Em 1865, numa aldeia do interior da Finlândia, reencarnou o Espírito que então se chamou Johann Julius Christian Sibelius, no lar de um médico muito estimado pelos seus dotes de coração.
Ao atingir a maioridade, passou a chamar-se simplesmente Jean Sibelius.
Foi um compositor musical que se salientou pela maneira toda sua de articular as notas da gama musical, oferecendo ao mundo páginas diferentes e de suave sonoridade, por meio dessa técnica então desconhecida.
Para ele, a música era apenas um dos espelhos que refletiam a vida.
Jean Sibelius não foi propriamente um menino prodígio, mas desde muito cedo dava provas manifestas de seu grande talento para a sublime arte dos sons.
Não obstante seus cinco anos de idade, procurava tirar das teclas do piano novas harmonias e melodias.
Seu Espírito, submetido ainda às naturais restrições impostas pelo corpo físico, vibrava ansioso por expressar a linguagem musical, tal como ele a compreendia e sentia, porque, não há dúvida alguma, sua vinda à Terra teve o objetivo de oferecer à Humanidade uma nova técnica no campo da harmonia dos sons.
Jamais se afeiçoara ao piano. O instrumento de sua predileção foi sempre o violino. E’ que sua alma vibrátil sentia que somente por meio desse maravilhoso instrumento, que é o violino, poderia ele melhor reproduzir as coisas delicadas que seus ouvidos psíquicos captavam do Espaço!
E o violino tem alma, ele sabe, melhor que nenhum outro, cantar as mais profundas emoções da alma humana!
A mediunidade sensitiva de Sibelius carecia de um instrumento capaz de interpretar a linguagem espiritual dos sons harmoniosos que tanto o seduziam!
E para que se possa ajuizar da missão de que ele foi investido, basta dizer-se que, com sete anos incompletos, sem nenhum treino metódico, começou a expressar – se numa linguagem musical própria.
Soube impermeabilizar- se da influência dos clássicos, iniciando assim suas primeiras experiências no tocante à formação de um novo idioma musical.
Sibelius vivia todas as horas do dia no mundo da música, tanto que, no colégio, raramente prestava atenção às lições do Mestre. Seu espírito, parece, tinha a faculdade de alhear-se completamente dos fortes ruídos do mundo físico e desprender-se do casulo corpóreo para mergulhar nas ondas encantadoras e harmoniosas que se esbatem nas praias serenas e tranquilas da Espiritualidade.
A prova está no fato de seu mestre só receber as mais disparatadas respostas, quando inesperadamente o interpelava.
– Valha-me Deus, – observava o bondoso mestre, com um suspiro: – Sibelius já está de novo no outro mundo!
E realmente Sibelius, nesses momentos, achava-se num mundo que distava, na imaginação, muitas léguas do das aulas, escreveu um de seus biógrafos.
Todos sabemos que «cor e som são íntimos aliados e que cada som tem seu acompanhamento de cores e tons. São as diferentes expressões do movimento». Cor e som são fenômenos vibratórios. Os nossos cinco sentidos, ainda muito rudimentares, não conseguem perceber o infinito número de sons e de cores existentes pelo Espaço a fora.
Hoje em dia, segundo explana Joviano Torres, em sua obra «A Matéria», já podemos afirmar que «o visível, o palpável, o concreto, em suma, não é mais, não é menos que a aglomeração do invisível, do imponderável; e que a rigidez do ponderável, do material, resulta da alta condensação do imaterial e do abstrato, segundo se prova hoje, com a moderna teoria atômica, ou o atomismo.»
Feita esta pequena digressão, voltemos a Sibelius, detentor de uma mediunidade especialíssima, senão vejamos o que alguém escreveu a seu respeito: «O seu sentido visual era particularmente forte. Os estados de espírito apresentavam – se – lhe sempre sob a forma de cores, e havia, além disso, em seu Espírito uma associação definida entre a cor e o som, de maneira que, para ele, uma composição musical assumia um modelo calidoscópio, uma imagem estética e conveniente que ele não só ouvia como também enxergava. Um dos seus amigos do tempo de estudante observou que, para Sibelius, cada tom musical tinha um matiz diferente. «O tom Lá maior era azul; o Dó maior, vermelho; o Fá maior, verde e O Ré maior, amarelo.»
Sibelius via por toda a parte manifestar-se a vida.
Não admitia a existência de qualquer coisa sem vida.
E o Espiritismo nos ensina que a vida existe até nos próprios minerais.
Discutindo composição com os alunos, não se cansava de observar: – Evitai as notas mortas. Todas as notas devem ter vida!
E nas músicas de Sibelius não existem notas mortas, cada uma delas se apresenta cheia de vida exuberante e de personalidade!
Sibelius, como médium de delicada sensibilidade, sentia – se amargurado em face das limitações dos instrumentos orquestrais que impossibilitam o compositor de materializar o idealismo absoluto. E costumava dizer então, com profundeza filosófica, que na música, como na vida, havia toda a sorte de obstáculos à expressão efetiva das nossas ideias. E a orquestração, como a vida, é uma rude luta pela existência.
Os nossos melhores médiuns videntes sentem-se quase sempre embaraçados para descrever-nos, com fidelidade, as cenas que apreciam, em virtude da pobreza do nosso vocabulário e dos nossos conhecimentos científicos.
Sibelius transmitia o fluido vital, que do Espaço recebia, a cada nota de sua composição. Basta que se ouça qualquer música sua para se observar que cada nota, cada matiz de melodia tem um significado lógico definido.
Ninguém ignora que tudo se acha submetido à lei da evolução. Sibelius proporcionou-nos o indispensável traço de união entre o passado e o presente, numa unidade orquestral de vida orgânica.
Seu Espírito se apercebia perfeitamente que, com ‘o rolar dos dias e, consequentemente, com o evoluir das ideias e do sentir da alma, novos problemas surgiriam como a convidar o homem a prosseguir em sua luta em busca de maiores altitudes e de luzes mais diáfanas!
São de Sibelius estas palavras: «Sou um jovem de 75 anos.»
Sim, velho aprendiz que continua em suas experiências com a «matemática da escala», nesse afã de transmitir aos encarnados, como ele, aquilo que, como médium, escutavam, embevecidos, os seus ouvidos psíquicos.
Daí o reconhecer ele que «quanto mais velho o artista, maiores as exigências que faz a si mesmo … », em outras palavras, mais se pedirá a quem muito recebeu. Conforme o preceito evangélico.
Não ignorava, portanto, segundo afirmou, que a gente vive a tropeçar com problemas novos, novos, sim, porque ainda nos encontramos muito afastados da Verdade, que é Deus!
Fonte: Grandes vultos da humanidade e o espiritismo.