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Espíritos em erraticidade – Princípio espírita e grande diferencial

Autora: Cristina Sarraf

Quando Kardec escreveu o capítulo VIII do livro O Céu e o Inferno – As penas futuras segundo o Espiritismo – iniciou-o dizendo que não se pode pensar em um código penal para a situação dos Espíritos após a morte do corpo.

Ou seja, não é possível determinar que tal ou qual Espírito esteja em tal ou qual situação. Muito menos pensar em punições, castigos ou prêmios estabelecidos por Deus, para tais ou quais comportamentos. E menos ainda que haja um vínculo direto de punição ou prêmio para certos comportamentos, fixando antecipadamente a situação dos desencarnados; e nem o tempo em que assim permanecerão.

Baseou-se, como ele mesmo disse, nos milhares de comunicações recebidas após o lançamento da primeira edição de O Livro dos Espíritos, nas quais os autores desencarnados relataram as condições boas ou ruins, felizes ou difíceis, lúcidas ou ilusórias em que se encontravam; muitos deles, conectando a vida de encarnado com a situação posterior à morte do corpo de carne.

Kardec estudou e catalogou esses relatos, e obteve sobre eles a confirmação dos Espíritos mais evoluídos que trouxeram e sustentaram os Princípios do Espiritismo como leis universais, bem como os ensinos derivados dos mesmos.

Ele entendeu o grande diferencial que essas comunicações lhe trouxeram, ao ter a certeza de que   cada Espírito na fase humana, ao desencarnar estará na situação emocional, psicológica e espiritual que criou para si mesmo, durante a vida de encarnado, que cessa.

Obviamente, cada um trouxe para essa encarnação, as características já adquiridas em vidas passadas e as dificuldades e ignorância ainda existentes em si; as quais foram ampliadas, minimizadas ou mantidas como eram, durante este último período de encarnado. E agora, em erraticidade, elas formam a sua condição pessoal boa, ruim ou mediana.

Cada um é o artífice de si mesmo, escreveu Kardec; essa é a frase síntese dos Princípios espíritas do Livre arbítrio e suas Consequências naturais.

Realmente, fica estabelecido um imenso diferencial face aos ensinos religiosos, os quais imaginaram (porque não tinham provas disso), um destino final para as almas, no céu ou no inferno; correspondente ao tanto de obediência cega e/ou desobediência das regras religiosas, ditas como sendo de Deus; ensino que atemorizou e submeteu muitas consciências, por muito tempo… até hoje.

Estar em erraticidade, errático, errante é o estado do Espírito desencarnado que voltará a encarnar. Há Espíritos de todos os graus e características evolutivas em erraticidade.

Esse termo adotado por Kardec, que é um dos Princípios do Espiritismo, não designa pensar ou agir errado, e sim não ser obrigado a estar em algum lugar fixo, determinado e circunscrito, como dizem as religiões. Elas marcam fisicamente, tanto em localização como em sensações corporais, a situação dos desencarnados, que na verdade é apenas espiritual.

Havendo essa natural liberdade de ação após a morte do corpo físico, fato que representa apenas a sequência de como a pessoa estruturou sua vida de encarnado, se pudéssemos observar os Espíritos em erraticidade, veríamos as mais variadas, díspares e diferentes situações.

Porque, sequenciando seu modo de pensar e agir, há os que se pensam encarnados; os que continuam suas atividades profissionais; os que colaboram com outros; os que estão arrependidos de como viveram e buscam ajuda; os que se escondem de perseguidores; os ativos; os inertes; os isolados, os em grupos de mesmas ideias; os morando em casa; os que convivem com parentes; os bondosos; os estudiosos de algum assunto se inteirando mais dele; os revoltados; os mal intencionados e oportunistas aproveitando-se dos descuidos dos encarnados … Claro que os Espíritos mais equilibrado mostram sua condição sob comportamentos construtivos e colaboradores. E os mais elevados também a demostram por um comportamento harmonioso, solidário e sábio.

Em erraticidade os Espíritos têm seu perispírito, que os identifica. Sendo um envoltório fluídico não tem as qualidades e propriedades da matéria densa, mas sim as dos fluidos. Pela vontade, postura mental, possibilidade, necessidade, interesses, objetivos do Espírito, este expande, contrai, muda temporariamente a forma desse envoltório e poderá penetrar qualquer tipo de matéria.

A somatória das características de cada Espírito é revelada pela qualidade fluídica e densidade de seu perispírito; o que é possível perceber quando se aproximam de nós. Uns transmitem paz, harmonia e bem-estar e outros provocam desassossego, irritação e até dor.

Os Espíritos erráticos mantêm seus hábitos, sentimentos e comportamento, porque quem desencarna não muda, a não ser que perceba essa necessidade e passe a escolher nova forma de pensar. Ou seja, evoluem encarnados e desencarnados, na medida em que se interessem por ter um entendimento e uma conduta que lhes traga bem-estar, (que podemos chamar de grãozinhos de felicidade). Colaborar com outros também é causa de sentir-se bem.

Porém, um detalhe precisa ser destacado: o perispírito não adoece, não machuca, não desgasta nem morre. Desencarnado, o Espírito pode conservar dores, a doença que o acometeu e levou à morte, mas é apenas a impressão emocional dos sintomas. Memorizou e pensa estar da mesma forma; por isso sente dor e aparenta a doença. Esclarecido respeitosamente, poderá perceber esse fato psicológico e ir se desligando dessas memórias tristes; terá ajuda se quiser resolver isso e fará exercícios de autodomínio. Poderá assim, assumir a desencarnação e aproveitá-la para desenvolver conhecimentos e atividades satisfatórias, que o ajudarão na próxima encarnação.

É em erraticidade, ensina o Espiritismo, que são pensadas as novas etapas de vida em um corpo denso; é quando planos de ação coletiva são combinados; e é a condição mais propícia para o reconhecimento dos equívocos, ilusões e “desvios de rota”, que precisarão de firmeza e dedicação no reajuste e na superação necessária, visando a própria felicidade; “ajuste de rota”/expiação.

Mas… tudo sempre depende do desenvolvimento gradativo da inteligência racional que cria o arbítrio e este, a vontade que estabelece o empenho. Teimosia, preguiça e pretensão de “sabedoria” fazem parte das características humanas, até ser percebido que só nos prejudicam.

Pensemos em nossa vida atual e no que pode ser ajustado e melhorado agora – um mínimo – para que em erraticidade possamos não dar muito trabalho aos bons Espíritos que zelam por nós.

Nota

Erraticidade = substantivo feminino: caráter do que é errático, erradio, errante – que anda sem destino ou a vaguear.

Errático = adjetivo: que vagueias, erra; errante, erradio. Que não tem lugar determinado, que passa de um local para outro; cuja localização varia; irregular; que não precisa permanecer no mesmo lugar.

Jornal do NEIE

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