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Espiritismo e compaixão

Autor: Eder Andrade

Aprendemos com a Doutrina Espírita que devemos ter empatia para com o nosso semelhante, principalmente no que diz respeito ao sofrimento alheio moral e material, assim como ter piedade do que o semelhante vem passando e, quando possível, ter um movimento de o auxiliar de alguma forma, moralmente ou materialmente.

“Sem compaixão não há caridade.” 4 (Cairbar Schutel)

Esse convite de uma mudança de conduta da nossa parte não é recente; Paulo de Tarso, em seus Atos aos Apóstolos, já procurava exortar seus seguidores a não hesitarem diante da dor e das provas; se fazia necessário um testemunho pessoal de acolhimento aos necessitados e sofredores, estendendo sempre as mãos no intuito de auxiliar.

Levando em conta os acontecimentos recentes, fica uma pergunta:

– Em que grau sentimos a necessidade de realmente ajudar as pessoas que cruzam nosso caminho, nas esquinas das ruas da vida? E, quando fazemos esse movimento de ajuda, estamos sendo levados por uma compaixão ou simplesmente por um ato involuntário de dar esmolas, pois aprendemos de forma genérica que devemos ser solidários e ajudar. Um desafio que vai além da nossa proposta íntima de reforma moral.

“A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes.”(E.S.E.)

Em um mundo tão conturbado, onde a sobrevivência material desvia nosso olhar apenas para o nosso dia a dia, fazendo com que o nosso foco de atenção nunca esteja no semelhante, mas apenas nas nossas questões mais imediatas, acaba infelizmente favorecendo um sentimento de egoísmo, que vai se acentuando devido às questões sociais, pelas quais estamos passando. Poucas pessoas se esforçam em ser solidárias às necessidades do próximo, deixando a cargo de instituições filantrópicas arrecadar recursos e alimentos para ajudar as pessoas em condição de risco, que vivem como indigentes ou aqueles cuja sobrevivência dependa de um ganho diário, através de trabalhos como bicos (serviços esporádicos), sem vínculo empregatício.

O grande abismo social que existe favorece uma série de irregularidades, como vários delitos e crimes de diferentes proporções, numa sociedade onde a mobilidade social está engessada e aqueles que poderiam fazer algo para mudar estão empedernidos quanto às necessidades de sobrevivência das camadas mais pobres. “A piedade é a simpatia espontânea e desinteressada que se antepõe à antipatia gratuita moral e material, junto daqueles que no-la despertam, sem o que se torna infrutífera.”4

Essas dificuldades sociais de sobrevivência se tornam um grande desafio para um cidadão comum lutar contra o sentimento de egoísmo que se instalou culturalmente, fruto de um individualismo, pois muitos percebem que assim como ele luta para sobreviver, por que outros se aproveitam do sentimento da caridade alheio para sobreviver sem o mesmo espírito de sacrifício. Mesmo que isso não seja uma verdade, infelizmente, essa ideia se instalou no bojo da nossa sociedade.

“Escasseia, na atual conjuntura terrestre, o sentimento da compaixão. Habituando-se aos próprios problemas e aflições, o homem passa a não perceber os sofrimentos do seu próximo.”(Joanna de Ângelis)

Existem grandes bolsões de miséria próximos aos centros das grandes capitais, onde reencarnam Espíritos com a missão de sobreviver em condições precárias, passando totalmente desapercebidos ao olhar de um indivíduo comum. Às vezes voluntários de instituições que fazem trabalho social com comunidades carentes ficam impressionados, pois existem pessoas que vivem muito abaixo do nível de pobreza extrema e não se dão conta disso, pois sobrevivem um dia de cada vez, sem qualquer expectativa de um futuro ou uma vida melhor. Às vezes encontramos algumas dessas pessoas como catadoras de latinha, diaristas muito simples e analfabetas, que nem o nome sabem assinar e sem capacidade mental de aprender além do necessário. Dentro de um grande universo de uma periferia, onde encontramos um pouco de cada coisa, somente sendo percebido por aqueles que fazem uma releitura da nossa realidade paralela aos grandes centros urbanos.

A noção da reencarnação nos permite avaliar que hoje estamos num momento evolutivo para nosso aprimoramento, porém em uma futura reencarnação podemos vivenciar uma experiência de vida que hoje temos dificuldade em aceitar no outro. Alguns benfeitores espirituais nos dizem que perceber a vida material na condição “de vigília” é uma coisa, porém estando “em desdobramento”, a visão moral da vida é completamente diferente, nos surpreendemos com os Espíritos missionários que por merecimento recebem do alto uma missão e os Espíritos mais comprometidos por misericórdia reencarnam de forma a não se comprometerem tanto, para conseguir avançar um pouco mais. As revelações que existem nos bastidores da vida nos surpreenderiam a todos, principalmente aqueles que já possuem uma visão holística mais apurada e a noção da imortalidade da alma. Com isso somos naturalmente convidados a uma releitura da vida, que nos leva à busca de um outro sentido de existência.

Dessa forma, muitos reencarnam com a tarefa de ajudar através de exemplos a serem seguidos pelos seus familiares diretos, como filhos e irmãos. As limitações mentais de aprendizagem nem sempre são incapacidade de aprendizagem do espírito, mas uma condição reencarnatória, uma solicitação para que as dificuldades ajudem em um burilamento dos sentimentos. Nos tornando mais receptivos às necessidades do próximo, quando aprendemos a nos colocar no lugar do outro e não julgar.

Segundo Allan Kardec, “Fora da Caridade não há salvação”; essa passagem engloba esses dois sentimentos: empatia pelo próximo, assim como a compaixão. Diz-nos o Espírito de Paulo, o apóstolo:

“Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam”.2

Referências

1)  Kardec, Allan; O Evangelho segundo o Espiritismo; FEB; Cap. XIII; it. 17.

2)  _________; __________; Cap. XV; it. 10.

3)  Franco, Divaldo Pereira; Responsabilidade; Ed. LEAL; it. Compaixão.

4)  Xavier, Francisco Cândido; O Espírito da Verdade; FEB; Cap. 96; “Sê Compassivo”.

O consolador – Ano 15 – N 751 – Especial

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