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Espiritismo, Kardecismo e Umbanda

Autor: Marucs De Mario

Muitas pessoas ainda confundem o Espiritismo com crenças e práticas que, na verdade, nada tem com a Doutrina Espírita, e já podemos esclarecer que as denominações corretas são Espiritismo ou Doutrina Espírita, e que seus adeptos são os espíritas ou espiritistas, como muito bem definiu Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, obra fundamental do Espiritismo. E como estamos esclarecendo, o Espiritismo é uma doutrina formada por um conjunto de princípios filosóficos, científicos e religiosos (ou de consequências morais), tendo surgido em 18 de abril de 1857 com o lançamento da obra O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec (pseudônimo do professor Hippolyte Leon Denizard Rivail). Isso aconteceu na França, mais particularmente na cidade de Paris, em plena metade do século 19, depois de pouco mais de dois anos de intensas investigações e observações dos fenômenos de ordem mediúnica, ou espiritual. O Espiritismo não é obra de um homem, e sim dos Espíritos, que, através de diversos médiuns, ditaram as instruções, os esclarecimentos, os ensinos. Coube a Kardec organizar, selecionar, pensar, perguntar e publicar, motivo pelo qual ele sempre insistiu em dizer que o Espiritismo é doutrina dos espíritos.

Podemos agora fazer outro esclarecimento: não existe o kardecismo e, portanto, também não existem kardecistas. Existe o Espiritismo e os espíritas, e ponto final. A palavra kardecismo nos remete ao entendimento da existência de uma doutrina formulada por Allan Kardec, o que não existe, não é verdadeiro. A doutrina partiu dos espíritos, dos seres humanos que se encontram desencarnados, vivendo no mundo (ou dimensão) espiritual, e possui quatro princípios básicos que sustentam todo o edifício doutrinário:

  1. Deus – como Pai e Criador de tudo o que existe no universo.
  2. Imortalidade da Alma – proclamando a vida depois da morte, que é apenas do corpo físico (orgânico).
  3. Comunicabilidade – a comunicação entre desencarnados e encarnados através da mediunidade.
  4. Evolução – porque todos somos destinados à perfeição.

A partir desses quatro princípios básicos desdobram-se outros princípios, como a reencarnação, o livre arbítrio, a lei de causa e efeito, entre outros, que estão muito bem estudados e consolidados nas demais obras de Allan Kardec, a chamada codificação espírita: O Livro dos MédiunsO Evangelho segundo o EspiritismoO Céu e o Inferno e A Gênese. Devemos também destacar, pela sua importância, os livros O Que é o EspiritismoObras Póstumas e a coleção da Revista Espírita, publicação mensal que Kardec dirigiu de 1858 a 1869 (quando desencarnou no final do mês de março).

E com relação à Umbanda? Os umbandistas não são também espíritas? Com todo respeito aos nossos irmãos umbandistas, às suas crenças e práticas, a bem da verdade devemos esclarecer que não, eles não são espíritas. Espírita é aquele que estuda e pratica o Espiritismo, conforme seus princípios publicados nas obras assinadas por Allan Kardec. Então, aquele que se insere na Umbanda é, apenas, umbandista. O que acontece é que muitos templos umbandistas utilizam, de forma equivocada, a expressão espírita, causando então uma certa confusão entre os adeptos das duas doutrinas e, principalmente, entre os leigos.

Mas não existem pontos de contato entre o Espiritismo e a Umbanda? Sim, isso é verdade, mas nem por isso se confundem. São distintos na origem, na doutrina e na prática. O Espiritismo não possui nenhum tipo de ritual; não utiliza roupas especiais, paramentos, incensos, cantorias, pontos riscados etc. A Umbanda surge do sincretismo religioso entre as crenças e rituais trazidos pelos negros escravizados da África, com as crenças e rituais do Catolicismo, que à época do Brasil enquanto colônia de Portugal, e depois em sua fase imperial, era a religião oficial do país. Os pontos de contato através da crença na imortalidade da alma e na utilização da mediunidade não confundem as duas doutrinas, que são muito diversas entre si.

Os espíritas se reúnem no Centro Espírita, que não é nem fraco nem forte, nem de mesa branca ou qualquer outra coisa, mas apenas Centro Espírita, onde desenvolvem atividades em diversas áreas: estudo, mediunidade, evangelização da família, promoção social e tantas outras, visando sempre o progresso intelectual e moral das pessoas e da humanidade.

Assim, vemos que a origem histórica é muito diversa: os cultos e crenças dos povos africanos, injustamente escravizados e trazidos ao Brasil, são antigos, perdem-se no tempo, e não possuem uma unidade, tendo muitas variantes de acordo com cada povo, com cada região. O Espiritismo surge em 1857, no solo europeu, sendo uma doutrina perfeitamente elaborada. Os cultos africanos sofreram simbiose com o Catolicismo, dando origem ao que hoje chamamos cultos afrocatólicos, entre eles a Umbanda, o Candomblé, a Quimbanda. O Espiritismo insere-se na cultura para transformá-la, a partir de sua visão imortalista do ser e da vida, mantendo seus princípios e práticas isentos de mesclagens com outras doutrinas.

Nos cultos afrocatólicos que, repetimos, merecem todo nosso respeito, existe a utilização de altares, roupas especiais, atabaques, cantos específicos, ou seja, toda uma ritualística inexistente no Espiritismo, onde tudo é feito com simplicidade, sem qualquer vínculo com paramentos, sacerdócio, vestimentas especiais e outras coisas que são a característica das crenças e cultos originários da África, e que tiveram uma identificação, forçada ou não, com o Catolicismo.

Como vemos, o Espiritismo não se confunde com a Umbanda. Espírita é aquele que segue os princípios do Espiritismo, conforme os encontramos nas obras da codificação espírita, assinadas por Allan Kardec. Fazer a distinção entre o Espiritismo e a Umbanda não é faltar com o respeito com nossos irmãos e irmãs de outra crença, é apenas deixar claro que são doutrinas completamente diferentes. Não existe Espiritismo de Umbanda. O fato de ambas acreditarem na manifestação dos espíritos através da mediunidade, não as torna iguais. Os umbandistas são espiritualistas, mas não são espíritas. Os espíritas são, também, espiritualistas, mas não se confundem com outras crenças e doutrinas que acreditam na sobrevivência e manifestação da alma.

Convidamos os interessados para a leitura e estudo de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, magistral obra construída na forma de diálogo, para real conhecimento do Espiritismo. E pedindo licença a Kardec, que cunhou a frase “Fora da Caridade não há Salvação”, bandeira do verdadeiro espírita, podemos encerrar estes esclarecimentos afirmando que “Fora de Kardec não há Espiritismo”.

O consolador – Ano 18 – N 875 – Especial

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