Autor: Dr. Nubor Orlando Facure
Esse é um resumo de um estudo neurológico da mediunidade. Seu valor é limitado, por se tratar de uma opinião pessoal.
O que ocorre no cérebro durante a psicografia?
O médium toma de sua caneta para escrever. Esse é um ato voluntário que usa a área motora do seu lobo frontal esquerdo. A seguir, começa a escrever e a escrita vai se tornando automática, cada vez mais rápida. É aí que o Espírito comunicante tem mais facilidade de enxertar suas ideias. Já foi feita a sintonia, o Espírito planta, propõe, emite suas sugestões. O médium, inconscientemente, inicia sua aceitação e se deixa dominar cada vez mais pelo pensamento do Espírito. Está completa a mensagem. Essa fase de atuação espiritual se processa com os recursos (subconscientes) dos núcleos da base que fazem a escrita automática em todos nós.
Os dois circuitos de neurônios – os frontais (voluntários) e os basais (automáticos) – têm independência relativa, um e outro se misturam, se confundem em determinado ponto da atividade. A mediunidade é parceria, ambos estão escrevendo. O Espírito é um agente indutor como aparelhos elétricos ligados um na proximidade do outro, produzindo “interferência”, “indução” na linguagem da física, ou “sugestionando” na expressão da psicologia cognitiva, ou condicionando na experiência fisiológica pavloviana, ou “envolvendo” no contexto da Gestalt, ou “transferindo” na linguagem psicanalítica freudiana.
E quando o médium vê um Espírito, o que está se passando no cérebro?
Quando olhamos um passarinho no jardim, a luz que ele reflete atinge nossa retina e um impulso nervoso leva essa imagem até as regiões occipitais do cérebro. Ali é distribuída para outras regiões que registrarão a cor, o movimento e a localização no espaço. Essas informações, a seguir, serão associadas a outras experiências visuais semelhantes que já tivemos no passado. A imagem agora poderá ganhar significado. É um passarinho, está vivo, se movimenta, acaba de pular no galho de flores, amarelo, já sei que é o mesmo bem-te-vi que está sempre por aqui. Agora vou ao laboratório de engenharia elétrica de uma faculdade; é minha primeira visita. Ali pude ver vários equipamentos, aparelhos estranhos. Alguns me pareciam ser nada mais que uma televisão – aprendi que era um osciloscópio.
A visão de Espíritos não é feita com vibrações luminosas. Ela não precisa passar pela retina; ela implica a combinação de fluidos, é um processo completamente diferente da visão terrena. A única coisa que permanece mais ou menos igual é a representação que fazemos da imagem vista, a interpretação que damos ao que é visto, e essa composição sofre tremenda influência da mente do Espírito que, de certa maneira, pode nos fazer “ver” exatamente o que ele quer que o médium veja.
Aspectos psicológicos da Mediunidade
A dinâmica do psiquismo humano e sua complexidade
Mediunidade é intercâmbio, é comunicação entre dois planos da vida, informação, transmissão de mensagens. Ela implica assumir comportamentos adequados, atitudes apropriadas, capacidade de emitir e receber uma informação. É um processo que compromete o cérebro e a mente de um emissor e um receptor. É essa dualidade complexa que vamos estudar.
Talvez um relato fictício possa ilustrar o grau de complexidade que essa comunicação envolve:
Seu José Tolentino, fazendeiro em Goiás, tem dois filhos que acabam de completar a maioridade. Ambos foram estudar fora. Genildo, menino estudioso, pretende ser doutor, foi interno do seminário. O outro filho, Joseval, tem um temperamento forte e agressivo, quer ser poderoso e rico, foi para colégio militar. É óbvio que o regime disciplinar de cada um deles é completamente diferente e o tipo de censura interna implica em selecionar o que o pai envia para eles. Todo mês um funcionário da fazenda leva a correspondência e as “encomendas” que seu Tolentino prepara para os filhos. Cada um tem suas próprias necessidades. Na portaria do colégio militar, quem recepciona é um soldado de temperamento rígido que sempre inspeciona o conteúdo dos pacotes que chegam da fazenda, bisbilhotando cada uma das mercadorias e censurando as cartas. No seminário, é um regente de disciplina que atende, e, mesmo demonstrando delicadeza de gestos, não deixa de fazer sua triagem nas coisas que podem ou não ser aceitas no seminário.
Essa é a complexidade do intercâmbio humano em qualquer ambiente.
A produção do fenômeno mediúnico sofrerá interferências humanas dessa mesma complexidade – do ambiente, da disciplina ali implantada, da personalidade do médium, do grau de censura que foi imposto, da interferência da autoridade humana ali dominante. Essas circunstâncias atuam, ora como obstáculos, ora como facilitadoras desses fenômenos.
Aspectos psicológicos da Mediunidade
A Dinâmica Espiritual
Informação é um fenômeno já aceito no meio científico como uma forma de energia. A mediunidade é uma transmissão de informação de um universo espiritual para um universo físico. Deve como emissora e receptora de informação estar sujeita às Leis que controlam a emissão e a recepção dessa energia.
Ela sofre desgaste, do tipo “atrito”, como faz um fio de transmissão elétrica que cria resistência devido ao material de que é feito. Sofre as interferências da presença de outro “agente” emissor de energia mediúnica, aumentando, diminuindo ou perturbando suas transmissões. Pode ser controlada, direcionada, ampliada ou bloqueada por ação de terceiros. Basta lembrarmos o ambiente de uma reunião espírita na presença de um doutrinador, de vários médiuns em desenvolvimento heterogêneo e toda disciplina aplicada nessa reunião.
Quais seriam, então, os fenômenos psíquicos observados na apresentação da manifestação tradicional da mediunidade, no ambiente de um centro espírita?
Sintonia: estar no mesmo tom do outro (médium e entidade comunicante).
Sugestão: é acreditar no outro (não recusar as ideias que o Espírito procura sugerir ao médium).
Condicionamento: é sinônimo de disciplina. Toda reunião precisa estabelecer uma rotina de procedimentos que todos se empenham em cumprir: horário das reuniões, lugares onde cada um se senta, introduzir a oração que dá início à reunião, leitura de página do evangelho para meditação e finalizar com a palavra de agradecimento do dirigente.
Assimilação: é aprender com o outro, é ter humildade para aproveitar as lições da espiritualidade, inclusive, dos Espíritos perturbadores e dos menos letrados.
Aceitação: é aceitar o outro, é não permitir qualquer preconceito contra esse ou aquele Espírito. Aceitar é sinônimo de acolhimento carinhoso.
Aprendizado: é a aquisição de novos comportamentos, novos conhecimentos que correspondem a mudanças que ocorrem no cérebro (nas sinapses e nas árvores de dendritos). Ninguém sai o mesmo de uma reunião espírita. Todos sofrem modificações mais ou menos intensas na sua fisiologia cerebral. Os neurologistas confirmam isso em toda experiência humana. Precisamos é dirigir esse aprendizado rumo ao nosso crescimento espiritual. Aprender por aprender é fácil, aprender para fazer o bem é mais trabalhoso, exige nosso compromisso incondicional com o próximo.
Teoria da mente: perceber o outro, pensar o que o outro pensa, fazer (imitar) o que o outro faz, emocionar-se com os sentimentos do outro, sentir com o outro a dimensão do seu sofrimento, perceber a natureza das suas necessidades. Só assim saberemos ser solidários com o outro.
Automatismo psíquico: ao lado do automatismo motor, deixar fluir os pensamentos sem questionamentos, tentando definir de quem eles procedem.
Representações mentais: o que realmente vemos não é o que está lá fora, mas a imagem que construímos de conformidade com nossa experiência. É impositivo o estudo, desenvolver cada vez mais nossa cultura, a fim de compreender melhor os quadros que a espiritualidade nos permite perceber.
A transcendência e a mediunidade
A mediunidade é um fenômeno de natureza física, psíquica e espiritual. Ela existe exatamente porque existe uma dimensão espiritual. O fenômeno mediúnico é de lá para cá, e só os Espíritos mais evoluídos podem nos esclarecer a natureza dos acontecimentos que ocorrem durante o fenômeno mediúnico. Nesse sentido, Allan Kardec e André Luiz nos esclarecem com uma fartura inesgotável de lições.
Da nossa parte precisamos compreender a mediunidade como sintonia espiritual, doação, altruísmo e disposição para o bem.
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