Autor: Joelson Pessoa
A doutrina realmente transforma a sociedade? Como?
Vou tentar responder ao questionamento acima:
É espírita a pessoa que escolheu a doutrina espírita para orientar ou tentar orientar sua conduta.
Conforme está escrito em “O Livro dos Espíritos”, obra fundamental do espiritismo: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pelos esforços que faz para dominar suas más tendências”, assim o voluntário espírita é alguém que está, antes de qualquer coisa, empenhado em sua auto-ajuda para, depois, se empenhar na melhoria do outro.
Conforme expus, o espiritismo pretende constituir-se num conjunto de saberes que resultará na melhoria individual de cada um de seus adeptos. Ora, compreendendo que cada pessoa traz um universo na sua subjetividade e que cada ser reagirá de um modo singular em contato com o espiritismo e com as técnicas que serão usadas para o seu ensino, cada pessoa melhorará mais ou menos, num espaço de tempo maior ou menor, em aspectos mais ou menos graves de seu caráter. Isto equivale dizer que, num certo espaço de tempo, as pessoas que conheceram o espiritismo e se interessaram por seguir lhe as instruções, terão, em algum grau, obtido uma melhora ou promoção de sua condição espiritual, emocional, psicológica, física, social, etc.
Vou tentar ilustrar: Um jovem que traz inclinação para a bebida conheceu um grupo de mocidade espírita e tendo se interessado por este grupo, tornou-se membro da reunião; através das atividades e dos ensinamentos ali veiculados, tem seus valores de alguma forma modificados e agora sob essa nova influência toma novas escolhas para sua vida, descobre então que pode usufruir de um bem estar íntimo e ter diversão em outras modalidades; naturalmente tem a sua inclinação para o alcoolismo reorientada e não se torna um alcoólatra. Observe, teremos evitado um alcoólatra a mais no meio social. Ganhamos um homem mais saudável. Qual é o impacto desta modificação para a sociedade no curto, médio e longo prazo?
O mesmo cenário vale para situações em que trocamos o pendor para o vício (em geral) pela predisposição à violência, à intolerância, o roubo, a mentira, a cupidez, a preguiça, a delinquência em geral, a indiferença pelo outro, o egoísmo em suas inumeráveis formas de manifestação e tantas outras fontes de infelicitação que graça na existência dos seres humanos, em nossas vidas.
Em outro sentido, o espiritismo vem em auxílio de pessoas que podem não portar de forma importante nenhuma das condições citadas acima, mas há pessoas pacíficas que, sem fazer mal algum a outras pessoas, podem fazer muito mal a si mesmas, então os depressivos, os amargurados, os solitários, os demasiadamente inseguros e outros que portam acentuado complexo de inferioridade, auto-estima baixa, complexo de culpa e propensão ao suicídio poderão encontrar na pedagogia da Reforma Íntima pelo método do autoconhecimento um amparo moral que os promoverão para uma condição melhor que aquela em que se demora.
Qual será o impacto para o meio social quando um de seus membros se converte de depressivo a otimista, de derrotado para motivado, de falido para empreendedor, de ajudado para cuidador?
Abordando outra dimensão das problemáticas humanas, teremos um conjunto de pessoas aparentemente isentas de maiores dificuldades e que são capazes de se definirem como “felizes” mas que apresentam – se indisciplinadas umas, frívolas outras, corrompíveis ou maledicentes, instáveis na vida afetiva ou divorciadas dos estudos e dos compromissos mais sérios, falo dos que vivem para gozar, como um galo ou um coelho, por exemplo.
Estas pessoas, quando por eventos variados, conhecem um espírita ou um centro espírita e são tomadas por uma salutar curiosidade sobre: O que vem a ser o espiritismo?! A que conduz esta filosofia?! E são finalmente atraídos para os estudos, para as atividades ou para as palestras, e pouco a pouco principiam a questionar-se, a comparar-se, a examinar-se intimamente, também estas pessoas serão passíveis de melhorar-se em algum ou mais aspectos de suas vidas.
Em suma pretendi demonstrar que antes mesmo que um adepto do espiritismo se torne um voluntário, a sociedade já ganhou com a melhora positivada de cada cidadão que se “matriculou” na escola espírita ou, como é mais adequado denominar, no centro espírita.
Eu próprio posso garantir que hoje sou o que sou em razão da educação que recebi de instrutores espíritas, nos centros espíritas e em “estágios” longe das paredes do centro, durante visitas educativas em ambientes diversos.
Digo que eu fui um beneficiado, ou um “usuário” da ação promocional espírita, porque na minha infância e adolescência portava propensão a hábitos reprováveis que o contato com as teorias espíritas através de seus educadores e demais voluntários levaram-me à correção efetiva. Outros tantos hábitos, que ainda não melhorei a contento, estão sendo a seu tempo educados. Essa é uma construção para a vida inteira, assim eu acredito.
A Educação espírita dilatou o meu entendimento sobre o ser humano, a compreensão sobre os fenômenos sociais e sobre mim particularmente. Deu-me um senso de responsabilidade coletiva e conduziu-me a um comprometimento com o desenvolvimento social através da promoção pessoal, indivíduo a indivíduo.
A partir deste comprometimento, engajei-me na ação social espírita, não em seu aspecto assistencialista, exuberante em nosso país e que, em certa medida, é a responsável pelo prestígio que a sociedade concede aos espíritas e às instituições espíritas, inclinei-me para o aspecto da educação social, participando dos projetos promocionais da pessoa humana objetivando o exercício das potencialidades humanas (ao menos as que nos são conhecidas até o presente momento) desenvolvendo um cidadão consciente, um homem de bem.
Essas experiências me levam, atualmente, a estudar Serviço Social.
É por tudo isso que vejo no voluntariado espírita, mais que assistencialismo, mas uma corrente, um movimento de transformação social porque melhora indivíduo a indivíduo.