Autor: Rogério Miguez
A família é uma organização prevista por Deus para bem dar continuidade à espécie, proporcionando ainda uma estrutura capaz de promover a evolução de seus integrantes. Em pequenas unidades familiares, os componentes do grupo têm oportunidade de fortalecer e construir cada vez mais suas virtudes, bem como avançar na área da inteligência.
Sendo esta uma importantíssima representação da Lei Divina, esperar-se-ia haver famílias organizadas ao acaso, nos tempos modernos?
Nos primórdios de nossa evolução, encarnados na Terra, quando ainda não possuíamos em princípio nenhum vínculo seja com quem fosse, pois estávamos iniciando o nosso longo processo de crescimento moral e intelectual, as famílias, ou melhor, os grupamentos, pois nos organizávamos em bandos, foram estruturados sem significativos critérios, em razão de todos estarem no início de suas jornadas.
À medida em que aconteceram as primeiras interações entre nós, Espíritos, também se iniciaram os primeiros vínculos emocionais ou sentimentais, ainda bem rudimentares, porém começou a se criar gradativamente um ambiente onde os Espíritos começaram a preferir certos Espíritos, passando também, por outro lado, a não desejar conviver com outros Espíritos. Tudo indica que assim deve ter ocorrido.
A Humanidade, avançando cada vez mais, deixou de se agrupar em grandes comunidades e dividiu-se em pequenas famílias, proporcionando um estreitamento dos laços afetivos entre alguns e recrudescimento de animosidades entre outros. Estes primeiros laços sentimentais podem existir até hoje, porquanto foram fortalecidos e multiplicados ao integrarmos diversas famílias, visto que não tínhamos determinantes preferências e ainda nem se justificavam ajustes por parte dos Espíritos mais evoluídos na organização destas unidades familiares.
Partindo do conhecimento de outra Lei de Deus, de que o acaso não existe, ou seja, tudo obedece a uma ordem maior em função das inúmeras leis e princípios a nos reger, todos criados por Deus, conceito totalmente diferente do tudo está escrito, como entender uma família, o elemento fundamental de promoção da evolução da espécie humana, constituída de integrantes reunidos ao acaso ou acidentalmente?
Veja-se algumas citações de Allan Kardec, sobre o acaso:
Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
Se o acaso não é nada, como pode ser o responsável pela união de Espíritos em uma particular família? Avalie-se esta outra questão, em O que é o espiritismo:
Se as almas são independentes umas das outras, donde vem o amor dos pais pelos filhos e o destes por aqueles?
Nesta questão de O que é o espiritismo, temos a afirmação de que acertos na erraticidade explicam grande parte das uniões, pois sabemos que tanto quanto os filhos, muitos pais também se escolhem frequentemente antes de voltarem. Mas isto não é tudo, ainda temos outras informações:
Os encontros, que costumam dar-se, de algumas pessoas e que comumente se atribuem ao acaso, não serão efeito de uma certa relação de simpatia?
Esta pergunta fornece a chave para a compreensão da questão: o magnetismo, anteriormente chamado de simpatia. É esta ainda uma ciência que dá suporte à afirmação de não haver casamento acidental, ou seja, todas as uniões obedecem a uma lei que nos aproxima sem que sequer o saibamos.
Entretanto, há mais subsídios:
Exercem os Espíritos alguma influência nos acontecimentos da vida?
a) — Exercem essa influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o cumprimento das coisas?
Esta nota do mestre lionês, reforça ainda mais a tese, pois os Espíritos podem promover encontros, e assim o fazem, visando o bem dos envolvidos, quando estamos encarnados, sem nosso conhecimento, sem que sequer saibamos.
Um pouco mais à frente, agora na Revista Espírita, O Codificador ratifica o seu comentário:
É preciso entender que se houvesse acaso, Deus não teria controle sobre a sua própria criação, bem como sobre suas criaturas, entendimento inadmissível, considerando os atributos da onisciência e onipotência caracterizando a Divindade. Além disso, nossa responsabilidade pela evolução da família, de que fazemos parte, seria questionável.
Sendo assim, não imaginemos estarmos casados formalmente ou em regime de parceria, ao acaso, e que, por conta deste alegado “acidente de percurso”, podemos quebrar a união por motivos banais, frívolos e injustos. Longe de entender ser o casamento indissolúvel, pois o conceito de indissolubilidade do casamento é uma lei humana muito contrária à Lei da Natureza, a união, nada obstante, de modo algum aconteceu por acaso.
REFERÊNCIAS:
1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2013. q. 8.
2 _____. O que é o Espiritismo. Tradução da Redação de Reformador de 1884. 56. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. q. 122.
3 _____. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2013. q. 388.
4 _____. _____. q. 525.
5 _____. _____. Comentário de Kardec à q. 525.
6_____. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 2, n.5, mai. 1859, Aforismos Espíritas e Pensamentos Avulsos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2009.