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Ideia fixa

Autor: Juan Carlos Orozco

Esta reflexão tem como propósito abordar questões a respeito de ideia fixa com algumas de suas características, que poderão servir de alerta para prevenir possíveis consequências indesejáveis e motivadoras de alguns males, porquanto espera-se que a sua compreensão auxilie a evitar a sua evolução para um estado patológico.

Não se pretende nesta reflexão, por exemplo, aprofundar estudos em processos de obsessão e desobsessão, em face da sua complexidade temática, mas tão somente estabelecer simples relação para chamar a atenção para os cuidados com as ideias fixas.

Ideia poderá ser representação mental de uma realidade ou de algo transcendente, abstrato, imaginário, fantasioso, fantástico, fictício, utópico, entre outros, relacionando-se a um pensamento acerca de coisa, alguém, informação, conceito, conhecimento, noção, criação, descoberta ou opinião.

As ideias surgem de várias maneiras, dependendo da conexão mental realizada com as circunstâncias enfrentadas, os entendimentos de uma realidade, a percepção de vida, a análise e o julgamento acerca de determinadas questões.

As ideias podem ser boas, indiferentes ou ruins, dependendo de como elas estão inseridas no contexto de uma realidade ou abstração.

Importante recordar que a partir de uma ideia muitas coisas passam a existir ou a acontecer, sendo seus pontos de partida.

A ideia fixa ou convicção recorrente, por vezes involuntária, conduz a um pensamento dominante e persistente em uma pessoa, quer seja ele bom ou ruim.

A ideia fixa poderá ter várias gradações, dependendo da sua intensidade e do seu domínio, desde uma simples repetição de pensamento até algo patológico, como sintoma de uma monomania, obsessão ou paranoia.

Pessoas com ideias fixas podem ser consideradas obstinadas, perseverantes, persistentes, firmes, teimosias, renitentes, inflexíveis, obsessivas, dentre outras.

A ideia fixa tem seu aspecto negativo, preocupante e perigoso, quando foge aos parâmetros de normalidade, bloqueando a mente da pessoa a ponto de não mais enxergar, escutar ou compreender situações, conhecimentos, explicações, esclarecimentos, alertas ou sugestões, que contrariem seus pensamentos preconcebidos.

Dependendo da intensidade e do domínio, a ideia fixa poderá ser considerada um transtorno mental ou psiquiátrico, caracterizado por pensar obsessivamente em algo ou alguém durante muito tempo seguido.

Pessoa com ideia fixa poderá passar por desligamento mental, quando alguém tenta lhe trazer à razão sobre a consequência de determinada atitude, funcionando como escudo à ação de trazer para a realidade.

Para a Doutrina Espírita, a ideia fixa poderá dominar um Espírito obsessor, assim como a pessoa obsidiada por ele.

Suely Caldas Schubert, no livro Obsessão/Desobsessão, no Capítulo 3 – O que é a obsessão, caracteriza-a como: “Impertinência, perseguição, vexação. Preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o Espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania. Vulgarmente a palavra obsessão é usada para significar ideia fixa em alguma coisa, gerando um estado mental doentio, daí podendo advir manias, cacoetes, atitudes estranhas.”

Assim, obsessão é a ação de domínio doentio persistente sobre uma pessoa, encarnada ou desencarnada, com características diversas, desde uma simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até uma perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.

Em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, Segunda Parte, Capítulo XXIII, Da obsessão, tem-se o alerta: “A obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens patológicas e reclama, por vezes, tratamento simultâneo ou consecutivo, quer magnético, quer médico, para restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa, resta combater os efeitos.”

Desse alerta, verifica-se que a obsessão prolongada conduz a um processo complexo de desordem patológica e de extenso tratamento, requerendo ações simultâneas da medicina humana e de ordem espiritual para restabelecer a saúde do paciente. Mesmo eliminando as causas, há de se continuar o tratamento dos seus efeitos.

A esse respeito, no livro Obsessão/Desobsessão, segunda parte, Capítulo 8 – Os recursos espíritas, Suely Caldas Schubert alerta:“Convém lembrar sempre que se o doente está fazendo uso de medicação receitada por médico da Terra, esta não deverá ser suspensa, nem sob o pretexto de atrapalhar o tratamento espiritual. Uma atitude dessas traz graves implicações, cujos resultados poderão comprometer seriamente aquele que a recomendou. Afinal, sabemos à saciedade que existem casos de caráter misto, em que se conjugam o mal espiritual e o físico, exigindo por isso uma terapêutica igualmente mista.”

Caso alguém recorra a tratamento de desobsessão em um centro espírita, destaca-se que não se deve parar ou suspender o tratamento médico desse paciente ou deixar de tomar os medicamentos prescritos.

Na obsessão simples, ocorre um grau de constrangimento que se limita a perturbar a vontade, a emoção e o psiquismo do obsidiado, mas não domina em profundidade o seu psiquismo.

Na fascinação, háilusão produzida sobre o pensamento na mente do obsidiado, tais como: ideias fixas, imagens hipnotizantes, mágoas, fantasias, etc. O fascinado não acredita que está sendo enganado, contudo da ilusão que dela decorre a pessoa fica como um cego, afastando tudo aquilo que lhe possa abrir os olhos.

A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. O paciente fica sob um verdadeiro jugo. O subjugado é constrangido a tomar resoluções absurdas e comprometedoras que, por ilusão, julga sensatas. Essa obsessão pode levar a uma espécie de loucura espiritual, diferente da orgânica.

Preventivamente, é preciso identificar a ideia fixa e a sua relação com a obsessão, desde o início, quando o seu grau de constrangimento é menor. Por conseguinte, qualquer ideia fixa que venha a perturbar emocionalmente uma pessoa será sempre um sinal de alerta, precisando ser combatida a sua origem.

O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no livro Nos bastidores da obsessão, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, em “Examinando a obsessão”, esclarece:

“Quando você escutar nos recessos da mente uma ideia torturante que teima por se fixar, interrompendo o curso dos pensamentos; quando constatar, imperiosa, atuante força psíquica interferindo nos processos mentais; quando verificar a vontade sendo dominada por outra vontade que parece dominar; quando experimentar inquietação crescente, na intimidade mental, sem motivos reais; quando sentir o impacto do desalinho espiritual em franco desenvolvimento, acautele-se, porque você se encontra em processo imperioso e ultriz de obsessão pertinaz.

Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicação difícil.

A princípio se manifesta como inspiração sutil, depois intempestivamente, para com o tempo fazer-se interferência da mente obsessora na mente encarnada, com vigor que alcança o clímax na possessão lamentável.

Ideia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão.

Da mesma forma que as enfermidades orgânicas se manifestam onde há carência, o campo obsessivo se desloca da mente para o departamento somático onde as imperfeições morais do pretérito deixaram marcas profundas no perispírito.”

Pelo texto de Manoel Philomeno de Miranda, percebe-se a gravidade da obsessão alimentada pela ideia fixa, atuando na mente da pessoa obsidiada, nos seus pensamentos e na sua vontade, causando domínio, inquietação e aflições.

Em “Examinando a obsessão: a) Obsessões especiais”, Philomeno de Miranda ensina: “O pensamento é sempre o dínamo vigoroso que emite ondas e que registra vibrações, em intercâmbio ininterrupto nas diversas faixas que circulam a Terra. Mentes viciadas e em tormento, não poucas vezes escravas da monoideia obsessiva, sincronizam com outras mentes desprevenidas e ociosas, gerando pressão devastadora. (…) Muitos processos graves de alienação mental têm início quando os seres constrangidos por essa força possuidora, ao invés de a repelirem, acalentam-lhe os miasmas pertinazes que terminam por assenhorear-se do campo em que se espalham.”

Assim, o pensamento é meio de intercâmbio espiritual, emitindo e recebendo ondas de vibrações nas faixas que circulam na Terra. Por esse meio, mentes de pessoas poderão se entrelaçar em monoideias obsessivas, que causam processos graves de alienação mental devido a uma força possuidora pertinaz que acaba dominando a pessoa.

Em “Perante obsessores”: Philomeno de Miranda alerta: “A princípio, como mensagem invasora, a influência sobre as telas mentais do incauto é a ideia negativa não percebida. Só mais tarde, quando as impressões vigorosas se fixam como panoramas íntimos de difícil eliminação, é que o invigilante procura o benefício dos medicamentos de resultados inócuos. (…) Em razão disso, somos o que pensamos, permutando vibrações que se harmonizam com outras vibrações afins.”

Em “Socorro espiritual”, no Capítulo2, temos: “A viciação mental, resultante do pensamento vibrando na mesma onda, gera a ideia delinquente na psicosfera pessoal do seu emitente, aglutinando forças da mesma qualidade, por sua vez emanadas por inteligências desajustadas, que se transformam em energia destruidora. Tal energia é resultante do bloqueio mental pela densidade da tensão no campo magnético da aura. Ali, então, se imprimem por força da monoideia devastadora as construções psíquicas que se convertem em instrumento de flagício pessoal ou instrumento de suplício alheio, operando sempre no mesmo campo de vibrações mentais idênticas. Quando essas energias são dirigidas aos encarnados e sintonizam pela onda do pensamento, produzindo as lamentáveis obsessões que atingem igualmente os centros da forma, degeneram as células encarregadas do metabolismo psíquico ou físico, manifestando-se em enfermidades perturbadoras, de longo curso…”

A mente é o centro emissor dos nossos pensamentos, que tudo move, refletindo, como um espelho, a nossa vida, conforme o estágio evolutivo em que nos encontramos.

Projetamos os nossos reflexos mentais e recebemos os reflexos de outras criaturas.

Pelos pensamentos, podemos colocar-nos em comunhão com o Pai, mover, construir, evoluir e iluminar-se, ou estacionar, destruir e mergulhar na escuridão.

Por isso, muito importante controlar os pensamentos doentios, porquanto o ser humano, como ímã, atrai sobre si mesmo a contaminação fluídica de entidades inferiores em desequilíbrio, capazes de nos conduzir a males físicos de variada procedência. Quantos vícios, que corroem a vida moral, são decorrentes do pensamento desgovernado, impondo ao corpo físico processos patológicos indefiníveis que favorecem a queda ou até mesmo a morte. Isso porque a mente é o incessante gerador de força através dos fios positivos e negativos do sentimento e do pensamento.

Um pensamento negativo ou uma supervalorização de ideia fixa pode crescer desordenadamente, pois é no estado negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia orgânica, enredando o corpo e a alma nas teias da enfermidade.

Por esse motivo, devemos ter cuidado com os nossos pensamentos, palavras, gestos e ações, pois receberemos da vida aquilo que oferecemos a ela, pois nem sempre conseguiremos perceber a presença do mal.

Os pensamentos negativos prejudicam e produzem ressonância perniciosa em nós mesmos e nas pessoas a quem são dirigidos. Por outro lado, os pensamentos positivos se hospedam no coração, recebendo influxos mentais bons e revigorantes.

Muitos distúrbios de comportamento psicológico são provenientes de sintonias carregadas de sentimentos inferiores, cujas descargas de efeitos danosos têm origens em seres inferiores de baixas vibrações espirituais.

Não se deve responder na mesma faixa de frequência as vibrações inferiores, pois o intercâmbio poderá ser destruidor.

O pensamento positivo e edificante traz energias que nos sustentarão os campos vibratórios, captando energias benéficas nas augustas fontes do amor universal.

Por tudo isso, é preciso aprender a disciplinar os pensamentos, a fim de atrairmos os bons Espíritos que nos auxiliarão a percorrer o bom caminho, tornando-o menos árido e pleno de realizações espirituais.

Portanto, segue o alerta quanto à ideia fixa, ponha-se vigilante a esse respeito!

Bibliografia

BÍBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MIRANDA, Manoel Philomeno de (Espírito), na psicografia Manoel Divaldo Pereira Franco. Nos bastidores da obsessão. 13ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

SCHUBERT, Suely Caldas. Obsessão/Desobsessão: profilaxia e terapêutica espíritas. 3ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.    

O consolador – Ano 18 – N 876 – Artigos

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