Autor: Wellington Balbo
Fã da banda Legião Urbana, veio à minha mente uma das notáveis frases de Renato Russo: Fala demais por não ter nada a dizer. Pois é… Tem gente que fala, fala, fala, aliás, há Espíritos que falam, falam, falam…
Algum tempo atrás tínhamos a propaganda de um jornal – se não me engano tratava-se do Estadão – que dizia assim: Está sem assunto, compre o Estadão.
É bem por aí mesmo: está sem assunto para conversar, trate de ler, aperfeiçoar-se, saber o que se passa no mundo, pois, certamente, não ficará sem assunto e, como diz Renato Russo, não falará demais, só o necessário para que o bate-papo flua gostosamente.
Bom, você deve estar se perguntando aonde esse articulista quer chegar com esse papo, digamos, aparentemente furado.
Quero falar com você, amigo leitor, que tanto os homens encarnados quanto os homens desencarnados, por falta de assunto, podem falar demais e não ter nada a dizer ou, pior, enveredarem pelo lado da fofoca. Aliás, vale lembrar que se a fofoca vem de um desencarnado a coisa toma uma proporção ainda maior porque, frequentemente, toma-se o que vem dos Espíritos como verdade absoluta, desprezando o que orienta Kardec incansavelmente em sua obra sobre a necessidade de passar tudo pelo crivo da razão: o que não satisfizer o nosso rigoroso critério, descartar sem grandes receios.
Acredite você ou não, mas dia desses um amigo me procurou com a seguinte história:
– Rapaz, estou casado pela segunda vez, amo minha esposa, mas numa sessão mediúnica um Espírito me fez a seguinte revelação: o filho da minha esposa foi quem me tirou a vida em existência anterior. Estou, sinceramente, apavorado… Imagine se um dia eu estou dormindo tranquilamente e o rapaz resolve repetir o passado… O que faço?
Espantado com a indagação e mais ainda com a revelação, disse ao amigo: – Esquente não que o garoto não irá fazer nada contigo… Deus nos deu o esquecimento temporário para que pudéssemos de forma mais serena superar antipatias e angariar amigos para a eternidade. Provavelmente, trata-se de fofoca mediúnica, coisa de médium que não lê o Estadão e fala demais…
O amigo despediu-se e eu fiquei pensativo: Meu Deus! Quanta imprudência nesse tipo de conversa. Supondo que isso seja mesmo um fato, ainda assim o médium jamais poderia fazer uma revelação deste calibre. A depender do indivíduo que recebe uma informação deste nível, está desfeito um casamento ou, ao menos, criado um sério embaraço.
Eis o que recomenda Allan Kardec: Prudência, pois credulidade demais atrapalha não somente a marcha do Espiritismo, mas também a vida prática das pessoas.
Os Espíritos, sendo apenas as almas dos homens que viveram na Terra, não possuem o soberano saber sobre absolutamente nada. Podem, portanto, apenas falar sobre o que já angariaram de conhecimento.
O Espiritismo veio a este mundo para ensinar o homem a viver bem na Terra, para fazer com que o ser humano se melhore, e não com a finalidade de revelar assuntos particulares do que houve ou não houve no passado.
Embora saibamos que o tema “passado” suscite a natural curiosidade das pessoas, é importante entender que, se fosse fundamental saber algumas coisas que ficaram para trás, Deus não teria colocado esse véu do esquecimento temporário.
Quando algo do passado é real, segundo os Espíritos, a informação vem de uma forma repentina e quando menos esperamos.
O Espiritismo veio para educar a mente humana na Terra, jamais para causar constrangimentos.
Portanto, não se preocupe com supostas revelações transmitidas por alguns médiuns. A depender do caráter da mensagem, pode ser que seja apenas uma fofoca mediúnica, coisa de medianeiros que não leem o Estadão.
Pensemos nisto.
O consolador – Ano 9 – N 409 – Artigos