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Esclarecendo a obsessão

Autor: André Luiz Alves JR

Muito se fala em obsessão no meio espírita, mas poucos sabem de fato como acontece o mecanismo de tal doença. Doença? Isso mesmo, a obsessão pode ser considerada uma doença do Espírito que, atingindo graus adiantados, acaba por aniquilar a matéria, ocasionando depressão, loucura e até mesmo o suicídio.

Com nomes diferentes, os fenômenos de obsessão têm atravessado épocas. Até mesmo a bíblia relata alguns acontecimentos nos tempos antigos. Existem casos famosos e outros que se escondem no anonimato. O fato é que a obsessão ainda é frequente nos dias atuais.

Entendendo a obsessão

Allan Kardec em O Livro dos Médiuns define a obsessão como sendo o domínio que alguns Espíritos procuram exercer sobre outros Espíritos, sejam encarnados ou desencarnados. Esta influência sempre acontece de forma negativa, onde o obsidiado (Espírito dominado) é prejudicado de alguma forma, pois aquele que exerce o domínio é sempre um Espírito de tendências nocivas.

Como se desenvolve

De maneira geral a obsessão acontece porque somos Espíritos em evolução necessitando de aperfeiçoamento moral. Sentimentos menos dignos como o egoísmo, o rancor, o ódio, o materialismo e o desejo de vingança ainda estão arraigados em muitos de nós. Aliás, boa parte dos casos de obsessão está relacionada à vingança. Geralmente, aqueles que prejudicamos outrora tendem a nos cobrar o mal que causamos, iniciando assim um processo obsessivo.

A obsessão é desencadeada por nossas próprias condutas viciosas. Nossos pensamentos e atitudes atraem para junto de nós Espíritos afins. É como se abríssemos a porta para o “inimigo”:

“(…) criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. (…) Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo”. (A Gênese, Allan Kardec, capítulo 14º, Item 15.)

Nestes casos, devemos considerar as recomendações do Cristo: “Vigiai e orai […]” (Mateus, 26:41).

É importante ressaltar que a obsessão não é necessariamente a influência de um Espírito desencarnado sobre um Espírito encarnado. Ela pode acontecer de diversas maneiras:

Encarnado para Encarnado

Pode parecer estranho, mas esse tipo de obsessão é uma das mais frequentes. Consiste na capacidade que certas pessoas possuem de manipular as outras, sequestrando de alguma forma a sua subjetividade, como, por exemplo, o marido que restringe a liberdade da esposa por ciúmes ou manifesta um “amor doentio”, anulando de alguma forma a sua personalidade.

Desencarnado para Desencarnado

Nas literaturas espíritas podemos encontrar vários relatos deste tipo de obsessão. Um Espírito desencarnado passa a obsediar um outro Espírito por vingança ou pelo simples desejo de escravizá-lo. Os recém-desencarnados, atormentados pela própria consciência culpada, como homicidas, suicidas, dependentes químicos etc. são mais vulneráveis à investida de falanges maléficas.

Encarnado para Desencarnado

Você deve estar pensando como um Espírito encarnado pode exercer influência sobre um Espírito desencarnado, entretanto, esta situação é mais comum do que imaginamos. É natural sofrermos quando um ente querido retorna para a vida espiritual, todavia, nossas lágrimas produzidas pela dor e revolta contra as leis do Criador provocam aflição no Espírito que partiu. Estas circunstâncias podem atormentar o desencarnado, que passa a ser atraído pelo sofrimento daquele que chora, provocando uma obsessão mútua.

Desencarnado para Encarnado

Este é o que nos parece mais incidente. Caracteriza-se pela influência de um Espírito desencarnado sobre um Espírito encarnado. O obsessor dispõe de recursos que o obsidiado não pode ver por estar limitado ao corpo físico. Ambos tornam-se ligados pela ação do pensamento.

Auto-Obsessão

Nestes casos, o homem apresenta um estado doentio do próprio Espírito, que é capaz de lhe proporcionar graves consequências. Sentem-se doentes fisicamente, entretanto, procuram diagnósticos na medicina convencional e não o encontram. Trazem impressos no seu espírito patologias adquiridas em existências pretéritas, que voltam à tona e passam a produzir uma auto-obsessão. Esta condição pode desencadear no indivíduo transtornos de ansiedade como depressão, bipolaridade e síndrome do pânico.

“O homem não raramente é o obsessor de si mesmo.” (Obras Póstumas – Allan Kardec.)

Estágios da obsessão

Para fins de estudo, Kardec classificou a obsessão em estágios, sendo muito difícil definir onde termina um estágio e inicia-se o outro. Alguns casos de obsessão são tão complexos que os estágios podem aparecer em alternância. Vejamos:

1 – Obsessão Simples

É aquela onde o obsessor tenta insistentemente constranger sua vítima de alguma forma. Em alguns casos, o obsidiado tem condições de perceber a ação daquele que o pretende dominar.

2 – Fascinação

Neste estágio, o Espírito dominado passa a sofrer ação direta do obsessor, que tenta manipular seus pensamentos para provocar ações nocivas.

3 – Subjugação

O Espírito dominante passa a exercer o controle das vontades do obsidiado. Na linguagem popular é conhecida como possessão. O indivíduo fica sob o jugo de seu algoz.

Como tratar

O primeiro passo para se livrar da dominação é a mudança de atitudes. A transformação moral é fator preponderante para o sucesso do tratamento da obsessão. É necessário exercer o domínio dos próprios pensamentos, a fim de que possa elevar o padrão vibratório e se desvencilhar dos domínios inferiores.

 “No que diz respeito ao problema das obsessões espirituais, o paciente é, também, o agente da própria cura.” (Grilhões Partidos, Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco, “Prolusão”.)

Recomenda-se a realização da prece frequentemente, o evangelho no lar para purificar o ambiente, a vigilância dos hábitos e pensamentos nocivos, a prática da caridade e o trabalho edificante. Esses mecanismos devem proporcionar a aproximação dos benfeitores espirituais e consequentemente o afastamento de Espíritos ignorantes.

Aprender a perdoar e pedir perdão também consiste em terapia renovadora e eficaz contra os domínios da obsessão. É necessário entender que a maldade não é um estado definitivo do Espírito. Como Espíritos imperfeitos, somos passíveis de erros e, assim como desejamos ser compreendidos quando erramos, devemos ser complacentes com os erros alheios.

A família do obsediado deve participar do processo de desobsessão, sendo esclarecida acerca da situação para que possa ajudar a vítima em seu restabelecimento. Não raros são os casos de obsessão que se estendem aos outros membros da família. O seio familiar costuma reunir Espíritos unidos pelos mais profundos laços do passado.

Em casos mais complexos é necessário buscar ajuda de uma casa espírita, que poderá aplicar no obsidiado a fluidoterapia e, se for o caso, através de grupos mediúnicos, realizar o trabalho de esclarecimento do Espírito obsessor, conscientizando-o de suas ações e, ao mesmo tempo, oferecer-lhe uma oportunidade de regeneração.

É possível prevenir a obsessão?

Sim. É perfeitamente possível evitar a instalação de um processo obsessivo.
 
Como dissemos anteriormente, a chave para a cura da obsessão está nas mãos do próprio obsidiado, sendo assim, na prevenção, os mecanismos não são diferentes.

A retidão moral constitui vacina eficaz contra a obsessão. É necessário manter a mente ocupada com bons pensamentos, colocar-se em contato com Deus através da prece e dedicar-se ao trabalho digno. A fé, o amor e a caridade são fontes renovadoras de boas energias e nos mantêm em contato com a alta espiritualidade. A obsessão só acontece quando permitimos.

Referências:

A Gênese – Allan Kardec.

Dramas da Obsessão – Yvonne A. Pereira e Espírito de Bezerra De Menezes.

Obsessão e Desobsessão – Suely Caldas Schubert.

O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec.

O Livro dos Médiuns – Allan Kardec. 

O consolador – Ano 7 – N 338

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