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Espiritismo: Um modo de viver

Autora: Cristina Sarraf

Modos de viver, quantos há? Infinitos, pode-se dizer, pois respeitando o arbítrio de cada um e sua exclusiva e peculiar evolução espiritual, admite-se que cada ser humano, encarnado e desencarnado, tenha o seu.

No entanto, seres sociais que somos, desenvolvemos costumes, regras, religiões, tradições, filosofias e ciências, que tem suas normas e leis e as adotamos coletivamente, em grupos que pensam assim ou de outra forma, muitas vezes oponentes, mas claro, cada um certo de que tem a verdade.

Incoerência? Orgulho? Ignorância? Egoísmo? Vaidade? Prepotência? Sim! Tudo isso e tantas outras das nossas características terráqueas.

Estaria o Espiritismo destinado a unificar todas essas vertentes do pensamento humano?

Seria isso possível ao Espiritismo ou a qualquer corpo filosófico ou científico?

E seria desejável que assim fosse, em vista da riqueza da diversidade conceitual e evolutiva humanas?

Pode ser que aos espíritas pareça que sim. Que as Leis da Vida que caracterizam o Espiritismo, sendo divulgadas e vivenciadas, resolveriam todos os problemas humanos e teríamos uma nova etapa social. No entanto, essas mesmas Leis, Princípios que o estruturam, sendo conhecidas de seus adeptos, fizeram-nos pessoas melhores, mais fraternas e mais justas?

Saber-nos imortais, reencarnantes, em evolução, com arbítrio e recebendo as consequências de nossa forma de pensar, sendo médiuns e também recebendo influências espirituais constantes e coerentes conosco, além de atuarmos sobre a matéria densa e fluídica, todas essas informações renovadoras estão sendo utilizadas a ponto de termos nos reeducado mentalmente, ou ainda não?

Se sim, onde estivermos somos os arautos do Bem, da justeza dos entendimentos e do fortalecimento espiritual e moral de todos que conosco convivem. Se não, como pensar que pessoas criadas sob concepções de vida e conceitos filosóficos diferentes dos espíritas, possam querer abandoná-los para adotar o Espiritismo?

Enquanto a utopia e os sonhos mirabolantes, as objeções sistemáticas e o desprezo pelas ideias diferentes das nossas, forem uma fuga da realidade, uma forma de não nos vermos no espelho dos nossos pensamentos e atos, pouca contribuição estaremos levando à sociedade humana, apesar da grandeza conceitual do Espiritismo.

Na resposta da questão 917 de O Livro dos Espíritos, encontra-se o trecho: O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais. Dessa sábia frase há muito que ser examinado.

Bem compreendido é algo bastante genérico, porque cada um tem sua condição específica de entender, basicamente porque as crenças, que geram nossos hábitos mentais, são elementos impeditivos e limitadores.

Identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos é o cerne da questão, posto que são as crenças ou conceitos sobre as coisas, que determinam costumes, hábitos, usanças e relações. Um simples exemplo ilustra a amplitude dessa informação: se uma pessoa tem medo de que Deus a puna por seus equívocos, cultiva um pensamento oposto ao conceito de evolução espiritual e arbítrio para pensar e decidir, que caracterizam o Espiritismo. Um entendimento anula o outro, mas convivendo com os dois, como ocorre, vive-se em conflito e em constante autossabotagem.

Portanto, bom entendimento e reconhecimento das crenças equivocadas, dependem de amadurecimento pessoal e desejo de encontrar as causas das dificuldades que se vive. Ou seja, levará mais tempo do que se supõe, para que os Princípios do Espiritismo, e não ele como corpo doutrinário, ganhem foro de vivência social generalizada.

Muito mais que uma tola ideia de frustração, os raciocínios desenvolvidos até aqui identificam que os passos do progresso pessoal só têm sentido se forem em direção ao próprio indivíduo, descortinando, sem culpas e sem condenações, os modos de pensar que não combinam com as Leis universais aprendidas no Espiritismo. Vale dizer que nos confundimos mais, quando queremos aprender apenas ouvindo outros explanarem sobre essas Leis. Porque, na medida em que cada um tem suas características mentais, fruto do processo evolutivo que é pessoal, fica fácil “nos fazerem a cabeça”, sobretudo quando quem fala tem muitos títulos e renome. Não que isso seja ruim, mas a consciência de cada pessoa é somente sua e feita das suas experiências. Outros podem induzir, com sua peculiaridade, ao que não combina com nosso íntimo e nos envolver em conceituações equivocadas, religiosíssimas, medrosas, parciais e tendenciosas.

Usando o bom senso, podemos analisar e sentir, sobretudo sentir, se a interpretação apresentada combina com nosso íntimo, deixando-o leve e descontraído. Porque se o peito “fechar”, se algum mal-estar for sentido, se a ideia nos pesa e cansa, certamente não combina conosco e deve ser descartada. Haverá outra forma de pensar sobre a mesma lição espírita, pois além de que ninguém é dono da verdade, o que é bom só faz bem! Se o Espiritismo veio para nos libertar e não escravizar, posturas de cobranças, obrigações e “tem que” não fazem parte de um modo espírita de viver.

Jornal do NEIE

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