Autor: Victor Manoel Ventura Seco
“Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes os tratam com império. – Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo. – E aquele que quiser ser o primeiro entre vós seja vosso escravo”(S. MATEUS, capítulo XX, vv. 20 a 28.), ESE, Cap. 12, item 5, FEB, 115ª Edição.
Uma reflexão, para nós espíritas, se faz necessária sobre um tema relevante e atual. Como deve ser a organização de uma casa espírita? Se a legislação humana prescreve a necessidade de estatuto social, cargos, funções, formação de um conselho e assembleias para as deliberações da sociedade, o que prescreve a legislação divina?
Alguns acham que a casa espírita se assemelha a uma empresa. Entendem que, para o seu bom funcionamento, apesar de não possuir acionistas, não visar ao lucro, deve ter presidente, diretores, gerentes, coordenadores, supervisores, e uma linha hierárquica bem definida, com ordens sendo proferidas pelos cargos superiores e sendo obedecidas plenamente pelos cargos inferiores ou subalternos. Pensam que assim fica preservada a harmonia da mesma pela imposição de uma disciplina rígida e inquestionável a ser respeitada à risca. Argumentam que sem isso não se tem trabalho de equipe.
Alguns acham que a casa espírita é como qualquer clube, agremiação, ONG, enfim, como qualquer associação de pessoas reunidas num mesmo ideal e defendendo os mesmos interesses, como os clubes esportivos, as associações de profissionais, os sindicatos etc. Argumentam que os cargos, a hierarquia e a política são fundamentais. Não se vive sem isso. Fica bem na fita aquele que fizer um melhor marketing pessoal, aquele que vender melhor a sua imagem. Pode até ser eleito presidente! Não importa se essa imagem é verdadeira ou não. O que importa é que as pessoas se convençam que ele é “O Cara”.
Alguns acham que a casa espírita, por ser uma associação de pessoas com ideal religioso, deve funcionar como a maioria das instituições religiosas do planeta Terra. Argumentam que assim deve ser. Castas bem definidas de sacerdotes, noviços, líderes religiosos máximos, crentes, adeptos, seguidores fiéis ou simplesmente simpatizantes, e naturalmente com uma estrutura hierárquica mais rígida ainda. Com a disciplina e obediência cegas beirando as raias da irracionalidade. Tudo para preservar, acima de tudo e de todos, a instituição religiosa, sua hierarquia e sua tradição.
Mas como organizar uma casa espírita atendendo à legislação divina? O que ela prescreve? O que os Espíritos superiores nos aconselham e ensinam sobre a sua organização?
Nosso querido Mestre Jesus alerta os apóstolos: “Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes os tratam com império. – Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; – e, aquele que quiser ser o primeiro entre vós seja vosso escravo” (1).
Kardec esclarece outro sábio ensinamento de Jesus: “Será o maior no reino dos céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade”. (2) E complementa mais adiante: “Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no céu, se o merecerdes” (3).
Emmanuel, no livro “Seara dos Médiuns”, sabiamente apresenta ponderações sobre a organização do Espiritismo, nos ensinando:
”Todos estamos concordes em que a Doutrina Espírita revive agora o Cristianismo puro; no entanto, há muita gente que lhe estranha a organização, sem os chamados valores nobiliárquicos que assinalam a maioria das instituições terrestres.
A força de se iludirem com a idolatria, que sempre nos custa caro, muitos companheiros, menos vigilantes, desejariam condecorar trabalhadores da Nova Revelação, criando galerias para o relevo pessoal. E, se pudessem determinar o rumo das coisas, no consenso opinativo, decerto que há muito estaríamos mobilizando doutrinadores-chefes e médiuns-titulares, com as nossas casas de serviço perdendo tempo em mesuras e rapapés”.
“… Não existem, desse modo, médiuns maiores ou médiuns menores, favorecendo, entre nós, a constituição de prerrogativas e castas…”
“… Sustentar a ideia espírita, indene de qualquer imaginária fidalguia para aqueles que a servem, é dever para todos nós...” (4)
No livro “Nosso Lar”, capítulo 9, André Luiz relata como foi a atuação do governador frente às exigências descabidas de mesas lautas, bebidas excitantes, dilatando velhos vícios terrenos de alguns moradores da cidade espiritual. Amorosamente e com muita paciência e preseverança convidou instrutores de uma esfera muito elevada para instrução de todos. Organizaram-se assembleias numerosas. O Governador, porém, jamais castigou alguém. Convocava os adversários da medida ao palácio e expunha-lhes, paternalmente, os projetos e finalidades do regime alimentar da cidade que estava governando. Prosseguiram as reuniões, providências e atividades, durante trinta anos consecutivos, sem desaminar. Após 21 anos de estudos e conversações fraternas, aderiu o Ministério da Elevação. Somente depois de muitos estudos e muito diálogo fraterno, o governador tomou medidas mais enérgicas, devido à recalcitrância e impertinência desses Espíritos, tendo suportado tudo isso amorosamente por 30 anos consecutivos. (5) Se nós tivéssemos 10% da elevação espiritual do governador de Nosso Lar, debateríamos amorosamente as divergências de entendimento que surgem em nossas casas espíritas por pelo menos três anos consecutivos. Quem sabe um dia, quando evoluirmos, chegaremos lá.
Na primeira comunidade cristã, a Casa do Caminho, Pedro, Paulo, Tiago e os demais seguidores do Cristo também tiveram divergências de entendimento sobre as leis de Deus. Na obra “Paulo e Estevão” de Emmanuel é relatado, em seu capítulo cinco – “Lutas pelo Evangelho” (6) –, o debate sobre a necessidade ou não da circuncisão dos gentios para se converterem ao Evangelho de Jesus. Após vários dias de reunião em assembleia, com conversações fraternas, discursos e ponderações, chegou-se a uma conclusão sobre o tema. Todos atuaram de forma fraterna, solidária, respeitando o direito de expressar, de cada um, e ouviram e ponderaram as ideias expostas. Por que Pedro, que era considerado o líder dos apóstolos, não baixou um decreto, uma ordem, uma determinação sobre o tema, a ser seguida por todos? Por que não decidiu sozinho? Porque sabia que o verdadeiro amor cristão está alicerçado na humildade e não na hierarquia. Porque respeitava profundamente e intensamente cada um dos irmãos e irmãs da comunidade cristã, independente de possuírem entendimentos divergentes sobre o Evangelho. Porque conhecia, respeitava e praticava com fervor o ensinamento do Divino Mestre Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”(7).
Em contrapartida, vamos relembrar um pouco algumas citações das obras espíritas sobre a organização social dos grupos de Espíritos inferiores, umbralinos, trevosos, obsessores etc…., que se vinculam pela comunhão no egoísmo, orgulho, vaidade, soberba, altivez, pretensão, revolta e toda ampla variedade de pensamentos e atos contrários às Leis de Deus.
No livro “Libertação” de André Luiz, em seu primeiro capítulo, o Ministro Flácus, ensinando sobre essas organizações de desencarnados, esclarece:
“Frustrados em suas aspirações de vaidoso domínio no domicílio celestial, homens e mulheres de todos os climas e de todas as civilizações, depois da morte, esbarram nessa região em que se prolongam as atividades terrenas e elegem o instinto de soberania sobre a Terra por única felicidade digna do impulso de conquistar. Rebelados filhos da Providência, tentam desacreditar a grandeza divina, estimulando o poder autocrático da inteligência insubmissa e orgulhosa e buscam preservar os círculos terrestres para a dilatação indefinida do ódio e da revolta, da vaidade e da criminalidade, como se o Planeta, em sua expressão inferior, lhes fosse paraíso único, ainda não integralmente submetido a seus caprichos, em vista da permanente discórdia reinante entre eles mesmos. É que, confinados ao berço escabroso da ignorância em que o medo e a maldade, com inquietudes e perseguições recíprocas, lhes consomem as forças e lhes inutilizam o tempo, não se apercebem da situação dolorosa em que se acham.
Fora do amor verdadeiro, toda união é temporária e a guerra será sempre o estado natural daqueles que perseveram na posição de indisciplina.
Um reino espiritual, dividido e atormentado, cerca a experiência humana, em todas as direções, intentando dilatar o domínio permanente da tirania e da força…” (8)
Na sequência, em seu segundo capítulo, do mesmo livro, o Instrutor Gúbio tece mais comentários sobre essas organizações:
“… O objetivo essencial de tais exércitos sombrios é a conservação do primitivismo mental da criatura humana, a fim de que o Planeta permaneça, tanto quanto possível, sob seu jugo tirânico…”
“…O Instrutor Gúbio, fitando em nós o olhar percuciente e calmo, ponderou:
— Entenderam, agora, como é compreensível a opção de certos Espíritos pela casa escura do crime, depois do túmulo, qual ocorre a milhões de entidades encarnadas que, em plena harmonia com a natureza terrestre, estimam viver no domicílio da enfermidade? Atitudes mentais enraizadas não se modificam facilmente. O rei que governa milhares, o condutor que se acostumou a traçar férreas diretrizes, o homem que se habituou a dobrar caracteres alheios, quando não dispõem de princípios santificantes, no terreno idealístico, para se alimentarem intimamente na tarefa a que se consagram, não se transformam em servidores humildes de um momento para outro, só porque se desfizeram da carga de células materiais…” (8)
No livro “Os Mensageiros”, em seu capítulo 20, quando André Luiz está visitando as defesas das muralhas de Nosso Lar, o administrador Alfredo esclarece:
“ … As organizações de nossos irmãos consagrados ao mal são vastíssimas. Não admitam a hipótese de serem todos eles, ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de perversos e criminosos. São entidades verdadeiramente diabólicas. Não tenham disso qualquer dúvida…”
“… Querem dominar antes de se dominarem, exigem antes de dar e entram em perene conflito com o espírito divino da lei. Estabelecido o duelo entre a fantasia deles e a verdade do Pai, resistem às corrigendas do Senhor e transformam-se, esses desventurados, em verdadeiros gênios da sombra, até que, um dia, se decidam a novos rumos.
Intrigado com as profundas observações, perguntei:
— Mas, como explicar as bases de semelhante atitude? Na Terra, compreendemos certos enganos, mas aqui…
O generoso interlocutor não me deixou terminar e prosseguiu:
— Na Crosta, nossos irmãos menos felizes lutam pela dominação econômica, pelas paixões desordenadas, pela hegemonia de falsos princípios. Nestas zonas imediatas à mente terrestre, temos tudo isso em identidade de condições. Entre as entidades perversas e ignorantes, há cooperativas para o mal, sistemas econômicos de natureza feudalista, baixa exploração de certas forças da Natureza, vaidades tirânicas, difusão de mentiras, escravização dos que se enfraquecem pela invigilância, doloroso cativeiro dos Espíritos falidos e imprevidentes, paixões talvez mais desordenadas que as da Terra, inquietações sentimentais, terríveis desequilíbrios da mente, angustiosos desvios do sentimento. Em todo o lugar, meu amigo, as quedas espirituais, perante o Senhor, são sempre as mesmas, embora variem de intensidade e coloração.” (9)
No livro “Aconteceu na Casa Espírita”, Nora, a autora espiritual, nos relata na psicografia de Emanuel Cristiano, em seu quinto capítulo, a técnica de Júlio César, o líder dos obsessores. Ele oferece favores e cargos aos obsessores, e estimula a vaidade da médium para que esta acreditasse em sua superioridade perante os demais médiuns da casa espírita.
“… Júlio César acompanhou o trabalho de Maria Souza (médium) durante várias semanas, fazendo com que casos semelhantes a estes fossem repetidos (casos de cura); para isso oferecia cargos, favores e retribuições aos obsessores, provocando nela a certeza de que finalmente havia desenvolvido a faculdade de cura…” (10)
Mais adiante, no oitavo capítulo, “Cedendo à Tentação”, após a infiltração dos obsessores no pensamento dos trabalhadores da casa espírita, é relatada pelo Espírito Nora a característica da perturbação que se instalou:
“… Não faltavam, porém, os invigilantes perturbando o serviço. Sequiosos por cargos, disputavam a organização das entrevistas, quais representantes do orgulho em uma empresa do mundo. Esqueceram que os candidatos a comandar o trabalho do bem devem, primeiramente, se esforçar por comandarem a si mesmos…” (11)
No livro “Os Mensageiros”, no seu vigésimo sexto capítulo, quando André Luiz está visitando um dos Postos de Socorro de Campo de Paz, comenta sobre a organização:
“… Notei que o trabalho no Posto se desenvolvia em ambiente da mais bela camaradagem não obstante o respeito natural às noções de hierarquia…” (12)
Ismália recebia senhoras em atitude maternal. Alfredo recebia a todos com espírito de solidariedade e imenso afeto, sem o menor gesto de impaciência ou irritação. O clima era de concórdia. Tudo respirava ordem e compreensão, bondade e harmonia. A atitude paterna do administrador do Posto de Socorro, expressa em energia e amizade, organização e entendimento, atraía André Luiz com força. (12)
Fica claro que a hierarquia estabelecida refere-se às especialidades das funções de cada colaborador do posto de serviços, hierarquia apenas com foco organizacional, para a harmonia do desempenho de um serviço coletivo. O ambiente é caracterizado pela mais bela camaradagem. O ideal predominante é o de servir ao Mestre Jesus. Não há espaço para disputas de cargos e atuação política. A conquista do poder e o domínio sobre os outros não faz parte dos valores desses benfeitores.
O nosso querido Francisco Cândido Xavier, o maior exemplo de atuação de um verdadeiro espírita, serviu durante diversos anos em um centro em Uberaba. Após quatorze anos de atividade, a casa espírita havia crescido, ocupando quase um quarteirão. Não havia mais espaço para o servidor humilde de Jesus. Chico se afastou e fundou uma nova casa espírita. Com estrutura menor, com menos participantes, mas com o amor e a humildade que caracterizam os verdadeiros seguidores do Mestre Divino. De vez em quando ele comentava:
“… Em casa que muito cresce o amor desaparece…” (13)
O que será que Chico constatou? Será que a casa espírita havia perdido a pureza e a simplicidade do início quando era um pequeno núcleo de fraternidade e solidariedade? Será que o tamanho e a estrutura da mesma induziam os colaboradores a posturas menos humildes, com hierarquia, cargos, disputas de poder e vaidades pessoais?
O Professor Herculano Pires, que nas palavras de Emmanuel, é “o metro que melhor mediu Kardec”, em seu livro “O Centro Espírita”, cap. III, faz a seguinte ponderação sobre a organização de uma casa espírita:
“… Mas, acima de tudo e antes de tudo: humildade. Porque Espiritismo sem humildade é água poluída, cheia dos germes da pretensão, da vaidade, do orgulho que atraem os Espíritos inferiores. Um presidente de Centro não é o Presidente da República e um doutrinador não é um sábio. Pelo contrário, são criaturas necessitadas que estão aprendendo a arte difícil de servir e não a de baixar decretos, dar ordens e humilhar os outros em público. Sem humildade que gera e sustenta o amor ao próximo, nem o estudo pode dar frutos…” (14)
Como sabemos, somos todos médiuns, variando apena o tipo de mediunidade que cada um possui e o grau de sensibilidade de cada médium, em especial aqueles que desempenham alguma tarefa dentro de uma casa espírita. Relembrando um relevante ensinamento de Emmanuel, no longínquo ano de 1.937, em sua obra intitulada “Emmanuel”, no capítulo XI, “Mensagens aos Médiuns”, na qual ele apresenta diversas ponderações aos médiuns, para relembrar sobre o passado espiritual destes:
“… O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre, são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas arrependidas que procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam, reorganizando, com sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas arbitrariedades e de criminosa insânia…” (15)
Reforçando este sábio conceito ensinado por Emmanuel, temos no livro “Aconteceu na Casa Espírita” a mesma afirmação. Castro, o presidente do Centro Espírita sob ataque obsessivo, recebendo instruções do dirigente espiritual, que lhe relembra a necessidade de humildade e sacrifício em sua atuação, é informado de que também já participou, no passado, das “hostes infernais”.
“… se queres saber, tu mesmo já fizeste parte das ‘hostes infernais’! Quem de nós, peregrinando pelos caminhos da ignorância, não contribuímos para entravar o progresso?” (16)
Mais adiante, na mesma obra literária, após o arrependimento de seus atos, Júlio César, o obsessor chefe, é conduzido a nova reencarnação em família espírita, para reparar o mal praticado. Com aproximadamente 50 anos de idade física, portador do dom da mediunidade, assumirá a presidência da Casa Espírita que tanto ele perseguiu, para tentar reparar o mal praticado. (17)
Vale para todos nós, com raríssimas exceções, um importante alerta. Quando faltar a humildade em nossa atuação, lembremo-nos de que não somos seres angélicos repletos de virtudes que assumimos, nesta encarnação, cargos importantes, devido à nossa elevação espiritual. Somos, sim, seres milenares envolvidos, em diversas encarnações, em grandes faltas perante as Leis Divinas, aos quais, pela bondade infinita de Deus, foram concedidas oportunidades de resgate e expiação dessas faltas, atuando em funções transitórias de caráter religioso nas casas espíritas.
Por tudo que foi exposto acima, por todas as ponderações de Espíritos bondosos nas citações da literatura espírita, neste artigo, creio que é de grande utilidade para todos nós repensarmos o centro espírita e as nossas posturas e atuações nessas instituições.
Antes de considerarmos a casa espírita como uma empresa, um clube, uma agremiação, uma ONG, ou uma associação de pessoas com ideal religioso, antes de estabelecermos hierarquias e estruturas de poder, disciplinas e obediências cegas, idolatria de médiuns e dirigentes, lembremo-nos que um centro espírita é, acima de tudo, um núcleo de amor, fraternidade e solidariedade. É um núcleo de consolo para almas adoentadas como as nossas, que buscam o reequilíbrio através do exemplo e da vivência do amor cristão verdadeiro. É um núcleo de estudos da doutrina espírita, no qual podem e devem participar pessoas que desejam realmente, do fundo do coração, conhecer as Leis de Deus. Livres de dogmatismos, preconceitos, tradições, secularização, sincretismos e misticismos. Pessoas que desejam estudar com o divino direito de questionar constantemente, analisando à luz da razão e do bom senso, deduzindo livremente os preceitos, debatendo ideias, e, não, aceitando e concordando cegamente.
Enquanto o amor, a fraternidade, a solidariedade nas relações não constituírem a essência primordial da atuação de todos nós, acima de qualquer hierarquia na casa espírita, enquanto não dominarmos nossas inclinações inferiores, que nos conduzem às posturas de orgulho, vaidade e prepotência, não estaremos servindo adequadamente ao Mestre Jesus, e consequentemente falhando, mais uma vez, nessas provações de caráter religioso.
A quem muito foi dado muito será pedido, nos ensinou o Divino Mestre. Naturalmente, recebemos todo o ensino e treinamento necessários, antes de encarnar, para atuarmos com amor e fidelidade aos preceitos do Cristo. Vale lembrar outro sábio ensinamento de Emmanuel a todos nós que abraçamos a Doutrina Espírita:
“… Dignifica, assim, a Doutrina que te consola e liberta, vigiando-lhe a pureza e simplicidade, para que não colabores, sem perceber, nos vícios da ignorância e nos crimes do pensamento…
… Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo.
E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfeiçoamento moral em todos os mundos. Guarda-a, pois, na existência, como sendo a tua responsabilidade mais alta, porque dia virá em que serás naturalmente convidado a prestar-lhe contas” (18).
Referências
(1) S. MATEUS, capítulo XX, vv. 20 a 28, ESSE, Cap. 07, item 4. Edição FEB – 115ª Edição.
(2) e (3) ESSE, Cap. 07, item 6. Edição FEB – 115ª Edição.
(4) “Seara dos Médiuns”, p. 103, “Mediunidade e Privilégios”, FEB, 6ª. Edição.
(5) “Nosso Lar”, pp. 54-58, André Luiz, FEB, 45ª Edição.
(6) “Paulo e Estevão”, Cap. 5, Emmanuel, FEB, 45ª Edição.
(7) Evangelho de João, 13:35, citado em “Fonte Viva”, Lição 15, p. 43, Emmanuel, FEB, 20ª. Edição.
(8) “Libertação”, Cap. 01 e 02, André Luiz, pp. 19,31, 14ª Edição, FEB.
(9) “Os Mensageiros”, Cap. 20, pp. 109 e 110, André Luiz, FEB, 21 ª Edição.
(10) “Aconteceu na Casa Espírita”, Cap. 05, “Estimulando a Vaidade”, p. 47, Editora do Centro Espírita Allan Kardec, 2ª. Edição.
(11) “Aconteceu na Casa Espírita”, Cap. 08, “Cedendo a Tentação”, p. 80, Editora do Centro Espírita Allan Kardec, 2ª. Edição.
(12) “Os Mensageiros”, Cap. 26, pp. 109 e 110, André Luiz, FEB, 21 ª Edição.
(13) “As vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior, Cap. “A vida desapropriada”, p. 208, Editora Planeta do Brasil Ltda., 2ª. Edição.
(14) “O Centro Espírita”, Prof. J. Herculano Pires, Cap. III, “O Centro e a Comunidade”, p. 26, Editora Paideia Ltda., 2ª. Edição.
(15) “Emmanuel”, de Emmanuel, Cap. XI, p. 66, “Quem são os médiuns em sua generalidade”, FEB, 14ª. Edição.
(16) “Aconteceu na Casa Espírita”, Cap. 09, “Entre Mensagens e Críticas”, p. 89, Editora do Centro Espírita Allan Kardec, 2ª. Edição.
(17) “Aconteceu na Casa Espírita”, Cap. 16, “Socorrendo o Vencido”, p. 164, Editora do Centro Espírita Allan Kardec, 2ª. Edição.
(18) “Religião dos Espíritos”, pp. 227 e 229, Edição FEB.
O consolador – Ano 4 – N 155 – Artigos