Autor: Marcus De Mario
Repercute a decisão do Ministério da Educação (MEC) em cancelar o vestibular de duas faculdades de Medicina do interior do Estado do Rio de Janeiro, além de exigir cumprimento de normas em outras instituições de ensino superior, restringindo o acesso a alguns cursos enquanto as normas não forem cumpridas. É, devemos dizer, repercussão positiva, pois todos sabem da verdadeira explosão de cursos superiores autorizados pelo MEC desde a década de 1980, com a consequente queda da qualidade do ensino, e que medidas urgentes precisavam ser aplicadas.
A supervisão dos cursos universitários veio em boa hora, talvez tardia, e deve o MEC ser rigoroso, pois não é possível assistirmos levas de alunos diplomados sem qualificação para o exercício da profissão. Se isso é extremamente perigoso na área das ciências exatas, não menos perigoso é na área das ciências humanas, onde destacamos os cursos de Pedagogia que não preparam os alunos, futuros professores, para o trabalho em sala de aula.
Certa vez, conversando com um grupo de pedagogas, fiz, com referência ao assunto que abordávamos, citação de autores e livros, e percebi um olhar de perplexidade e estranhamento. Aprofundando a questão, descobri que nenhuma, e eram formadas por faculdades diferentes, conhecia nem autores, nem livros. Eram verdadeiras analfabetas pedagógicas, se me permitem inventar o termo.
Desse jeito, encontrar um bom professor, realmente preparado para o ofício, só por “milagre”, que é realizado pela força de vontade de quem tem amor para exercer o magistério, e realiza pelo processo da autoeducação o que a faculdade não lhe dá.
Já fiz palestra em sala de aula com oitenta alunos exprimidos em carteiras que não podiam sair do lugar por falta absoluta de espaço, sobrando míseros centímetros entre o quadro branco para anotações e a primeira fileira. Senti-me como deve se sentir um animal encurralado.
Essa realidade é o retrato da educação bancária criticada por Paulo Freire, que nem todo aluno de Pedagogia conhece.
Fala-se muito em ensino de qualidade, quando o correto é abordarmos educação de qualidade, mas nem um nem outro teremos enquanto os cursos superiores de formação continuarem sem qualidade.
Que o MEC proceda rigorosa supervisão, e que os cursos considerados inapropriados sejam embargados, para o bem da educação brasileira, que não pode curvar-se ao interesse particular de grupos empresariais que transformam o ensino universitário numa caixa registradora.
Pensemos nisso!