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Estranho comportamento do dirigente espírita

Autor: Wellington Balbo

Uma das primeiras palestras espíritas a que assisti foi muito intrigante. Lembro-me de que tinha 24 anos e, embora conhecesse pouco da doutrina codificada por Kardec, minha curiosidade para aprofundar conhecimentos era enorme. E, como dizem: a primeira palestra a gente nunca esquece! Eu não me esqueço mesmo. Após a leitura do Evangelho e comentários, o dirigente chamou diversas pessoas da plateia, formou fila indiana e todos começaram a percorrer o salão entoando cânticos, para mim ininteligíveis.

Bem, naquele dia saí do centro espírita estranhando o comportamento do dirigente, porquanto os poucos livros que havia lido mostravam-me outra face do Espiritismo. Após algum tempo e com o conhecimento um pouco maior da obra codificada por Kardec, entendi que o comportamento do dirigente daquele centro nada tinha a ver com os postulados lecionados pelo pedagogo francês.

Diante do fato narrado, importante refletir:

A liberdade de expressão é direito inalienável da criatura; no entanto, é imperioso admitir que existem locais e locais para a livre expressão. Inconveniente, por exemplo, a pretexto de liberdade de expressão, tomarmos a palavra além do tempo que nos é de direito, numa reunião escolar, e começarmos a elaborar elucubrações que nada tenham a ver com os objetivos da reunião. Certamente cansaremos os outros com nossas divagações e desvirtuaremos os propósitos estabelecidos pelos dirigentes, ou seja, fugiremos do foco principal.

Aliás, fugir do foco principal é um dos grandes problemas enfrentados por nós em nossa peregrinação terrena. Não raro divagamos e patinamos naquilo que nos propomos a realizar. Começamos por um caminho e, quando nos damos conta, estamos bem longe dos objetivos outrora traçados. Foi o caso do dirigente espírita, que perdeu o foco e desvirtuou o objetivo da reunião. Pior: mostrou um Espiritismo inexistente e em total descompasso com as ideias de Allan Kardec. Ele poderia muito bem dançar, entoar cânticos e formar fila indiana, contanto que não o fizesse no centro espírita, porquanto o objetivo principal de toda casa erigida sob as diretrizes de Allan Kardec é ensinar Espiritismo, ou seja, divulgar a doutrina tal como foi codificada pelo pedagogo francês.

Peço licença ao leitor para discorrer sobre uma experiência pessoal:

Certa vez levei um primo católico para assistir à palestra que eu iria proferir na cidade de Bariri-SP, distante 60 quilômetros de Bauru-SP. Na viagem de regresso, perguntei a ele:

— E aí, gostou da palestra?

Ele respondeu de pronto:

— Gostei muito! Só não sabia que vocês espíritas acreditavam em santo.

Perguntei:

— Como assim?

E ele:

— Ora, você citou várias vezes o nome de Santo Agostinho.

Então me dei conta de que havia mesmo citado por diversas vezes o nome de Santo Agostinho. Enfim, admiti que me equivoquei na forma de comunicação, poderia ter aberto parêntese e explicado melhor a visão espírita sobre os homens chamados santos.

Por isso, na questão envolvendo a divulgação espírita, importante lembrar a responsabilidade dos oradores espíritas e daqueles que promovem eventos denominados espíritas. É preciso saber se o orador convidado está em sintonia com o Espiritismo. É necessário saber se o orador que subirá na tribuna do centro espírita mostrará a verdadeira face do Espiritismo, sem invenções ou incoerências doutrinárias, porque o centro espírita é aberto ao público e recebe pessoas possuidoras de todos os níveis de conhecimento doutrinário.

Há gente que chega ao centro espírita e nada conhece; há pessoas que nunca ouviram falar de Allan Kardec e têm pouca ou nenhuma noção do caráter educacional do Espiritismo. Daí a necessidade do zelo. Há gente buscando comunicação de afetos desencarnados, outros vão à procura de soluções para seus males, outros ainda aportam no centro espírita por grande curiosidade. Alguns querem mágicas, outros foram “aconselhados” a desenvolver a mediunidade e por isso buscam a casa espírita.

Enfim, a diversidade do público que comparece ao centro espírita é gigantesca, daí a necessidade do cuidado redobrado para com a mensagem ministrada pelo orador, a fim de evitar mal-entendido acerca dos reais objetivos da doutrina espírita.

Imperioso pensar com atenção neste assunto para melhorarmos a qualidade da comunicação espírita; afinal, divulgar bem o Espiritismo só depende de nós.

Dica

Material extraído do livro abaixo. Leia o ebook de forma gratuita:

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