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Hipocrisia

Autor: Joelson Pessoa

Em verdade vos digo: Os corruptos e as prostitutas chegam primeiro que vós ao reino dos Céus (Mateus 21:31)

Em todos os tempos a prostituição pareceu a mais desgraçada escolha que uma mulher pôde fazer. Ainda hoje é o emblema maior da corrupção moral, da vergonha. Existe ofensa mais ultrajante para uma mulher que os sinônimos ainda em voga atualmente para meretriz (puta, por exemplo) ?

Publicano é um termo em desuso, era o nome dado ao cargo de um cobrador de impostos, recrutado entre cidadãos de uma nação dominada, a serviço do dominador. 

No caso dos Evangelhos, publicano era um cidadão judeu (como o apóstolo Mateus) , empregado por Roma, a fim de recolher impostos dos judeus para os cofres romanos. Era por isso desprezado e odiado, julgado um pecador e traidor imperdoável, mas que não podia ser combatido, porque tinha a autoridade de Roma a seu favor. Ocorre que muitos publicanos se aproveitavam da autoridade romana para cobrar acima do ordenado e embolsavam para si a diferença (corruptos, como o Zaqueu, da bíblia) e eram por isso ainda mais detestados e discriminados. Um fariseu (adepto do farisaísmo, partido dominante e supostamente mais moralizado da elite judáica nos dias de Jesus), não sentava-se à mesa em que houvesse um publicano (traidor e ladrão).      

Bom, deu para entender que as prostitutas e os publicanos constituíam algumas das figuras que menos prestavam naquela sociedade, tão zeladora da tradição, da moral e dos bons costumes. Tanto que Jesus, no sentido de apontar a enormidade da falta de um certo grupo social, chocou-os até o último fio de cabelo, ao afirmar que até os publicanos e as adúlteras eram melhores que aqueles.

Mas quem eram aqueles ?

Eram os senhores da elite judaica, homens supostamente sérios, puros na moral e honestos segundo a lei.

Mas, qual era a tal falta recorrente entre eles que Jesus denunciava com tanta gravidade?

Era e é: a hipocrisia.

A circunstância em que Jesus detonou os representantes da hipocrisia deu-se numa de suas últimas visitas ao centro de Jerusalém, onde se erguia o famoso templo de Salomão, ali ele ensinava a multidão presente e, chegando os sacerdotes, juízes e escrivães, incomodadíssimos com o protagonismo do emergente e polêmico Jesus (um jovem ordinário da paupérrima galileia), repreendeu-o questionando sua autoridade para ensinar no templo. Jesus estabelece um corajoso e épico dialogo com essa tropa de elite do seu país. Deu várias invertidas em seus opositores e a certa altura do debate, acusa-os de serem mais culpados que os ladrões e putas. O evangelista Mateus anotou que neste ocasião os juízes e sacerdotes só não prenderam Jesus porque temiam a reação da grande multidão que seguia Jesus.

Ora! Ora! Ora!

Pessoas que praticam a corrupção e a prostituição certamente estão em erro, ambos inclusive são punidos pela lei dos homens (a prostituição nem tanto);

João 8:10 = E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
Imagem da Internet

Já a hipocrisia, sempre censurada nos outros, jamais admitida em si mesmo, embora não punida na lei humana, é julgada como falta mais grave pela lei divina

Em todos os textos evangélicos (são vários) em que Jesus confrontou a hipocrisia de certas classes supostas melhor, perante os erros ordinários do povo comum, a hipocrisia é sempre exemplarmente condenada, seja pelo seu aspecto sutilmente dissimulado, seja pelo seu potencial em corromper a moral dos que estão sob sua influência e autoridade, seja pelo endurecimento do coração no desamor perante os marginalizados , pela perversidade em comprazer-se em ferir n’alma suas vítimas em condições de maior dificuldades. 

O ladrão fere os interesses material de terceiros geralmente sem ameaçar seus outros direitos, sua dignidade, sua honra, sua moral. A prostituta degrada exclusivamente a sua própria intimidade geralmente sem lesar ninguém. Quantas mulheres já tiveram a felicidade afetiva ameaçada por uma garota-de-programa? E quantas já conheceram a desgraça através da deslealdade de uma amiga “descente” ?   

Em O Céu e o Inferno, na 2ª parte deste livro, Kardec selecionou, entre milhares de depoimentos mediúnicos, os TOP 66são os 66 melhores casos espirituais, um mais interessante que o outro, revelando as consequências ditosas ou desgraçadas no mundo espiritual segundo a maneira como esses espíritos viveram na Terra quando encarnados.

Ali os casos estão agrupados por condição moral. Num extremo, os espíritos felizes, no outro extremo, os espíritos endurecidos, entre eles, há uma variedade de condições intermediárias, como os espíritos em condição mediana, os suicidas, os criminosos arrependidos e os sofredores. 

O pior grupo é o dos espíritos endurecidos, neste grupo encontramos, em sua maioria, espíritos que enquanto encarnados, pareceram pessoas honestas e algumas até admiradas.  Nenhuma delas assassinou, assaltou nem prostituiu-se. Mas eram arrogantes, preconceituosas ou devido ao egoísmo, indiferentes aos seus semelhantes. Angela, por exemplo, foi uma dondoca de classe média alta, casada, tinha criadagem para cozinhar, lavar e limpar sua casa. Também teve pagens para cuidar dos seus dois filhos. Havendo tido tudo na existência para poder dedicar-se em algo proveitoso, foi diagnosticada por Kardec como sendo uma nulidade existencial (um zero à esquerda) Angela, desencarnada, retirou-se da reunião confessando o tédio que a mesma lhe causava. 

No grupo criminosos arrependidos, ou dos suicidas, a maioria dos espíritos foi tocada pelo convite de Kardec em a partir do reconhecimento de suas faltas, prosseguir com a reparação das mesmas,  entre eles, Jaques Latour, que fora um famoso assassino na Bélgica e, reincidente, foi preso e punido com a pena de morte. Em poucas semanas após o desencarne, havendo sofrido uma quota da desgraça decorrente dos remorsos, admiravelmente se recupera ante a evangelhoterapia praticada por Kardec  e este espírito se revelou tão receptivo ao arrependimento e apto à reparação que já se encontrava, ao cabo de algumas sessões mediúnicas,  planejando sua próxima existência, na qual deveria trabalhar para afastar pessoas do mau caminho.      

Angela, a dona de casa que viveu sem que nada, aparentemente, a desabonasse na sociedade. Sofria após a morte, sem vislumbrar trégua.

Jaques Latour, um criminoso apavorante e odiado, sem qualquer valor que pudesse lhe ser reconhecido, comprova grande capacidade de recuperação moral e consequentemente alcançava consolo em seu pesar.

Concluímos, como é óbvio, que não devemos roubar e nem nos prostituir, mas, muito menos ainda, em incorrer em hipocrisia. 

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