Autor: Ricardo Baesso de Oliveira
William James, no livro As variedades da experiência religiosa, disse que a experiência religiosa pode ser normal ou patológica e que a experiência espiritual pode ser sublime ou dolorosamente distorcida por uma disfunção mental. Da mesma forma, dependendo das necessidades psicológicas de seus membros e da maneira como interagem entre si, com seu(s) líder(es) e com a comunidade em geral, o grupo religioso pode concorrer para a saúde ou a doença psíquica.
O nosso grupo espírita pode ser considerado como saudável?
Robert Simon, psiquiatra com mais de quarenta anos de experiência em clínica e psiquiatria forense escreveu o livro Homens maus fazem o que homens bons sonham, onde disseca os aspectos psicológicos da criminalidade humana. Dr. Simon dedicou um capítulo do livro para examinar seitas religiosas disfuncionais, geralmente, lideradas por figuras altamente carismáticas, mas profundamente perturbadas psiquicamente.
Depois de citar várias dessas seitas, algumas que tiveram um triste epílogo, como o suicídio coletivo promovido por Jim Jones, nas Guianas, o autor passa a relacionar as principais características de grupos religiosos disfuncionais. Segundo o autor, esses grupos se caracterizam por:
- Estilo de liderança autoritária; o líder espiritual decide tudo, pois só ele detém os predicados para isso. Centralizador, todas as decisões partem dele.
- Isolamento físico e espiritual. Seus membros devem ser exclusivos, já que possuem ali tudo de que precisam, nada justifica que frequentem também outros grupos.
- Os membros se acham mais ligados ao líder do que às ideias da seita ou da causa. A casa está acima da causa e o líder acima da casa.
- Mantém fechados os canais de acesso a outros grupos.
- Sua mensagem espiritual não é universal, mas restrita a um grupo seleto de pessoas.
- Os membros são coagidos a permanecer no grupo, e perdem todo o seu valor, quando se afastam da comunidade.
- São bens definidos os livros e autores que devem ser lidos e conhecidos. Não se cultiva o pluralismo das ideias.
- As pessoas não precisam ter ideias próprias, nem são convidadas ao exercício do pensamento racional e lógico. Outros já pensaram por elas, basta que sigam o que já foi definido.
- Cultivam o pensamento de que formam uma família, de que são todos irmãos, e o líder é o pai (ou a mãe) de todos.
- Prometem benefícios especiais aos seus membros.
- As informações que entram e saem do grupo são censuradas.
- Escudos protetores rígidos escondem os segredos do grupo do mundo exterior. Nada é dito sobre o estatuto da casa (quando existe) ou dos mecanismos de escolha da direção (quando existem).
- Os líderes e as pessoas que lhe são mais próximas possuem óbvios privilégios.
- É evidente que o líder tem, muitas vezes, uma preocupação obsessiva com seu próprio engrandecimento.
Apresentamos o pensamento do Dr. Robert Simon, como uma proposta de autoexame. Que cada um examine com sinceridade o grupo espírita em que se filia e verifique onde precisa atuar, mais diretamente, promovendo as mudanças necessárias, para que nosso grupo espírita se torne algo que nos enobreça e que acrescente beleza e espiritualidade sadia em nossa vida.
O consolador – Ano 15 – N 722 – Artigos