no papel os registros históricos, a conclamação de companheiros para as diversas frentes de trabalho por ele idealizadas revelam pistas sobre a provável frase que ele escolheria ao deixar um até breve a todos espíritas: “Ainda há muito o que fazer pela divulgação da doutrina.”

Fonte: Correio Fraterno.

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