Autora: Eugênia Pickina
Sem a autoconfiança, somos como bebês no berço
Virginia Woolf
A autoestima começa a se desenvolver no início da vida – quando somos bebês. Os cuidados, a atenção, o afeto, tudo isso vai mostrando à criança que ela é amada, que é bem-vinda, que é admirada. Nesse início de vida, ela está aprendendo como é o mundo a sua volta e, conforme se desenvolve, vai descobrindo seu valor a partir do valor que os outros lhe dão – e é isso que modela a sua autoestima essencial.
Para os pais, o amor que sentem pelos filhos é inegável, cristalino, no entanto para os filhos nem sempre esse amor é tão evidente assim.
É um fato: toda criança se preocupa em agradar aos pais (ou à pessoa que cuida dela) e considera que isso lhe assegurará o amor deles. Por consequência, para quem está a experimentar a infância, todo gesto ou expressão de aprovação dos pais é amor e, por sua vez, toda reprovação (um olhar sério, uma bronca) é não-amor.
Desde cedo será fundamental que a criança vá percebendo que, apesar de suas falhas e erros, o amor dos seus pais nunca está em xeque. Como fazê-lo? Respeitando-a. E alguém aqui poderia perguntar: o que é respeitar um filho?
Respeitar um filho é aceitá-lo como é, mesmo que ele, suas qualidades, características, sonhos não correspondam às (minhas) expectativas de mãe ou de pai. Ninguém nasce para corresponder às expectativas dos pais.
As crianças erram muito, pois é assim que aprendem. Se a atitude do filho foi agressiva, o que deve ser mostrado é a agressividade, mas não condená-lo dizendo “você é rude”. Frases do tipo “você é egoísta”, “você é estúpido”, “você é medroso” etc. ensinam à criança que ela é rude, egoísta, estúpida, medrosa. E esses “rótulos” aderem de forma profunda à identidade dela, infelizmente.
Respeitar o filho pressupõe dar espaço para que ele tenha seus próprios sentimentos, sem ser criticado. Não é errado sentir raiva, não é feio sentir medo. O que deve ser ensinado à criança são as maneiras aceitáveis em sociedade de expressão da raiva, por exemplo. O que é errado, exigindo reajuste, é uma expressão inadequada da raiva: bater no irmão, por exemplo – e para isso existe a orientação cotidiana dos pais e seus reiterados exemplos…
Força interior da alegria – a autoestima – sua construção depende, na infância, largamente dos pais no exercício amoroso e respeitável da educação diária dos filhos.
Quer fomentar a autoestima do seu filho? Evite compará-lo com os irmãos, primos, colegas. Desde pequeno seu filho precisa entender que ninguém é melhor ou pior do que ninguém, todos somos diferentes. Se for necessário, corrija-o por suas atitudes e esforços e não por ele ser pior ou melhor do que alguém…
Tenho certeza de que para a maioria dos pais não é novidade o fato de se doar aos filhos: amar, cuidar, brincar, conversar, acompanhar de perto seu crescimento etc., no entanto uma das prioridades precisa ser a construção da autoestima dos filhos. Um exemplo simples: o quarto da filha de 9 anos está uma bagunça? Então diga isso a ela. Mas, ao invés de você chamá-la de “desleixada” ou “preguiçosa”, explique que aquilo é errado e procure entender se há alguma dificuldade. Ou seja, não dirija a crítica à criança, mas, sim, ao comportamento errado que ela teve. Afinal, amor e respeito se revelam nas singelas atitudes cotidianas.
O consolador – Ano 16 – N 793 – Cinco-marias