Autor: Ricardo Baesso de Oliveira
Conversava recentemente com um amigo que coordena atividades de extensão em uma Universidade, e ele comentou sobre a dificuldade em sensibilizar os alunos de Farmácia, Medicina, Fisioterapia, Odontologia e outros para participarem de atividades de alcance social, relacionadas ao próprio curso. Ele me disse:
– Ricardo, eles só se interessam se existir algum tipo de ganho: bolsa, créditos etc. Onde está o espírito de gratuidade? O que aconteceu com essa geração, tão focada nos próprios interesses?
Eu aventei uma opinião:
– Estão reproduzindo o que aprenderam com os pais. Quantos deles observaram os pais visitando enfermos desprovidos de família, ou como voluntários em asilos e creches, ou participando de atividades altruístas em benefício dos mais necessitados?
Não podem agir de forma diferente, pois foram educados a olhar apenas para o próprio umbigo.
O Espírito Joanna de Ângelis, quando trata da educação no lar, disse assim:
– Educar é viver com dignidade.
Ao contrário do que se pensa, educar não é fazer longos sermões, dar lições de moral ou falar sem parar. Educar é comportar-se com correção de caráter, com compaixão e com espírito de solidariedade. E os filhos, desde pequenos, estarão observando e introjetando dentro de si os valores que dão riqueza a nossa vida.
Os desafios, portanto, da educação no lar estão relacionados, sobretudo, ao exemplo. Mas existe outro fator: a autoridade.
Sempre que nós pensamos em autoridade, temos que pensar também em liberdade. As duas precisam caminhar juntas. Porque se ficamos apenas com a autoridade, ela se transforma em autoritarismo. Se ficamos apenas com a liberdade, ela se transforma em libertinagem.
Em uma sala de aula em que alguns alunos fazem bagunça, onde está a liberdade daqueles que querem aprender? O professor precisa exercer a sua autoridade para que isso aconteça.
Muitos pais confundem autoridade com autoritarismo. A autoridade legítima deve se embasar na modéstia e no exemplo.
Sobre o exemplo, já falamos. E a modéstia? Carece de modéstia a autoridade que, a todo momento, precisa se reafirmar, com expressões assim:
– Quem manda em casa sou eu!
– Eu que pago as suas contas!
– Você nada conseguiria sem mim!
Expressões como essas humilham, desgostam e afastam os filhos dos pais. A autoridade deve existir não porque os pais pagam as contas, mas porque viveram mais tempo, tem uma história de vida que os filhos ainda não têm, cometeram mais erros e mais acertos, têm o que dizer, e os filhos têm o que ouvir. Mesmo que sigam outro caminho. Mas têm o dever de ouvir, analisar, e depois, sim, decidirem.
Um ditado chinês diz:
– Se você não sabe aonde ir, converse com quem está voltando.
Sobre a questão da autoridade, eu me recordo do meu primeiro dia de residência médica, em março de 1984, quando o chefe da residência reuniu-se com todos os iniciantes e apresentou a seguinte questão:
– Dois homens são muito honestos: um deles tem vinte anos e o outro setenta. Qual dos dois é mais honesto?
E como nenhum de nós se atrevesse a responder, ele voltou-se e disse:
– O de setenta, porque é honesto há mais tempo.
O consolador – Ano 16 – N 809 – Artigos