Autor: Paulo Hayashi JR.
Segundo um dos fundadores da Economia, Adam Smith, o trabalho é fonte geradora de riquezas. Pelo trabalho também se constrói a própria história pessoal, auxiliando no desenvolvimento de habilidades e destrezas, bem como no aumento do próprio conhecimento pessoal e até mesmo da sociedade. Enfim, o trabalho é caminho para o progresso.
Em muitos países desenvolvidos o trabalho é valorizado não apenas pela questão do salário, mas também por um hábito cultural expressado por meio de gorjetas; são as famosas “tips”. No Brasil as gorjetas são mais caracterizadas pelos 10% da taxa de serviço prestado em bares e restaurantes. Além desta gorjeta compulsória, há também as gorjetas espontâneas. Talvez de maneira mais significativa que a primeira, a gorjeta espontânea expressa uma gratificação pelo trabalho prestado. É uma forma de reconhecer e recompensar aquele que fez um bom trabalho.
Entretanto, como as Casas Espíritas se posicionam frente às gratificações pagas para com os trabalhadores externos que prestam serviço à instituição? O objetivo deste texto é tentar refletir um pouco sobre o tema e sobre a prática, bem como argumentar que a valorização e a recompensa do trabalho alheio têm que ser exemplares no meio espírita também.
Diferentemente do trabalho voluntário prestado por membros e/ou simpatizantes do movimento espírita, o trabalho prestado por terceiros de caráter comercial exige pagamento financeiro. Nem só de trabalho voluntário vive a Casa Espírita. É necessário pagar e, se possível, gratificá-lo pela boa prestação do serviço. Assim, a relação contratante-contratado pode ser de três tipos:
- Exploração – a empresa explora quando deseja um pagamento muito superior por aquilo que entrega. O cliente explora quando resolve pechinchar por um preço bem abaixo daquilo que o produto/serviço vale.
- Modo justo – paga-se por aquilo que recebe ou vice-versa. É quando se diz que o preço do produto/serviço é “honesto”.
- Mimo – a empresa mima o cliente quando entrega algo muito superior ao preço praticado. O cliente mima quando gratifica o serviço prestado.
De que modo a Casa Espírita que você, leitor amigo, frequenta costuma se relacionar com os prestadores de serviço? Pechincha sempre por não ter dinheiro em caixa? Tem o hábito de gratificar os serviços bem prestados? A gorjeta depende do aspecto físico da pessoa? Ela gratifica em outro tipo de moeda (oração, produtos feitos pela casa, sorriso etc.)?
Assim como na nossa vida, a questão importante é a criação de bons hábitos.
Adotando a questão do “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus”, nas relações comerciais de transação financeira/prestação de serviços para com terceiros estamos negociando em terra de César e por isso as regras precisam ser de César. Mas até que ponto podemos inserir algumas luzes de Deus na terra de César? Pechinchar pode ser um hábito para proteger as nossas economias, mas, em termos de valorização do serviço alheio, representa sua desvalorização (a menos que se perceba uma postura de exploração por parte da empresa). Assim, a gorjeta voluntária, bem como um abraço verdadeiro, um aperto de mão sorridente podem expressar esta valorização, e ainda o incentivo necessário para que o trabalhador continue prestando serviços cada vez melhores para a sociedade.
O trabalho, mesmo para aquele que busca recompensas financeiras, também é caminho honesto de desenvolvimento pessoal. Assim como há bônus-hora no plano espiritual e há Espíritos que buscam tal recompensa, não podemos achar que aqueles que prestam serviço à Casa Espírita esperando uma recompensa financeira sejam “inferiores” ou “menos evoluídos” que uma pessoa do movimento que faça voluntariamente. Também não podemos pensar que pechinchar seja buscar o desapego material da parte alheia. Este é um pensamento de caráter mais utilitarista de maximização de recursos financeiros do que propriamente espiritual.
Não podemos obrigar que o mundo siga o nosso jeito de ser espírita, principalmente com a questão imaterial, mas podemos fazer com que o jeito espírita de ser ilumine o mundo material, assim como as relações humanas. Portanto, respeitemos e valorizemos o serviço alheio, dando a César não apenas aquilo que é de César, mas também um pouquinho a mais com aquilo que é de Deus.
O consolador – Ano 5 – N 210 – Artigos