Autor: Marcus De Mario
Ao ser anunciado pela UNESCO o ano de 1970 como Ano Internacional da Educação, José Herculano Pires (1914-1979) conversou com Frederico Giannini Júnior (1908-1984), então diretor-proprietário da Edicel, editora espírita com sede na capital paulista, apresentando-lhe a ideia de publicar uma revista espírita dedicada à educação. A empreitada não seria fácil por vários motivos. O primeiro deles, gigantesco, era de ordem financeira, numa época em que a tecnologia digital e a internet eram apenas ficção, significando que uma revista somente poderia vir a público na forma impressa, com altos custos gráficos. Como Herculano Pires não era de desistir tão fácil de uma ideia que acalentava desde muito antes, pois sempre fora voltado à educação, e sempre entendera que o Espiritismo é essencialmente doutrina de educação do espírito reencarnado, começou a trabalhar, secundado pelo Giannini, que “comprou” a ideia e começou a sonhar com a revista.
Herculano convidou o jovem Merhy Seba (1937-2023) para criar a logo da revista, sua identidade visual, e este desenhou o símbolo que se fez capa da primeira edição. Lembremos que Merhy, na sequência, trabalhou muito pela USE SP – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, sendo criador de várias campanhas publicitárias de sucesso, além de realizar muitas oficinas e cursos de capacitação no movimento espírita.
Aparentemente dois obstáculos estavam superados. A Edicel iria bancar o lançamento da revista, e a mesma já tinha logo e projeto gráfico. E tinha nome: revista Educação Espírita. Entretanto, faltava o essencial: o conteúdo. Apesar dos convites e apelos aos amigos espíritas, quase ninguém se animou em colaborar com textos inéditos. Pelo contrário, houve uma campanha no movimento espírita contra a revista, pois muitos não conseguiam alcançar o entendimento que Herculano Pires possuía. Com esse impasse, o tempo passou, os meses foram ficando para trás, até que, finalmente, as condições básicas foram reunidas, e a revista foi lançada no mês de dezembro de 1970, no final do ano consagrado internacionalmente à educação.
O editor Giannini Júnior acreditou que a venda dos exemplares da revista cobriria o custo de produção, mas isso não aconteceu. O movimento espírita recebeu com frieza e indiferença o primeiro número. Herculano Pires foi acusado de autopromoção, afinal, com exceção do artigo assinado por Humberto Mariotti (1905-1982), valoroso espírita argentino, os demais conteúdos foram assinados pelo próprio Herculano, que usou seu nome e dois pseudônimos: José Amaral Simonetti e Irmão Saulo. Foi a única saída encontrada para finalmente conseguir publicar a revista. Mas não foi somente essa acusação. Muitos disseram à época que Herculano Pires estava forçando interpretações para ligar o Espiritismo à Educação, e que ele queria transformar os Centros Espíritas em Escolas. Não, não houve autopromoção nem interpretação forçada, e sim, houve má vontade para aquele que, segundo o benfeitor espiritual Emmanuel, conforme depoimento do médium Chico Xavier, era “o metro que melhor mediu Kardec”, e que não abria mão do que era certo, na teoria e na prática, com relação à Doutrina Espírita.
Para termos uma ideia do que foi a campanha contra a revista, Giannini Júnior e Herculano Pires somente conseguiram lançar o número dois no trimestre julho-setembro de 1972, ou seja, quase dois anos depois. Esse número trouxe a colaboração de Deolindo Amorim, Iracema Sapucaia Rizzini, Walter Nieble de Freitas, Vicente Peixoto, Ary Lex, entre outros. As barreiras pareciam ter sido vencidas, e o número 3 saiu no trimestre seguinte, fechando o ano com os números 2 e 3 lançados. Mas as vendas não corresponderam, e o ano de 1973 conheceu apenas os números 4 e 5 da revista, um para cada semestre. Cansado, Herculano Pires conseguiu reunir forças para mais um e derradeiro número no ano de 1974, encerrando a revista por falta da contrapartida dos espíritas.
Como vemos, a revista Educação Espírita, lançada por José Herculano Pires em dezembro de 1970, teve apenas 6 números, encerrando as atividades em 1974. No editorial do número 6, o último, Herculano não alinha nenhuma queixa, pelo contrário, escreve palavras de entusiasmo, ressaltando a pujança do movimento e da cultura espíritas nas terras brasileiras.
O pioneirismo foi vencido pelas barreiras da incompreensão, mas a ideia marcou o movimento espírita, que tempos depois lançou a Campanha de Evangelização Espírita Infantojuvenil, assim como o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, dando início a uma nova etapa da difusão do Espiritismo. E a Edicel, no ano de 1985, reúne os textos de Herculano Pires publicados nas seis edições da revista e faz o lançamento do livro Pedagogia Espírita, hoje em nova edição pela Editora Paidéia.
Numa sincera homenagem a José Herculano Pires, Frederico Giannini Júnior e Merhy Seba, e também a todos que sempre entenderam o Espiritismo como doutrina de educação do Espírito imortal e reencarnado, aqui estamos, numa nova época, num novo formato e com novas ferramentas tecnológicas, dando continuidade à Era do Espírito, resgatando, com amor e carinho, com fé e confiança, a revista Educação Espírita, num novo tempo, visando os tempos futuros.
Revista Educação Espírita – Ano 1 – Número 2