Autor: Marcus De Mario
Não se sabe ao certo quando a família se afastou da escola, ou quando a escola se afastou da família, ou mesmo se o sistema escolar sempre colocou a família de lado, ou se a família nunca considerou que devia participar da escola, mas é fato que a escola se queixa da falta de participação da família, e que a família se queixa da falta de abertura da escola. Estamos diante de um conflito, de um dilema que prejudica a educação e a sociedade há muito tempo.
Para encontrarmos uma solução precisamos entender que tanto a família quanto a escola são as duas mais importantes organizações sociais de educação do ser humano; uma não é mais importante que a outra: as duas são essenciais, portanto, devem trabalhar em conjunto, com suas especificidades, mas unidas no mesmo propósito que é o de oferecer a melhor educação para as novas gerações.
Enquanto ficarmos em discussões estéreis sobre o papel de cada uma, o que compete a cada uma, tratando-as de forma isolada, a educação ficará, como está, incompleta, e as crianças e jovens estarão igualmente incompletas, não recebendo o que deveriam receber, entrando na sociedade mal preparadas para encarar a vida de frente e serem transformadoras da humanidade para melhor.
A escola reclama que convida (ou convoca?) a família para reuniões específicas, mas que os pais e responsáveis muitas vezes não comparecem, não mostrando interesse. Mas como podem se interessar por essas reuniões quando na maioria das vezes os professores e a direção escolar só sabem reclamar dos seus filhos? Ou ficam em falas técnicas intermináveis e de pouco proveito? Quando não se tem espaço para um verdadeiro diálogo, onde a escola não está aberta para ouvir?
A educação é processo de desenvolvimento do ser integral que somos, acontecendo na família, na escola e também na vida comum social, por isso a necessidade de termos visão global sobre esse processo, e não uma visão compartimentada, pois tudo está interligado, tudo interage incessantemente. Formamos na humanidade uma verdadeira comunidade de aprendizagem. Aprendemos lendo um livro, navegando na internet, conversando com alguém, olhando a natureza. A educação é uma mescla de aprendizagens informais e formais, daí não ser mais possível olharmos a escola e a família como duas organizações autônomas e de caminhos distintos, que parecem estar em estado permanente de guerra entre seus representantes, os professores e os pais.
Já dizia mestre Pestalozzi que a escola deve se parecer o mais possível com um lar, deve ser uma grande família. E que os professores devem ser como pais para os alunos. Não se trata de fazer da escola substituta da família, mas de aproximá-la do núcleo humano onde somos acolhidos com carinho, amor, afeto. A escola deve ser uma organização viva, humanizada, afetiva, feita por pessoas com pessoas, aberta para a interação com outras organizações, principalmente a família. Nada de muros altos e portões trancafiados (há escolas que mais parecem presídios), e sim abertura para a comunidade, para a participação dos agentes sociais, dos pais, e dos alunos e professores com a comunidade.
Esse caminho é muito melhor do que o caminho hoje trilhado, quando, em família, chegando o convite (convocação!) para a reunião de pais na escola, os pais, os avós e outros responsáveis, entram em pânico para saber quem será o sacrificado da vez para comparecer àquele encontro chato onde se deverá ter muita paciência para ouvir reclamações e pedidos, e onde pouco se terá espaço para falar alguma coisa.
Até quando vamos continuar dissociando a escola da família, e a família da escola?