Aos 5 de Maio de 1910, antes dos 50 anos de idade, desencarnava no Rio de Janeiro o Dr. Ernesto José dos Santos Silva, grande trabalhador da Seara espírita, tendo exercido na Federação Espírita Brasileira os cargos de 2° secretário e de vice-presidente, ao lado do Dr. Dias da Cruz, que presidiu os destinos dessa Casa de 1890 a 1894.
Começara a vida como empregado no comércio, mas – conforme escreve o “Reformador” de 1910 -, nutrindo aspirações de ordem mais elevada, no campo da inteligência, aplicou-se aos estudos e veio a formar-se em Ciências Jurídicas e Sociais, na Faculdade de Direito de S. Paulo, famosa pelos grandes vultos da nacionalidade que por ali passaram.
Foi esta a primeira prova da tenacidade do seu espírito, tenacidade que devia mais tarde pôr em ação quando se converteu ao Espiritismo, a cuja divulgação e propaganda consagrou as suas melhores energias.
Contraindo casamento, veio a ser exemplar chefe de família. Estimado de todos, por sua modéstia e caridade, pela simplicidade e maneiras afáveis com que a todos acolhia, em pouco tempo dobrou ao redor de si o número dos seus sinceros admiradores.
Larga foi a soma de serviços por ele prestadas à Doutrina, quase todos, porém, ocultos nas dobras de sua humildade. Amigo de Bezerra de Menezes, Antônio Saião, Dias da Cruz, Lima e Cirne e de outros venerandos espíritas daquela época, constantemente tomava parte na elaboração de planos ou na resolução de problemas que exigissem conhecimento e madureza de raciocínio.
É assim, por exemplo, que participou da comissão que redigiu um memorial em defesa dos direitos do Espiritismo, contra o novo Código Penal de então, memorial que foi entregue, em 22 de Dezembro de 1890, ao presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca.
Juntamente com Bezerra, Augusto Elias da Silva, Monteiro de Barros, Pinheiro Guedes, Lima e Cirne, Júlio César Leal e outros, foi Ernesto dos Santos Silva um dos diretores do Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil, agremiação que congregava presidentes e representantes de várias associações, com o objetivo de trabalhar por uma espécie de unificação doutrinária do Espiritismo no Brasil.
Muito concorreu ele, pelo seu prestígio, por sua inteligência e bom-senso para o progresso e o desenvolvimento do “Centro da União”, mas, com o correr do tempo, tais foram os desmandos, as incongruências e as absurdidades ali cometidos; que Bezerra de Menezes, em primeiro lugar, e, depois, Augusto Elias da Silva, Ernesto dos Santos Silva e outros diretores, num total de seis, se desligaram do tal “Centro”, reconhecendo que havia mentido à sua missão, conforme Bezerra demonstrou e os fatos vieram confirmar. Esses acontecimentos verificaram-se em 1896 e 1897.
“Crente, era dos que sabem ter a coragem da sua fé, não a alardeando fora de propósito, mas confessando – a intrepidamente, sempre que era necessário, e dela fazendo o escopo principal da sua vida” – assim o afirmava o “Reformador”, ao escrever-lhe o necrológio.
Tendo alcançado na vida pública cargos de prestígio, por último o de consultor jurídico da Prefeitura do Distrito Federal (o atual Estado da Guanabara), nunca se envergonhou de associar à dignidade dos seus trabalhos públicos a nobreza de suas convicções espíritas.
Em 1905 e 1906, respectivamente, foi dado a público notável trabalho (em dois volumes) com o total de 1700 páginas. Tratava-se da “Consolidação das Leis e Posturas Municipais”, escrito por ordem do Dr. Francisco Pereira Passos, então Prefeito do D. F .
Segundo o parecer dado, àquela época, pelo doutor Joaquim Xavier da Silveira Júnior, grande jornalista e político brasileiro, a obra em foco constitui “repositório precioso e sistemático de toda a legislação e de todos os atos públicos que, desde o período colonial, representam a estrutura orgânica, a atividade funcional e o pujante e benemérito prestígio cívico da Municipalidade do Rio de Janeiro, e bem assim de todos os serviços e institutos de interesse comunal”.
Essa obra, pela profusa e copiosa massa de informações, noticiários e dados históricos da ex-capital brasileira e da municipalidade carioca, atesta o elevado grau de cultura e erudição dos seus autores, “dois ilustres cidadãos e provectos funcionários – assim o escrevia o Dr. Xavier da Silveira Júnior -, cujos nomes se lêem no rosto do livro: o Dr. Alexandrino Freire do Amaral, tombo vivo de todo o vasto e colossal acervo administrativo da Municipalidade e tradição de honra do respectivo funcionalismo, e o doutor Ernesto dos Santos Silva, honrado, operoso e competentíssimo consultor técnico da Diretoria de Polícia Administrativa, Arquivo e Estatística”.
Vemos, assim, em pequena amostra, o quanto de bom o nosso biografado deu de seus esforços, quer nas lides do Espiritismo, quer na administração pública, havendo partido deste Mundo “sem ter deixado atrás de si um só ressentimento, antes levantando em torno da sua bondosa figura o afeto c as bênçãos de que por suas obras se tornou credor”.
Fonte: Grandes espíritas do Brasil.