Autor: Marcus De Mario
Tive o prazer, recentemente, de visitar o educador Comenius e dele receber preciosos ensinamentos, numa conversa útil e bastante frutífera. Para quem não o conhece, apresento. Trata-se de Johan Amós Comenius (1592-1670), educador tcheco do século 17, autor de livros muito importantes como Pampedia. Didática Magna e O Labirinto do Mundo, entre outros, e que é considerado o pai da pedagogia e da didática.
Como todo homem de visão profunda e ampla, teve muitos problemas para ser reconhecido em sua época, até porque era crítico do sistema educacional existente, propondo coisas que somente foram adotadas muito tempo depois.
Como exemplo do que estamos falando, eis o que ele escreveu em sua obra Pampedia:
“Nosso primeiro desejo é que todos os homens sejam educados, em sua plena humanidade, não apenas um indivíduo, não apenas poucos, nem mesmo muitos, mas todos os homens, reunidos e individualmente, jovens e velhos, ricos e pobres, de nascimento elevado e humilde – numa palavra, qualquer um cujo destino é ter nascido ser humano; de forma que afinal toda a espécie humana seja educada, homens de todas as idades, todas as condições, de ambos os sexos e de todas as nações.”
Em tempos de príncipes e monarcas, guerra religiosa entre católicos e protestantes, onde a mulher praticamente não tinha direitos, o analfabetismo grassava em toda a Europa, e a escola era enfadonha, repleta de latim e retórica acadêmica, a fala de Comenius soava como revolucionária, perigosa, inconsequente, contrária aos interesses políticos e religiosos predominantes.
Hoje nossa compreensão exalta o pensamento comeniano. Sim, os direitos são iguais, para homens e mulheres, para crianças, jovens e adultos, para todos, sem nenhum tipo de distinção. A educação deve a todos ser disponibilizada, com a mesma qualidade.
Contudo, como estamos na prática? Bem longe do discurso, é o que constatamos. E não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo. Basta uma visita aos relatórios e pesquisas da Unesco, por exemplo, para fazer essa constatação.
A educação para todos está consagrada em vários documentos internacionais, assinados pela maioria das nações, mas depois de mais de quatro séculos de Comenius ter feito essa proclamação, ela não está plenamente presente na humanidade.
Discriminações, preconceitos, corrupção, culturas e interesses políticos egoístas têm adiado a melhora e universalização da educação. Precisamos entender que não basta mudar os administradores públicos, nem os representantes políticos da população. Para vermos reais transformações sociais precisamos mudar o caráter dos indivíduos, e isso somente pode acontecer através da educação.
Enquanto ficarmos assistindo as gerações se sucederem e serem lançadas na sociedade sem nenhum ideal superior, sem nenhuma visão global, vivendo apenas para si e as sensações e poderes do momento, nada de melhor poderemos ver no horizonte.
Minha conversa com Comenius rendeu estas reflexões, que espero sejam úteis, para que façamos esforços em priorizar a educação, tão vilipendiada, esgarçada, corrompida e maltratada, mas essencial para o progresso humano.