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Ensinar a ser humano

Autor: Marcus De Mario

Vamos ver se você consegue saber quem disse esta frase:

“Considerando-se que a educação é para todos, estamos funcionando bem no que se refere à alfabetização e matemática. Nisso somos bastante bons. Mas fracassamos tristemente quando se trata de ensinar aos indivíduos a serem seres humanos”.

Bem, pode ser qualquer educador brasileiro ou estrangeiro, não é mesmo? Na verdade ele não é brasileiro. Quem falou isso foi o professor norte-americano Leo Buscaglia, que a maioria das pessoas aqui no Brasil conhece apenas como autor de livros de autoajuda, o que não corresponde à verdade, pois ele sempre considerou seus livros como pedagógicos, e de fato são.

A indústria editorial transformou Buscaglia em bestseller e, porque ele falava do Amor, logo carimbou seus escritos como autoajuda, para tristeza desse grande educador, que durante muitos anos coordenou o curso “Amor” na Universidade da Carolina do Sul e fez centenas de palestras e workshops sobre educação.

Concordo com Leo Buscaglia: até estamos bem em alfabetização e matemática, pelo menos temos demonstrado aqui no Brasil interesse e empenho nessas duas áreas, mas quanto a ensinar aos indivíduos a serem seres humanos, somos um fracasso.

Eis nossa realidade escolar que não permite dúvida quanto ao tema: escolas desvalorizadas, alunos desmotivados, prática generalizada do bullyng, gravidez precoce na adolescência, agressões contra professores, drogas e violência, tudo isso envolvendo a juventude, que anda longe da cidadania e da ética, ou seja, está muito distante de realmente ter a postura de um ser humano. E falo de um ser humano sensível, consciente, responsável, solidário.

Entupimos nossos jovens de matemática, geografia, língua portuguesa, história, informática, biologia, esportes, sociologia, física, filosofia etc, e não reservamos um tempinho sequer para ensinar amor, cidadania, ética, responsabilidade, participação, autocontrole, solidariedade, respeito. Valores humanos e virtudes estão apenas nos discursos de especialistas em educação, pois a prática escolar só reserva espaço para preparar para vestibular e mercado de trabalho.

Estamos em crise social porque alimentamos geração a geração a crise moral.

O que esperar de jovens que só sabem viver o dia de hoje? Que só sabem consumir? Que só sabem procurar o prazer imediato? Que só olham para si mesmos?

Enquanto não ensinarmos os indivíduos a serem seres humanos, será utopia sonhar com a paz, a honestidade e tudo o mais que sempre desejamos para vivermos dias melhores.

Para dar esse ensino de que nos fala Leo Buscaglia, precisamos aplicar, primeiro em nós e depois aos outros, três passos educacionais importantíssimos: sensibilizarmo-nos, despertarmos e conscientizarmo-nos para nossa realidade humana, reconhecendo que não somos apenas cognitivo, mas também emocional.

Buscaglia dizia que somente ele era suficientemente louco para dar aula de Amor numa universidade. Será que somente eu sou suficientemente louco para dizer que precisamos humanizar a educação e fazer com que o homem aprenda a ser gente?

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