Autora: Christina Nunes
Algumas vezes durante minha atual jornada planetária sonhei com Jesus. Foram sempre sonhos lindos!
O último aconteceu há alguns dias, de conteúdo maravilhoso quanto simbólico. Nele, me surgia à visão do espírito o cume do monte calvário, onde se notava uma multidão turbulenta como a que cercava há dois mil anos o cruzeiro do sacrifício; e via-se Jesus… Um Jesus sorridente!…
Isto. Difícil descrever-lhe adequadamente a beleza indizível das feições com o pobre vocabulário terreno! A irradiação magnética indescritível a partir daquele sorriso único! Jesus, naquela visão, vestido numa túnica branca, tocava um instrumento musical qualquer e cantava! Como se em celebração com a curiosa multidão em torno. E como que volteava passos leves, ao ritmo daquele indefinível instrumento. E, enquanto o fazia, dirigia a palavra, em dada altura, a quem se colocava próximo, por detrás dele: Judas.
Não percebia na visão o que Judas lhe dizia, mas ouvi nitidamente o que Jesus, com o mesmo sorriso encantador, lhe devolvia em resposta:
– Você só fez querer murar o que vai sempre se expandir!…
Impossível descrever para o leitor a felicidade perene refletida no rosto do Nazareno ao falar assim, olhando para seu interlocutor como o mais confraterno de seus irmãos – um sorriso pleno, encantador, iluminando-lhe o semblante ao proferir essas palavras, no mínimo, dotadas de profundo significado! Porque, se o que pretendeu o Judas histórico ou apostólico – não cabe aqui esta distinção – foi realçar a majestade de seu Mestre, que queria equivocadamente dentro da transitoriedade das expressões materiais, ou se se deixou ele, por fraqueza, arrastar pela tentação nefasta da delação, a fim de atender aos interesses do poder religioso e político vigentes na Jerusalém daqueles tempos, o fato é que, ao deitar em Jesus o beijo ímpio da traição, mais não mobilizava do que tentar “murar o que vai sempre se expandir“, ou seja, um esforço para se conter o sopro do espírito humano, em estado de evolução constante, dentro de um copo ou garrafa! Para controlar; aprisionar aquele tipo de poder atemporal que não se alcança nem se conquista senão com as vitórias sucessivas do espírito em avanço pelas vias das vivências e agruras que atrai a si, por imprevidência, através da eternidade, até afinal fazer irradiar de si mesmo, perenemente, o brilho crescente de sua iluminação interior!
Por causa deste sonho estive refletindo nestes dias que o Jesus de hoje – leia-se o Jesus com a evolução conotativa de sua mensagem para os povos da atualidade, senão tão modificados após dois mil anos nas mesmas falhas involuídas nas quais reincidem em decorrência da sua frouxa capacidade amorosa para com a Vida, ao menos, algo transformados em termos de possibilidade de compreensão melhor de certas coisas, por força das vivências e sofrimentos milenares durante as suas vidas sucessivas – este Jesus já poderia ser compreendido por muitos como um outro! Um que entendemos de uma premissa muito mais madura e fidedigna do que a outorgada pela noção sombria dAquele que foi flagelado conscientemente para redenção de nossos pecados, a partir do que, no entanto, nos tornamos eternamente ainda mais endividados pela suprema crueldade a que O sujeitamos a partir do nosso perfil bárbaro, ostentado nos tempos findos.
Penso num Jesus definitivamente descido do madeiro e eternamente redivivo – como, aliás, já o era, anteriormente à sua passagem luminescente no obscuro chão planetário de há dois milênios! Um Jesus que, como o da bela gravura exibida neste texto, nos fala a partir de nossa liberdade plena aliada a um luminoso potencial criativo, infinito e inerente a cada um, destinado a embelezar e a enriquecer sobremaneira a vida na Terra pelos caminhos da eternidade!
Há alguns dias assistia na TV a uma entrevista interessantíssima com líder empresarial bem-sucedido na área humana e de motivação de pessoal, palestrante aclamado no país e no exterior. Fazia ênfase durante o programa na importância da estratégia do elogio, afiançando, com base na vasta trajetória de experiências que comprovaram suas teses:
– O indivíduo tende a reincidir, no seu comportamento, naquilo que pelos outros é o mais realçado. Se você só aponta no funcionário as suas eventuais falhas, o empurrará para uma crise de autoestima que o condicionará de maneira negativa. Se nunca se enfatiza os acertos e só se repreende os erros, o ser humano tenderá a refletir como num espelho esta imagem de si mesmo, repetindo-os, e esta referência externa equivocada o lançará em sérias dificuldades para identificar suas potencialidades e agir com base nelas, realizando-as efetivamente na produtividade ideal!
Dizia, mais ou menos nestes termos, mas a ideia não poderia ser mais cristalina, comprobatória em seus próprios fundamentos. Afinal, todo profissional de educação bem formado sabe que no processo educativo de uma criança é imprescindível o elogio, o realce das qualidades em estado ostensivo ou latente…, sob o risco de, em se fazendo peso exclusivo somente nos enganos e equívocos de comportamento, arruinar-se a segurança e a autoconfiança do adulto de amanhã, onde se verá em sérias dificuldades de socialização e de participação na construção de um mundo melhor, tanto para si mesmo, quanto para os demais seres.
Pois é neste sentido que entendo ser urgente um Jesus de hoje, que sem sombras de dúvidas seria um Jesus sorridente! Que adentraria o recinto sagrado de nossos lares para conversar sem afetação sobre dificuldades contemporâneas, individuais ou coletivas, do nosso âmbito privativo ou social, mas, sobretudo, apontando com incomparável autoridade espiritual nossos recursos íntimos de superação; nossas potencialidades e valores insuspeitados para a resolução a contento de todos os problemas, do aparentemente mais insignificante relacionado ao nosso cotidiano, até ao mais importante, envolvendo os conflitos entre as nações!
Um tal Jesus – diga-se, mais fidedigno a si mesmo! – nos diria de forma contextualizada para a modernidade e em termos adequados para o nosso, agora que somos feitos, sim, “à imagem e semelhança de Deus“, pois que dotados daquela Luz que tende a se expandir, equanimente, em cada qual em jornada pelo mundo, no tempo certo para cada indivíduo!
Paz na Terra aos homens de boa vontade!
Vontade! Eis aí, talvez, a nossa palavra-chave! Porque sem esta vontade alinhada aos objetivos maiores e mais sublimes da Vida, reflexo certo da Vontade do Criador, do qual somos sem sombra de dúvidas pequeninas subestações, demorará muito a chegarmos às melhores realizações de potencialidades em germe, das quais somos dotados!
Um Jesus que nos ensinaria definitivamente a deixar para trás a inutilidade das reminiscências do madeiro martirológico e respectivas culpas eternas, que de fato não existem, a partir de cada momento individual de reformulação própria!
Um Jesus interessado, antes, em nos auxiliar na prática da ressurreição diária a partir de nós mesmos; nas descobertas de luz e de qualidades íntimas!
Um Jesus que canta e sorri. Um Jesus que dança. Um Jesus feliz!
Pois que Jesus é feliz! E sabe que o nosso destino repousa em idêntica felicidade!
O consolador – Ano 5 – N 250