Autor: Rodrigo Prado
No último dia 15 de dezembro, numa bela noite de sábado, foi realizada uma festa tropical, com muita fruta, sorvete e açaí a vontade para os participantes da mesma. O clima estava muito gostoso, e como não podia deixar de ser, a juventude se requebrou ao som dos antigos e atuais sucessos; muitos amigos se reviram e novos foram feitos. Até aqui, nada de especial muitos podem dizer, pois as festas são sempre assim né, principalmente as confraternizações tão comuns de finais de ano, seja no serviço, escola, família ou centro espírita. Mas será que essa foi mais uma festa comum?
Um século e meio já se passou desde a publicação de O Livro dos Espíritos, e quais foram os reais avanços da doutrina? Avançou ela com toda a velocidade possível ou sofreu vários entraves? Quem foram os que lhe impuseram obstáculos? Quais foram essas barreiras? Quem nunca se perguntou do por quê o Espiritismo que contava com milhões de adeptos na época de Kardec conforme registro na Revista Espírita de 1862 – , principalmente na Europa, alguns anos depois do desencarne do codificador essa doutrina tenha desaparecido de muitos países ou reduzida a expressões insignificantes? Por quê ao mesmo tempo que perdeu força no mundo inteiro, principalmente na França, o Espiritismo ganhou tanto terreno no Brasil?
Os opositores do Espiritismo usaram de várias táticas, das mais honestas às mais baixas mentiras e sortilégios para acabar com a doutrina, porém todas tentativas foram em vão, representaram pequenas barreiras, mas que foram – como disse Kardec em suas anotações em Obras Póstumas – sobrepujadas pelas verdades incontestáveis, pela lógica dos raciocínios matemáticos e pelas consolações aos dramas do coração que o Espiritismo veio trazer. Kardec, cansou de demonstrar isso aos adeptos e opositores em suas obras, principalmente na Revista Espírita, tanto que em vários momentos ele nem respondia mais a algumas oposições, escrevendo apenas que em certo artigo já havia respondido questões idênticas. Kardec foi além, tamanho era a sua fé com relação à doutrina, que não tinha medo de fornecer a receita de como os opositores poderiam prejudicar e acabar com a doutrina – se é que isso é possível dizia que uma das formas era alguém revelar uma nova doutrina que fosse capaz de responder melhor, de forma mais lógica aquilo que o Espiritismo já respondia; uma outra forma era os adeptos, ou seja, os espíritas não praticarem os ensinamentos dado pelos espíritos, se afastarem da prática do evangelho, se tornarem apenas detentores de conhecimento, porém sem a tão importante prática, os velhos e conhecidos Fariseus do tempo de Jesus.
Se os opositores não conseguiram abalar a doutrina, já o mesmo não pode ser dito com relação aos espíritas. O que fora previsto por Kardec, realmente veio a acontecer. O Espírito Verdade certa feita recomendou o “espíritas instruí-vos e amai-vos” mas quantos foram e quantos são os que realmente estudam a doutrina e a compreendem realmente? Os espíritas que estudam são vários, porém não representam a sua maioria, basta para isso ver o número de pessoas que nos centros vão às palestras mas que não participam de nenhum curso. Se os que se instruem são a menor parte, um número talvez ainda menor são aqueles que se amam, que se respeitam, que tratam o próximo como gostariam que fossem tratados. E o que tudo isso representa? Significa que são criados obstáculos por conta disso que realmente podem e prejudicam a doutrina, ou será que a redução da propagação da doutrina e a consequente redução dos espíritas em vários países, como acima descrito foi por acaso? Como dizem os mais místicos, foi planejada pela espiritualidade? Mas que espiritualidade é essa que priva as pessoas de terem uma vida melhor? Ah, mas isso foi programado, pois o Brasil é o Coração do Mundo e será Pátria do Evangelho, dirão outros. Mas que pátria do evangelho será essa, onde tantas injustiças ainda acontecem? Onde todos reclamam dos políticos, mas muitos são os que não devolvem o troco errado recebido a mais, ou dão o jeitinho brasileiro na hora de declarar o imposto de renda? O Brasil é o país do futuro, mas que futuro é esse que nunca chega, mesmo passado 500 anos?
Visão critica e pessimista essa minha? Digo que não, trago apenas reflexões para refrescarem a nossa memória, para que essas coisas não caiam no esquecimento e fiquem a espera de um milagre da espiritualidade amiga para resolver essas questões.
E então, é preciso fazer algo ou do jeito que está “tá” bom? Eu pergunto e eu mesmo respondo : – Sim é preciso mudar muita coisa, não a doutrina, mas sim o nosso comportamento, a nossa forma de trabalhar. Leia na edição 57 o artigo da amiga Ana Maria, e leia também o artigo Reflexões Urgentes… do amigo Joelson Pessoa na edição número 56 da Fala MEU!, nelas também encontramos reflexões que veem somar, demonstrando que é preciso melhorar a qualidade e não somente a quantidade, que constantemente é sempre o foco nos centros, seja nas palestras, trabalhos da casa ou na mocidade.
O que não fazer já sabemos, agora o que fazer conhecemos alguns caminhos, algumas formas, e muito pode ser aprendido. Kardec sempre reforçou a importância dos grupos espíritas não se isolarem e trabalharem em conjuntos, pois com essa interação a troca de experiências é muito grande, o aprendizado é mais rápido e facilmente divulgado, e vale lembrar que Kardec quando codificou o L.E. usou de mais de dez médiuns diferentes e trocou correspondência com dezenas de locais, pois s assim seu primeiro trabalho poderia estar mais completo.
Chega de trabalhos sozinhos. Chega de movimentos paralelos, e por falar nisso, quantas vezes a mocidade é acusada disso, de trabalhar paralelamente aos “adultos”, e ainda bem que isso acontece, pois do contrário como estaríamos hoje? Antes de acusar, aqui vem mais uma pergunta minha : Por quê isso ocorre? Será que os jovens são todos uns insubordinados, se achando os melhores e os mais velhos os ultrapassados? Volto a citar o artigo da Ana nessa edição, que demonstra o quanto é possível o trabalho em conjunto entre mocidade e “adultos” – onde uns entram com o dinamismo e outros com a experiência – e quanto isso é salutar para a doutrina, mas principalmente para as pessoas, que são as mais beneficiadas.
Lá no início desse artigo fiz a minha primeira pergunta, volte lá e relei-a por favor…. Não, não foi uma festa qualquer a que realizamos naquele dia, primeiro foi uma festa entre amigos, organizada por jovens que tem o mesmo ideal, trabalhar pela doutrina, e em prol de seu melhoramento íntimo. Com esse foco, foi fácil mais uma vez rompermos as barreiras existentes entre órgãos ditos representantes do Espiritismo, pois esse evento foi organizado pelos departamentos de mocidades da Aliança Regional Leste e da USE Regional São Paulo, e digo que foi fácil, pois uma vez sendo amigos, uma vez nos respeitando, uma vez nos amando, pois isso tudo ocorre quando há amizade, mais fácil foi superarmos o nosso orgulho e egoísmo, o nosso tolo amor próprio, que insiste que façamos as coisas sempre da nossa forma. Ali estavam não rivais, onde um queria se mostrar melhor que o outro. Fácil fazer tudo isso? Lógico que não, como disse, exige abrirmos mão dos nossos padrões e conceitos, nos permitindo conhecer o diferente, para que aceitemos o diferente e por fim aprendamos com o diferente.
Convoco todos os irmãos espíritas para esse ideal, que trabalhem em conjunto. Centros espíritas se associem aos demais centros vizinhos, trabalhem em conjunto, seja ele do órgão que a sua casa participe ou não, pois há toda uma multidão que está necessitada, sejam os espíritas, sejam as comunidades vizinhas aos centros.
No novo mundo, novas atitudes serão necessárias, e jamais pessoas ou grupos isolados poderão adquiri-las, pois o convívio em sociedade é uma Lei, como descrita no L.E., valorizemos essa oportunidade.